Mudança de governo pode marcar guinada na política externa
Talvez uma das mudanças mais significativas que poderão ocorrer no Uruguai com Lacalle Pou será seu comportamento dentro da geopolítica regional, em especial em relação à crise venezuelana.
Nos últimos anos, o Uruguai se recusou a apoiar sanções ou a pressionar mais duramente a cúpula do país caribenho.
Mais afinado com o México neste tema, e agora com a Argentina do presidente eleito Alberto Fernández, o Uruguai sob a gestão de Vázquez pregou o respeito à soberania venezuelana. Tampouco se refere ao regime de Nicolás Maduro como uma ditadura.
Se o vencedor da eleição for Martínez, ele já afirmou que essa posição não mudará.
Caso Lacalle Pou saia vitorioso, o candidato afirma que o Uruguai integrará o Grupo de Lima e respaldará a pressão do conjunto de países para que Maduro deixe o poder.
Já no Cone Sul, ainda está incerta qual seria sua relação com o governo brasileiro. Lacalle Pou se recusou a receber o apoio de Bolsonaro. “O Uruguai, por sorte, não decide o que os brasileiros pensam, decide apenas o que acontece e o que precisam os uruguaios”, disse o candidato à época.
Ainda assim, ideologicamente, está mais alinhado ao brasileiro por ser a favor de flexibilizar as regras de comércio do Mercosul com outros países.
Em relação ao futuro governo argentino, apesar das demonstrações de preferência pela candidatura de Martínez, Fernández não fez alarde do apoio. Questionado como seria a relação da Argentina com o Uruguai caso Lacalle Pou seja vencedor, Fernández disse que “nada mudará”.
Uma questão regional que deve seguir complicada é a situação na Bolívia. O atual governo não reconheceu a autoproclamada presidente Jeanine Añez. O chanceler de Vázquez, Rodolfo Nin Novoa, disse que era grave que o Congresso não tivesse aprovado, pelo voto, nem a renúncia de Evo Morales nem a posse de Añez.
Se o vencedor do pleito for Martínez, esse posicionamento deve ser mantido. Mas Lacalle Pou pode respaldar Añez. Afinal, é assim que pensa o colorado Ernesto Talvi, terceiro colocado na disputa do primeiro turno e que deve ser o chanceler de um provável governo de Lacalle Pou.