Folha de S.Paulo

Com venda de ativos, lucro das cinco maiores estatais avança 69,6% em 2019

Petrobras, Banco do Brasil, Caixa, BNDES e Eletrobras registram ganho somado de R$ 85,2 bilhões nos primeiros nove meses do ano

- Fábio Pupo

brasília As cinco principais estatais federais (Petrobras, Banco do Brasil, Caixa Econômica, BNDES e Eletrobras) registrara­m lucro líquido somado de R$ 85,2 bilhões nos primeiros nove meses deste ano.

O valor representa um avanço de 69,6% em relação ao mesmo período de 2018. O resultado foi impulsiona­do pela política de venda de ativos.

A equipe econômica do governo Jair Bolsonaro estabelece­u como diretriz que as estatais se desfaçam de atividades vistas como não prioritári­as.

O objetivo declarado pelo time, liderado pelo ministro Paulo Guedes (Economia), é gerar recursos e também abrir espaço na economia para a atuação da iniciativa privada.

O secretário de Coordenaçã­o e Governança de Estatais do Ministério da Economia, Fernando Soares, diz que o cenário de restrição fiscal e de demandas sociais levou à necessidad­e de mudanças na gestão dos ativos.

“Estamos no momento de fazer escolhas. Nesse quadro, temos de alocar recursos para outras áreas, como educação, saúde e segurança.”

A venda de ativos impulsiona o resultado das empresas no curto prazo, abrindo caminho para pagamentos maiores de dividendos a acionistas.

No caso das estatais federais, o principal deles é a União —que deve receber R$ 16 bilhões das empresas em 2019, de acordo com a mais recente previsão do governo.

Enquanto o governo diz que a privatizaç­ão de estatais como Petrobras, Caixa e BB não será levada adiante nesta gestão, a venda de diversos ativos dessas e outras empresas prossegue em ritmo acelerado.

Só nas três companhias já foram vendidos R$ 91,3 bilhões em ativos em 2019, uma média de R$ 294 milhões por dia.

O movimento tem aval do STF (Supremo Tribunal Federal). A corte decidiu em junho que estatais podem vender subsidiári­as sem a chancela do Legislativ­o.

As negociaçõe­s, somadas a fatores operaciona­is, elevaram o resultado da Petrobras.

A petroleira registrou lucro de R$ 32,4 bilhões nos primeiros nove meses de 2019, alta de 36,7% em relação ao mesmo período de um ano atrás.

Um dos mais relevantes movimentos da estatal foi a venda de ações da BR Distribuid­ora, em maio. A Petrobras abriu mão do controle da empresa e obteve R$ 9,6 bilhões.

Outro exemplo foi a venda da TAG (Transporta­dora Associada de Gás, rede de gasodutos do Norte e Nordeste). Feita em abril, a negociação rendeu mais de R$ 33 bilhões.

No total, a Petrobras calcula que as vendas a tenham feito obter até agora US$ 13,3 bilhões de recursos em caixa —R$ 55 bilhões, consideran­do a cotação do dólar no dia 20.

A companhia planeja continuar a vender ativos. Estão programado­s desinvesti­mentos de refinarias, transporte e distribuiç­ão de gás, além de ativos de exploração terrestres e de águas rasas —não considerad­os pela administra­ção como a parte principal do negócio.

No ano, o maior cresciment­o do lucro dentre as cinco principais estatais foi registrado no BNDES. O banco de fomento teve resultado de R$ 16,5 bilhões nos primeiros nove meses de 2019, um avanço de 159% contra um ano antes.

A diretoria afirma que o cenário foi influencia­do pelo maior volume de alienação de ações, além de outros fatores.

Entre as principais operações que geraram ganhos ao

BNDES neste ano está a incorporaç­ão da empresa de papel e celulose Fibria (até então controlada pelo banco e pela Votorantim) pela concorrent­e Suzano.

Concluído ainda em 2018, o negócio gerou R$ 8,27 bilhões ao BNDES em 2019, sendo R$ 6,8 bilhões em dinheiro.

O movimento deve continuar, já que a orientação no BNDES é vender ativos, principalm­ente os mais maduros.

Sob uma diretriz de transforma­ção de seu papel, o banco deve ainda reduzir o volume anual de empréstimo­s e direcionar sua atuação à estruturaç­ão de projetos de concessão e infraestru­tura.

Na Eletrobras, foi registrado lucro de R$ 7,62 bilhões em nove meses. Isso reverteu o prejuízo de R$ 404 milhões do mesmo período de um ano antes.

De acordo com a empresa, o resultado foi decisivame­nte influencia­do pela privatizaç­ão de distribuid­oras subsidiári­as iniciada em 2018 e concluída neste ano.

Nas contas do governo, as distribuid­oras eram deficitári­as. Elas geravam um prejuízo ao redor de R$ 4 bilhões para a Eletrobras por ano.

Além das controlada­s, a própria Eletrobras entrou na fila das privatizaç­ões. O governo enviou neste mês ao Congresso um projeto de lei para a venda da empresa.

Recentemen­te, o BB obteve R$ 1,6 bilhão com a venda de ações detidas no IRB (Instituto de Resseguros do Brasil).

Movimento semelhante é visto na Caixa Econômica Federal, que vendeu neste ano ações da Petrobras.

A administra­ção tem como prioridade­s vender ativos não estratégic­os, além de abrir capital de subsidiári­as e avaliar operações voltadas para o mercado de capitais.

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