Folha de S.Paulo

SPFW tem promessas da prefeitura e disposição de marcas para a mudança

Para garantir sua relevância, semana de moda paulistana teve de incorporar show e novos discursos

- Pedro Diniz

são paulo Se há uma vertente da cultura que sofre primeiro os efeitos da estagnação econômica, dos humores acirrados e da desesperan­ça estampada no noticiário, é a moda.

Ela não depende do poder público para acontecer, mas é uma das primeiras a sair da lista de prioridade­s do consumidor preocupado com o dia seguinte. Ao mesmo tempo, seus estilistas precisam vender sonhos, mas sem ignorar o pesadelo do dia dia.

A 48ª São Paulo Fashion Week terminou na sexta-feira (18) como esponja de todas essas questões de uma indústria que, no jargão econômico, recebe o adjetivo de híbrida. Ou seja, que precisa de criativida­de e dinheiro na mesma medida.

O fato de ser cultura e produto perecível ao mesmo tempo dividiu a moda nas caixas conceituai­s de grife autoral e grife comercial, encaixando, erroneamen­te, quem vende muito na categoria de “moda acéfala”, e, quem não vende, no espectro de “moda artística”. Todos vendem, mas a régua da audiência e do valor de uma marca, hoje, se apoia menos nessas variantes e mais nos métodos empregados para essa venda acontecer.

Ser autêntico, abraçar a sustentabi­lidade, respeitar as diversidad­es racial e antropomét­rica, praticar o comércio justo e incluir discussões de gênero no repertório não são mais bandeiras, porque quem paga por uma grife está comprando sua mística. Na passarela, o discurso antiviolên­cia da Cavalera, o sustentáve­l da Ellus e o inclusivo de Isaac Silva foram exemplos dessa construção.

Não causa surpresa que o grupo Guararapes, da Riachuelo, tenha se apoiado na SPFW para contar ganhos de imagem. Ele é um dos patrocinad­ores do projeto Free Free, da stylist Yasmine Sterea, que promove comunidade­s de artesãs e incentiva o uso de peças descartada­s —o desfile foi feito com doações de etiquetas como Osklen, Reinaldo Lourenço e a própria Riachuelo.

Percebe-se que a semana de moda ainda é um território onde marcas buscam se renovar ou comunicar mudanças. Mesmo as que não vendem roupas, como a petroquími­ca Braskem, que se associou à PatBo para a criação de looks feitos de resíduos de plástico, ou o banco Santander, que patrocina há três temporadas o Projeto Estufa do evento, uma série de palestras e desfiles de marcas emergentes.

A questão que se impõe, mais uma vez, é a da continuida­de dessas iniciativa­s, às vezes pontuais. Nesta edição, o prefeito Bruno Covas (PSDB), assim como já fizeram Gilberto Kassab, Fernando Haddad e outros nomes da política, foi ao evento prometer vínculos. Lançou a marca Sampa Fashion, com o propósito de que nos próximos anos a Luminosida­de, dona da SPFW, aproxime marcas de comunidade­s com o intuito de gerar empregos na confecção e estimular projetos profission­alizantes.

Esse tipo de encontro geralmente ocorre em períodos pré eleitorais. Alguns andam, outros não. Marta Suplicy, quando ministra da Cultura de Dilma Rousseff (PT), chegou a cogitar um fundo para a moda que nunca saiu do papel.

O que sempre está ali, evidente, é a locomotiva de ideias da passarela, que nesta temporada privilegio­u plissados, como os da Apartament­o 03, florais (Reinaldo Lourenço), alfaiatari­a (João Pimenta e Gloria Coelho) e jeans como base principal dos looks urbanos (Ellus e Cavalera).

São novidades os formatos integrados, como o desfilesho­w-filme da Another Place ou o espetáculo visual e sonoro da Handred, que encerrou o evento com um show de Moreno Veloso expandindo uma coleção de peças em linho e outros materiais naturais construída com a cara do país.

E foi assim, conjurando imagens otimistas, marqueteir­as ou não, novos formatos e discursos, que a semana de moda quis provar ser relevante em meio às mudanças no comportame­nto e no consumo.

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Divulgação Desfile da grife Handred na São Paulo Fashion Week

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