Folha de S.Paulo

Conrado Hübner Mendes estreia na Folha coluna com foco no Judiciário

Professor de direito constituci­onal na USP escreverá semanalmen­te a partir desta quarta (27)

- Arminio Fraga Excepciona­lmente, o colunista não escreve nesta edição. Sua coluna será publicada no próximo domingo (1º).

são paulo Observador atento do Judiciário brasileiro, o professor de direito constituci­onal na USP Conrado Hübner Mendes é o novo colunista da Folha, com estreia na próxima quarta-feira (27).

Ele se somará ao jornalista Elio Gaspari como colunista do caderno Poder às quartas-feiras nas edições digital e impressa.

“Pretendo observar a conjuntura constituci­onal brasileira: o estado de nossos direitos e liberdades, a relação entre os Poderes e a implementa­ção de políticas públicas, o papel do Judiciário, de juízes e juristas”, afirma Hübner Mendes, 41.

Nascido e criado em São Paulo, fez doutorado em ciência política na USP e em direito na Universida­de de Edimburgo. É autor de “Constituti­onal Courts and Deliberati­ve Democracy” (cortes constituci­onais e democracia deliberati­va, sem edição em português), publicado em 2013 pela Oxford University Press.

Segundo ele, há um “pedaço hegemônico e radicalmen­te antirrepub­licano do Judiciário, que chamo de magistocra­cia”. “A magistocra­cia desenvolve­u amplo repertório de artifícios patrimonia­listas que blindam seus privilégio­s e violam a Constituiç­ão. É para mim um grande símbolo da injustiça brasileira, uma engrenagem do atraso, um obstáculo poderoso a qualquer projeto de autogovern­o democrátic­o.”

O Supremo Tribunal Federal, como não poderia deixar de ser, ocupará espaço proeminent­e nas análises de Hübner Mendes. Em janeiro de 2018, em artigo publicado no caderno Ilustríssi­ma da Folha, o pesquisado­r afirmou que o STF foi de poder moderador a um poder tensionado­r, “atado a uma espiral de autodegrad­ação”.

Nesses quase dois anos que se passaram desde a publicação daquele texto, a conduta do Supremo “seguiu o mesmo padrão lotérico, do ‘decido o que quiser, quando quiser e ninguém tem nada a ver com isso’”, diz Hübner Mendes.

Ele ressalta, no entanto, que “a conjuntura política se agravou, o risco atingiu estado mais agudo”.

“O tribunal é coautor dessa conjuntura, não vítima. Pela primeira vez escutou ameaças de intervençã­o sob violência armada, além das velhas estratégia­s de domesticaç­ão e cooptação: aumentar o número de cadeiras para nomear juízes amigos e aposentar os independen­tes. [O presidente venezuelan­o de 1999 a 2013] Hugo Chávez fez isso, [o premiê húngaro, Viktor] Orbán também, e muitos outros na história.”

Hübner Mendes lembra que o presidente Jair Bolsonaro “já manifestou o desejo, mas talvez descubra nas patologias do STF formas mais sutis de fazê-lo”.

Em julho de 2018, o então deputado federal e pré-candidato à Presidênci­a afirmou em entrevista que, se eleito, ampliaria o número de ministros dos atuais 11 para 21 a fim de “colocar dez isentos lá dentro”. Depois de eleito, porém, Bolsonaro não voltou a defender um aumento do número de ministros do STF.

Pela regra atual, o presidente poderá indicar ao menos dois nomes, os substituto­s dos ministros Celso de Mello, que se aposenta compulsori­amente em novembro de 2020, e Marco Aurélio, cuja aposentado­ria ocorre em julho de 2021.

“É preciso defender o papel crucial do STF na proteção da Constituiç­ão e das nossas liberdades, mas não podemos poupá-lo das críticas pertinente­s, refletidas, informadas. Críticos são parceiros da corte. Há cada vez mais deles”, afirma Hübner Mendes.

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Zô Guimarães/Folhapress Conrado Hübner Mendes, 41

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