Folha de S.Paulo

Apontado como sucessor de Evo, sindicalis­ta lidera protestos na Bolívia

Andrónico Rodriguez, 30, afirma que renúncia de ex-presidente foi forçada e que policiais armados se infiltram em manifestaç­ões

- Flávia Mantovani

são paulo Ao lançar-se candidato à eleição em maio deste ano,EvoMorales­escolheupa­ra apresentá-lo à multidão uma liderança que vinha despontand­o em seu partido: Andrónico Rodriguez, que na época não tinha nem 30 anos —chegou a essa idade há poucos dias.

Vice-presidente das Federações de Cocaleiros de Cochabamba—presididas­porEvo—, é apontado como um de seus prováveis sucessores. Andrónico, que lidera protestos no país, falou à Folha por telefone.

* Quais são as reivindica­ções de vocês?

Queremos que Evo Morales termine sua gestão, que vai até 22 de janeiro de 2020. Sua renúncia foi forçada e planejada da maneira mais maliciosa. Ele foi colocado entre a espada e a parede.

E quanto às denúncias de fraude?

A contagem realmente paralisou, e o órgão eleitoral cometeu o erro de não se explicar. Tinha que repetir-se a eleição em algumas mesas, e Evo concordou, aceitou todos os pedidos da oposição. Mas eles não cederam nada.

Añez os acusa de protestar com violência. Vocês usam armas?

É tudo montado. Nossos companheir­inhos são revistados, aí do nada surge uma granada, um explosivo. Encontramo­s policiais infiltrado­s com armas nos atos, como se fossem manifestan­tes. É grave a forma como nos atacam.

O que aconteceu em Cochabamba, quando morreram nove manifestan­tes?

Era um protesto pacífico. Do lado dos policiais e do Exército não teve nenhum ferido. Por que houve tantos mortos do nosso lado? Eles dizem que disparamos contra nós mesmos. Isso é inconcebív­el.

Há quem diga que vocês obrigam os camponeses a marchar...

Totalmente falso. A mídia consegue um entrevista­do que diz que foi obrigado a ir, aí vamos ver e a pessoa nem é do lugar. O que acontece é que é preciso cumprir as decisões da maioria. Se somos cem afiliados em um bairro, e 90 decidem que vamos protestar, os dez que não estão de acordo também têm que ir.

Mesmo os que não querem?

Eles têm que respeitar a decisão da maioria. Isso não significa ditadura sindical. É a luta por uma causa comum.

Os bloqueios não castigam o próprio povo?

Lamentavel­mente afetam bloqueador­es e bloqueados. Mas é uma medida usada historicam­ente.

Você se considera sucessor de Evo, como dizem?

Não. Há muitos jovens que poderiam sucedê-lo. Sou um a mais.

Vai se candidatar nas eleições?

É decisão do partido [MAS, Movimento ao Socialismo, sigla de Evo]. Não queria assumir com um país tão tenso, mas não depende de mim.

Evo voltará ao país em curto prazo?

É o objetivo. Mas no momento não há condições.

 ?? 21.set.19/Evo Morales Ayma no Twitter ?? Andrónico Rodriguez, 30 Vice-presidente das 6 Federações de Cocaleiros do Trópico de Cochabamba, o cientista político apareceu ao lado de Evo Morales em atos públicos nos últimos meses; filho de dirigente sindical, é um dos líderes dos protestos contra a presidente interina Jeanine Añez
21.set.19/Evo Morales Ayma no Twitter Andrónico Rodriguez, 30 Vice-presidente das 6 Federações de Cocaleiros do Trópico de Cochabamba, o cientista político apareceu ao lado de Evo Morales em atos públicos nos últimos meses; filho de dirigente sindical, é um dos líderes dos protestos contra a presidente interina Jeanine Añez

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