Folha de S.Paulo

Woody livre

- Ruy Castro

rio de janeiro “Um Dia de Chuva em Nova York”, de Woody Allen, entrou em cartaz no Brasil. Ótima notícia. O filme estava engavetado por sua produtora, a Amazon, desde que Dylan Farrow, filha adotiva de Woody com Mia Farrow, ressuscito­u a acusação de que ele a molestou em 1992, quando ela tinha seis anos. A acusação original —nunca comprovada— partiu de Mia, ao descobrir que Woody tinha um caso com outra de suas filhas adotivas, Soon-Yi, então com 21 anos. Por causa disso, “Um Dia de Chuva...” foi condenado ao ineditismo, e Allen, impedido de trabalhar —a indústria, temendo boicote, hesitava em se associar a ele.

Tudo indicava que o poder econômico conseguiri­a silenciar um artista de 84 anos que, nos últimos 49 anos, lançou 48 filmes, entre os quais alguns dos maiores do cinema. Por sorte, a “indústria” não se limita mais aos EUA. Woody talvez continue de mãos atadas em seu país, mas, agora, os europeus quebraram o gelo. Seu filme já foi exibido na Polônia, na Itália,

na França e tem estreia marcada em mais 20 países. E os produtores do continente já lhe possibilit­aram fazer um novo filme, “Rifkin’s Festival”, rodado na Espanha.

Tudo isso coincide com novas revelações sobre Mia, sua ex-companheir­a e mãe de 14 filhos, dos quais 10 adotivos. Alguns desses não a têm em alta conta como mãe. Soon-Yi, com quem Woody começou um relacionam­ento consensual em 1991 e estão juntos até hoje, relatou que Mia a agredia fisicament­e e às outras crianças. O que foi confirmado por outro filho, o agora terapeuta familiar Moses, 41 anos: “Tapas e socos eram comuns”.

Moses lamenta o destino de alguns de seus irmãos. Segundo ele, Thadeus, paraplégic­o, foi trancado na rua por Mia como castigo e se matou anos depois; Tom, vítima de grave depressão que Mia se recusou a tratar, também se matou; e Lark caiu na droga.

Pelo visto, foi Woody quem escapou por pouco de Mia Farrow.

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