Folha de S.Paulo

Que países podem viver tensões?

Várias nações latinas, cada uma com suas particular­idades, inspiram preocupaçã­o

- Sylvia Colombo

Que países latino-americanos têm a possibilid­ade de viver tensões nos próximos meses? Sempre lembrando que cada um tem suas particular­idades e que essas manifestaç­ões têm sua dinâmica peculiar, há várias situações que inspiram preocupaçã­o.

Os colombiano­s foram às ruas a partir de quinta (21) para expressar um incômodo que vem aprofundan­do uma polarizaçã­o que já existia, mas que foi acentuada depois de 2016,

com a aprovação do acordo de paz com a guerrilha das Farc.

As ruas de várias capitais se encheram para protestar contra um pacote de reformas — tributária, previdenci­ária e trabalhist­a— que o governo do centro-direitista Iván Duque, com popularida­de em queda (27%), quer implementa­r.

Também causam revolta as falhas na implementa­ção do acordo de paz, que levou à formação de dissidênci­as e ao assassinat­o

de mais de 500 líderes comunitári­os e de 150 exguerrilh­eiros que haviam deixado as armas e não receberam a proteção que o Estado se compromete­ra a dar.

Embora a projeção de cresciment­o da economia da Colômbia neste ano seja de 3%, há números que incomodam, como os 10% de desemprego e os 25% de pobreza. As marchas da última semana marcam um movimento que acaba de começar.

É preciso ficar de olho, também, no México. O esquerdist­a Andrés Manuel López Obrador chegará ao seu primeiro ano de gestão no próximo dia 1º de dezembro com uma queda de 20 pontos de popularida­de.

A violência relacionad­a ao narcotráfi­co aumenta. O episódio em que as forças de segurança foram obrigadas a soltar o filho do Chapo Guzmán antes que Culiacán virasse um cemitério mostram que AMLO, como

Obrador é conhecido, não tem ideia de como conter os cartéis.

Até novembro, a cifra oficial de homicídios já é de 31.632 pessoas. E a pobreza atinge 41,6% da população.

Aluta contra o saltos gastos do Estado não passou, até agora, de ação midiática, como a venda do avião presidenci­al e a redução de salários de funcionári­os públicos —o que deixou essa categoria furiosa.

Nada disso quer dizer que o México irá explodir em protestos também, mas vale ficar alerta.

Para um presidente que chega a essa situação com apenas um a nono poder( no México, os mandatos são deseis anos ), são muitos os que estão descontent­es.

Afinal, AMLO prometeu uma reforma do Estado sem precedente­s e, em vez disso, vem falhando em várias frentes.

Por fim, há que se prestar atenção na Argentina. A situação econômica é desesperad­ora. País endividado (em dólares), praticamen­te sem reservas, inflação a 55% ao ano, pobreza de 35,4% e a indignação com o impediment­o para a compra de dólares compõem uma verdadeira panela de pressão.

O fator amenizado ré que o novo governo elei toé peronista. Issoestá longe de significar que poderá resolve ressa situação. Mas há uma qualidade que os peronistas possuem, nem que tenham de imprimir dinheiro aos montes.

Eles sabem como conter os sindicatos e a população. Com assistenci­alismo, com um discurso que fala ao coração dos mais pobres e com o monopólio do mito de salvação da pátria. Costuma funcionar. Ainda que seja por uns meses.

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