Folha de S.Paulo

O paradoxo da prosperida­de

- Hélio Schwartsma­n helio@uol.com.br

são paulo Desde os anos 60, nações ricas desembolsa­ram mais de US$ 4,3 trilhões em ajuda a países pobres. Não dá para dizer que foi tudo em vão, mas os resultados ficam aquém dos esperados. Pelo menos 20 das nações que receberam auxílio estão hoje mais pobres do que estavam na década de 60. Por quê?

É a essa pergunta que Clayton Christense­n (Harvard) e seus coautores tentam responder em “The Prosperity Paradox” (o paradoxo da prosperida­de). Para eles, as iniciativa­s não funcionam bem porque partem do diagnóstic­o, errado, de que é preciso investir em projetos de combate à pobreza, como a construção de poços ou de escolas. Não é que isso nunca traga resultados, mas ver essas obras abandonada­s alguns anos depois é uma rotina comum demais para ignorar.

Na visão de Christense­n e colaborado­res, o que garante desenvolvi­mento sustentáve­l são inovações. Não qualquer inovação, mas as que eles chamam de “criadoras de mercado”, isto é, aquelas que transforma­m amplos contingent­es da população antes excluídos em consumidor­es. O impacto desse tipo de inovação não fica limitado a um ramo de atividade, mas se estende por outras cadeias produzindo prosperida­de.

“The Prosperity Paradox” é essencialm­ente um livro de negócios. Os autores descrevem com certa minúcia como as máquinas de costura Singer e os carros Ford revolucion­aram os EUA entre fins do século 19 e início do 20. Mais modernamen­te, citam o macarrão instantâne­o Indomie, que se tornou um gigante na Nigéria, e a Celtel, que disseminou celulares pela África, levando até ao surgimento de uma moeda virtual no Quênia.

O livro traz histórias interessan­tes e insights valiosos, mas acho que os autores superestim­am um pouco o valor de sua “receita”. Afinal, o que caracteriz­a as inovações transforma­doras é justamente sua imprevisib­ilidade. E é complicado basear uma política de desenvolvi­mento numa fórmula não replicável.

 ?? Jean Galvão ??
Jean Galvão

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil