Folha de S.Paulo

Nem insultar Weintraub sabe

Para que outra coisa serve o Twitter?

- Ricardo A. Pereira

Quando se soube que o ministro da Educação do Brasil tinha xingado cidadãos no Twitter, o caso gerou uma indignação totalmente injustific­ada. Mas não era verdade que o ministro tinha xingado gente no Twitter? É claro, mas para que outra coisa serve o Twitter?

Se o ministro da Educação tivesse sido pedagógico, conciliató­rio ou amável no Twitter —aí sim, podíamos estar diante de um delito grave. Não, o problema

não foi o fato de o ministro xingar cidadãos, foi o fato de os xingamento­s serem tão fracos.

Quando alunos do ensino fundamenta­l xingam com mais qualidade do que o ministro da Educação, percebemos que o sistema tem falhas graves. A um dos usuários o ministro acusou de ser feio, por amor de Deus. A outro, chamou de babaca. São xingamento­s tão fracos que merecem ser xingados. O ministro quis ofender e, manifestam­ente, não conseguiu —o que prova que até para ser mal formado é preciso ter formação.

O insulto mais infeliz de todos foi produzido quando uma usuária afirmou que, num eventual regresso do Brasil à monarquia, o ministro seria o bobo da corte. Weintraub respondeu: “Uma pena, prefiro cuidar dos estábulos, ficaria mais perto da égua sarnenta e desdentada da sua mãe”.

Creio que o problema é óbvio. Um deficiente domínio da língua portuguesa fez com que o ministro da Educação perdesse o debate. Por maldade, queria insultar; por burrice, saiu insultado. Mostrou falta de educação e falta de educação.

Vamos analisar essa péssima ofensa. Respondend­o à cidadã, Weintraub lamenta que, caso o país voltasse a ser uma monarquia, ele fosse nomeado bobo da corte. O sonho dele era cuidar dos estábulos, para cuidar da “égua sarnenta e desdentada da sua mãe”. Portanto, numa eventual monarquia brasileira, a mãe da sua adversária seria proprietár­ia de uma égua sarnenta e desdentada. Mais: a égua da mãe da cidadã viveria no estábulo real.

Ora, em princípio, só à rainha seria permitido o capricho de manter uma égua sarnenta e desdentada no estábulo real. Provavelme­nte por ser uma soberana bondosa e humana, não tinha mandado abater a égua, e incumbira Weintraub de cuidar dela todos os dias. Ou seja, o que o ministro disse à sua interlocut­ora foi: num Brasil monárquico eu não seria o bobo da corte, não. Seria o moço da cavalariça da sua mãe, a admirável rainha. Nem insultar sabe.

| dom. Ricardo Araújo Pereira | seg. Claudia Tajes | ter. Manuela Cantuária | qua. Gregorio Duvivier | qui. Flávia Boggio | sex. Renato Terra | sáb. José Simão

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Luiza Pannunzio

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