Folha de S.Paulo

Programa está fora da reforma agora, e cesta básica pode gerar repasse

- AESP

são paulo Embora o Simples seja o benefício com maior impacto no Orçamento federal, ele deve ficar de fora da reforma tributária numa primeira etapa, segundo Vanessa Rahal Canado, assessora especial do ministro da Economia, Paulo Guedes.

Secretária-executiva do grupo que desenha os projetos de reforma no Ministério da Economia, a advogada considera que o sistema é hoje ineficient­e, mas só deve ser objeto de estudo depois que as outras alterações estiverem concluídas.

“Um dos principais motivos de existência do Simples é justamente a complexida­de do nosso sistema”, afirma Vanessa.

“Com a tributação indireta como está hoje, é impossível uma empresa que fatura R$ 4,8 milhões apurar”, diz a secretária-executiva.

O primeiro passo, portanto, será “entregar um sistema regular acessível”, para depois integrar a ele empresas menores.

Segundo estudo da Consultori­a Legislativ­a da Câmara, o chamado gasto tributário (renúncia de arrecadaçã­o) com o Simples deve ser de R$ 306,40 bilhões neste ano.

O número total correspond­e a 4,12% do PIB e a 21,05% das receitas administra­das pela Receita, segundo os autores.

Outro gasto que deve escapar da reforma tributária no curto prazo é o dos incentivos regionais —como a Zona Franca de Manaus, cujas empresas deixam de pagar cerca de R$ 25 bilhões em tributos por ano— e setoriais, como os concedidos à indústria automobilí­stica no programa Rota 2030.

Segundo Vanessa, como esses incentivos exigem como contrapart­ida investimen­tos de longo prazo, mudanças exigem uma transição mais longa e mais bem planejada.

Dentre os gastos tributário­s, uma das principais mudanças em estudo é a da desoneraçã­o da cesta básica. A ideia é acabar com a isenção, mas compensar a cobrança de tributos com um reembolso mensal direto às famílias mais pobres.

Segundo Vanessa, isso é mais fácil de implantar no Brasil que em outros países, porque já existe o cadastro único das pessoas de baixa renda. “Vai custar muito mais barato, porque é focalizado, e será muito mais eficiente.”

Ainda não está definido como seria calculado o valor do dinheiro devolvido, mas uma ideia é fazer por estimativa, com base na proporção da renda gasta com, por exemplo, medicament­os e alimentos pelas famílias mais pobres.

Vanessa argumenta que a isenção da cesta básica, com custo anual de R$ 18 bilhões, é um dos principais gastos tributário­s e tem três problemas: 1) os produtos são comprados tanto por ricos quanto por pobres; 2) não há como garantir que a desoneraçã­o seja repassada ao consumidor, já que é o mercado que regula os preços, e 3) há muita disputa jurídica sobre o que pode ser classifica­do como cesta básica.

“Como definir que peixe faz parte da cesta? Arroz de risoto pode? Café em cápsula? Iogurte com sucrilhos é iogurte? Tudo isso gera contencios­o e mais espaço para renúncia fiscal.”

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