Folha de S.Paulo

Discurso sobre protagonis­mo petista aprofunda racha de siglas à esquerda

Movimentaç­ão tem potenciais parcerias de outras legendas com partidos à direita, como o DEM

- João Pedro Pitombo

salvador A saída do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva da prisão e seu discurso em defesa de um protagonis­mo do PT aprofundou o fosso entre os principais partidos de esquerda e tornou ainda mais distante um possível cenário de unificação de candidatur­as nesse campo já nas eleições de 2020.

Enquanto os petistas movimentam-se para lançar candidatos próprios nas principais capitais do país, potenciais aliados como PDT e PSB articulam um caminho independen­te e dialogam com partidos mais ao centro.

A movimentaç­ão inclui um acordo nacional com PV e Rede para o lançamento de candidatur­as únicas nas maiores capitais e potenciais parcerias com partidos mais à direita, como DEM e PSDB.

“É uma conversa nacional. A gente quer construir uma alternativ­a fora do ódio de Bolsonaro ao PT e do PT a Bolsonaro. Construir um projeto para o Brasil e para os municípios”, afirma o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi.

A ideia inicial é uma articulaçã­o PDT, PSB, Rede e PV para lançar candidatur­as unificadas nas maiores capitais e, a partir dessa experiênci­a, buscar uma candidatur­a unificada no campo da centro-esquerda para 2022.

Ao mesmo tempo, o PDT abriu conversas com o DEM em Salvador, e a tendência é que os dois partidos estejam juntos na sucessão do prefeito ACM Neto.

Para isso, os pedetistas vão assinar a ficha de filiação do secretário da Saúde da capital baiana, Leonardo Prates, um dos aliados mais próximos de Neto, que é presidente nacional do DEM. Oficialmen­te, o PDT diz que Prates será candidato a prefeito, mas a tendência é que ele saia como vice de Bruno Reis (DEM).

Em Fortaleza, o PDT já é aliado do DEM e agora ensaia uma reaproxima­ção com o PSDB do senador Tasso Jereissati. O tucano está afastado dos irmãos Ciro e Cid Gomes desde 2004 e vinha disputando eleições no campo da oposição.

Nos dois casos, o objetivo do PDT é ampliar o arco de alianças para consolidar o nome do presidenci­ável Ciro Gomes como uma opção mais ao centro na eleição de 2022.

Segundo Lupi, caso queira ser competitiv­a, a centro-esquerda deve buscar alianças com setores do capital produtivo: “O DEM não é mais aquela partido sectário, de direita. O PSL ocupou esse lugar”.

O próprio Ciro Gomes tem apontado esse caminho ao elogiar publicamen­te o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-R|J), e reforçar suas críticas ao expresiden­te Lula.

O PT, por sua vez, começa a se debruçar sobre possíveis candidatur­as em 2020 em seu 7º Congresso Nacional, que acontece neste fim de semana em São Paulo.

No primeiro ato partidário após deixar a prisão no dia 8, Lula afirmou em Salvador que o PT “não nasceu para ser um partido de apoio” e reforçou que a legenda deve defender nas urnas o legado de seus mandatos na Presidênci­a.

Para o senador Jaques Wagner (PT-BA), o partido deve buscar uma unidade possível no campo da esquerda. Ele destaca, contudo, que, em uma eleição municipal, as realidades locais se impõem.

“É óbvio que eu sempre vou defender a ampliação do campo social, dos partidos que são visceralme­nte contra o que representa esse governo que está aí [Bolsonaro]. Mas nem sempre é possível, os partidos têm legitimida­de para escolher seus candidatos”, afirma.

Das dez maiores capitais, o PT tende a abrir mão da cabeça da chapa em apenas duas: no Rio, onde deve apoiar o deputado federal Marcelo Freixo (PSOL), e em Porto Alegre, onde tende a aliar-se a Manuela D’Ávila (PC do B), que foi vice do presidenci­ável Fernando Haddad (PT) em 2018.

Nas capitais menores, há possibilid­ade de apoio ao PC do B em Aracaju, onde o prefeito Edvaldo Nogueira disputará a reeleição, e em São Luís, onde o deputado federal Rubens Pereira Júnior deve concorrer com o apoio do governador Flávio Dino (PC do B). Ainda são considerad­as alianças com o PSOL em Belém e Florianópo­lis.

Na maioria da capitais, contudo, a tendência é de um racha, com mais de uma candidatur­a na esquerda. Em São Paulo, por exemplo, pode chegar a quatro o número de postulante­s nesse campo.

O candidato considerad­o mais competitiv­o é ex-governador Márcio França (PSB), que teve um bom desempenho na eleição para o governo do estado em 2018 e busca traçar uma trajetória distante dos petistas.

O PT, por sua vez, cita Paulo Teixeira, Carlos Zarattini ou Jilmar Tatto como possíveis candidatos, mas o ex-presidente Lula fez acenos a uma nova candidatur­a de Marta Suplicy, que se desfilou do partido em 2015, foi para o MDB e agora está sem legenda.

Enquanto isso, o PSOL articula a candidatur­a de Guilherme Boulos ou Sâmia Bonfim à prefeitura, e o PC do B lançou a pré-candidatur­a do deputado federal Orlando Silva.

O mesmo deve acontecer no Rio de Janeiro. Enquanto PT e PSOL devem se unir em torno de Freixo, PDT, PSB, Rede e PV formaram um bloco independen­te e devem disputar com Martha Rocha (PDT) ou Alessandro Molon (PSB).

No Recife, a tendência é uma divisão entre PSB e PT, a despeito de os dois partidos terem voltado a se aliar nas eleições de 2018.

Os pessebista­s devem lançar o deputado federal João Campos, filho do ex-governador Eduardo Campos, morto em 2014, como candidato à sucessão do prefeito Geraldo Julio (PSB). Pelo PT, a pré-candidata é a deputada Marília Arraes, prima de Campos e neta do ex-governador Miguel Arraes.

Ao visitar o Recife no último domingo (17), Lula almoçou com João Campos e jantou com Marília Arraes. Publicamen­te, não declarou apoio a nenhum dos dois.

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João Alvarez/Fotoarena/Folhapress Manuela D’Ávila (PC do B), que deve ser candidata à Prefeitura de Porto Alegre, e Marcelo Freixo (PSOL), que se lançará no Rio; ambos terão apoio do PT
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João Albert - 22.abr.19/Futura Press/Folhapress

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