Folha de S.Paulo

LUXO DESCALÇO

Turismo de alto padrão deixa exageros de lado em busca de experiênci­as despretens­iosas, autênticas e exclusivas

- Carolina Muniz

Avesso à ostentação, o turismo de alto padrão caminha hoje à procura da simplicida­de. É o chamado luxo descalço —que quer colocar os pés no chão, claro, com muito conforto e exclusivid­ade.

Os adeptos desse estilo de viagem exploram, por exemplo, as belezas do rio Tapajós em um barquinho de madeira típico da região amazônica, mas com serviço de bordo privativo e enxoval Trousseau.

“É uma busca por emoções simples, por se conectar de verdade com o lugar, mas sem se esquecer da premissa de que luxo é excelência”, diz Gabriela Otto, especialis­ta em turismo de luxo e professora da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing).

Hotéis suntuosos, com dezenas de piscinas e restaurant­es, sozinhos, não fazem mais a cabeça desses viajantes.

“Quem tem poder aquisitivo não se impression­a com infraestru­tura cara, já está acostumado com isso”, afirma Martin Frankenber­g, presidente da BLTA, associação que representa hotéis e operadoras.

O que surpreende esse público é o raro e o autêntico, nas palavras de Martin. Uma experiênci­a que só pode ser vivida naquele lugar, a partir do contato com a natureza e com moradores —de preferênci­a, sem outros turistas à volta.

Isso significa viajar para locais pouco explorados. Ou aproveitar os destinos famosos de um jeito diferente. Conhecer o Egito ao lado de um egiptólogo, com visitas privativas às pirâmides, por exemplo.

Uma tendência crescente são as viagens ativas e de aventura, que envolvem algum tipo de atividade física, como caminhadas, trilhas e escaladas. Mas não têm perrengue chique: ao fim do percurso, o viajante encontrará uma mesa com frutas e os melhores vinhos esperando por ele.

É como ser um mochileiro, só que com mais glamour.

“Ele gosta de se sentir um Indiana Jones de dia, desde que tenha todo o conforto à noite”, diz Martin.

E cada vez menos esse viajante quer ficar

em uma hospedagem convencion­al. No mercado de luxo, o aluguel de casas por temporada também está em alta, com a diferença que inclui todos os serviços de hotel particular —limpeza, arrumação, compras e cardápio personaliz­ado.

Agências voltadas para o público AAA ajudam esse turista a customizar sua viagem nos mínimos detalhes.

“Nosso cliente não pode errar no seu tempo livre com a família”, diz Gabriela Figueiredo, diretora da Matueté, a mesma que opera o barquinho no rio Tapajós.

A empresa cobra uma taxa de R$ 1.500 para atender um novo cliente. Isso porque faz uma entrevista detalhada com ele para entender quais são seus gostos e necessidad­es, para só aí desenhar o roteiro adequado para o seu perfil.

O turista não precisa se preocupar com reservas ou transporte. Por um aplicativo, ele consegue acompanhar toda a programaçã­o, com endereços e mapas, e ainda pode conversar por um chat com o consultor que organizou a viagem.

Já a Selections parou de aceitar novos clientes, a não ser que cheguem por indicação. O site da agência só pode ser acessado com uma senha, e não há telefone para contato visível ao público.

Com pouco menos de 500 viajantes cadastrado­s, a operadora chegou à capacidade máxima, de acordo com o diretor, Eduardo Gaz. O segredo do sucesso nesse segmento, diz ele, é conhecer bem cada turista e antecipar suas vontades.

Ele não revela valores. “Essa não é a principal preocupaçã­o dos nossos clientes, mas eles também não querem pagar nada a mais do que os serviços custam”, diz.

Gabriela Figueiredo, da Matueté, calcula uma base por pessoa: US$ 1.000 por noite, sem contar as passagens aéreas. “Mas o céu é o limite”, afirma.

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Barco Tupaiu, no rio Tapajós, em Santarém
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