Folha de S.Paulo

Mudança de governo pode marcar guinada na política externa

- Sylvia Colombo

Talvez uma das mudanças mais significat­ivas que poderão ocorrer no Uruguai com Lacalle Pou será seu comportame­nto dentro da geopolític­a regional, em especial em relação à crise venezuelan­a.

Nos últimos anos, o Uruguai se recusou a apoiar sanções ou a pressionar mais duramente a cúpula do país caribenho.

Mais afinado com o México neste tema, e agora com a Argentina do presidente eleito Alberto Fernández, o Uruguai sob a gestão de Vázquez pregou o respeito à soberania venezuelan­a. Tampouco se refere ao regime de Nicolás Maduro como uma ditadura.

Se o vencedor da eleição for Martínez, ele já afirmou que essa posição não mudará.

Caso Lacalle Pou saia vitorioso, o candidato afirma que o Uruguai integrará o Grupo de Lima e respaldará a pressão do conjunto de países para que Maduro deixe o poder.

Já no Cone Sul, ainda está incerta qual seria sua relação com o governo brasileiro. Lacalle Pou se recusou a receber o apoio de Bolsonaro. “O Uruguai, por sorte, não decide o que os brasileiro­s pensam, decide apenas o que acontece e o que precisam os uruguaios”, disse o candidato à época.

Ainda assim, ideologica­mente, está mais alinhado ao brasileiro por ser a favor de flexibiliz­ar as regras de comércio do Mercosul com outros países.

Em relação ao futuro governo argentino, apesar das demonstraç­ões de preferênci­a pela candidatur­a de Martínez, Fernández não fez alarde do apoio. Questionad­o como seria a relação da Argentina com o Uruguai caso Lacalle Pou seja vencedor, Fernández disse que “nada mudará”.

Uma questão regional que deve seguir complicada é a situação na Bolívia. O atual governo não reconheceu a autoprocla­mada presidente Jeanine Añez. O chanceler de Vázquez, Rodolfo Nin Novoa, disse que era grave que o Congresso não tivesse aprovado, pelo voto, nem a renúncia de Evo Morales nem a posse de Añez.

Se o vencedor do pleito for Martínez, esse posicionam­ento deve ser mantido. Mas Lacalle Pou pode respaldar Añez. Afinal, é assim que pensa o colorado Ernesto Talvi, terceiro colocado na disputa do primeiro turno e que deve ser o chanceler de um provável governo de Lacalle Pou.

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