Folha de S.Paulo

Bolsonaro pode liberar exportação de troncos de árvores amazônicas

- Júlia Barbon

rio de janeiro O presidente Jair Bolsonaro afirmou neste sábado (23) que o governo pode liberar a exportação de troncos de árvores nativas da Amazônia, o que hoje é ilegal. “É melhor você exportar de forma legalizada do que, de forma clandestin­a, continuar saindo do Brasil”, disse ele em evento no Rio de Janeiro.

Questionad­o por jornalista­s se confirmava que faria a liberação, ele respondeu: “Depende. Talvez dependa do parlamento uma medida como essa. O [ministro do Meio Ambiente] Ricardo Salles [NovoSP] vai me dar a palavra final na semana que vem.”

O interesse do governo em permitir a venda da madeira “in natura” foi divulgado pelo jornal O Estado de S. Paulo neste sábado. Segundo o veículo, a possibilid­ade surgiu após o Ibama, instituto ligado ao Ministério do Meio Ambiente, ter sido procurado por empresário­s do setor.

A madeira “in natura” é a madeira bruta, que ainda não foi beneficiad­a, ou seja, não passou por um processo de tratamento e alisamento da sua superfície para depois se transforma­r em portas, janelas e móveis, por exemplo.

Já a madeira nativa é a original, que não foi fruto de refloresta­mento.

A ideia seria liberar apenas a extração das árvores que estejam dentro dos chamados planos de manejo —áreas de reservas florestais que o governo teoricamen­te fiscaliza, mas que, na prática, têm muitos problemas.

Neste sábado, Bolsonaro também voltou a dizer aos jornalista­s que tem sido alvo de uma campanha para prejudicar a imagem do governo quanto ao desmatamen­to na Amazônia. “Em governos anteriores tivemos muito mais focos de incêndio ou de calor do que tivemos nos últimos meses”, afirmou.

“Queriam que eu passasse de 14% para 20% o percentual de terra demarcada para índios no Brasil. Não aceitamos isso, então vieram com essa campanha que não deu certo. Tudo foi desmentido e aquele presidente [se referindo ao francês Emmanuel Macron] que fez a campanha recolheu-se ao seu devido lugar”, continuou. “Não estou preocupado em perder aliados, eu não quero perder o Brasil.”

O Brasil registrou entre agosto de 2018 e julho de 2019 seu maior índice de desmatamen­to na Amazônia nesta década, segundo o sistema de monitorame­nto Prodes —sistema que oferece o dado mais preciso e consolidad­o, anunciou o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) no último dia 18.

Ao longo desses 12 meses, foram destruídos 9762 km², um aumento de 29,5% em comparação com o ano anterior. Indagado depois sobre os dados, o presidente chegou a afirmar que o desmatamen­to no Brasil era uma “questão cultural”, portanto, difícil de extinguir.

O presidente fez as declaraçõe­s neste sábado após participar de uma cerimônia que comemorou os 74 anos de criação da Brigada de Infantaria Paraquedis­ta do Exército, da qual ele fez parte, e homenageou os militares que estão completand­o 25 ou 50 anos de formados.

Ele estava acompanhad­o dos generais e ministros Fernando Azevedo e Silva (Defesa), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) e Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucio­nal), além do prefeito dio Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (PRB).

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil