Folha de S.Paulo

TECNOBREGA E ÁGUA DOCE

Cada pôr do sol à beira do Amazonas faz valer a pena os dias de música repetitiva e as noites de aperto no barco que vai de Belém a Santarém

- Ricardo Ampudia

Longe do luxo dos transatlân­ticos, as viagens de barco pela Amazônia estão ganhando popularida­de entre aqueles que abrem mão do conforto pela oportunida­de de conhecer de perto as paisagens da selva.

A troca é justa. Vale a pena passar perrengue em uma embarcação apinhada de redes e com um motor barulhento para ter a experiênci­a de acordar no meio do rio.

Uma das rotas mais conhecidas vai de Belém do Pará a Manaus, no Amazonas, passando por Alter do Chão (PA).

De Belém até Santarém (PA), são 700 km e quatro dias pelo rio Amazonas. A embarcação é simples: banheiro compartilh­ado, refeitório com bancos de madeira e um bar que toca tecnobrega no último volume.

A paisagem muda conforme a época do ano. É uma durante a época de cheia, ou vazão dos rios, de novembro a fevereiro, e outra na seca, entre outubro e novembro.

No fim de junho, acontece o Festival Folclórico de Parintins (AM). Se sua intenção não for ir à festa, vale esperar, já que a movimentaç­ão de barcos é grande nessa época.

As embarcaçõe­s oferecem cabines para hospedagem, mas em geral elas não têm um bom custo-benefício. Vale dormir no redário e viver a experiênci­a completa. A passagem para ficar no espaço custa de R$ 120 a R$ 200, dependendo da embarcação.

É preciso levar a própria rede. Isso não é problema em Belém, onde um modelo de algodão sai por menos de R$ 50. Também é preciso embarcar cedo para pegar um lugar —não que isso garanta algum conforto.

Após instalar a rede entre dois corrimões de metal que atravessam todo o porão do barco —com janelas amplas e ar-condiciona­do—, centenas de pessoas farão o mesmo à direita, à esquerda, embaixo e em cima. A ideia de que sempre cabe mais um impera nos navios paraenses.

O caminho até Santarém é uma atração por si só. São horas e horas em meio à mata sem nenhum sinal de civilizaçã­o, até que pequenas comunidade­s surgem à beira do rio. Em algumas delas, crianças se aproximam em botes para vender peixe e frutos da mata. Cada pôr do sol no convés do navio faz valer a pena as 18 horas do mesmo CD de tecnobrega tocando em loop.

Santarém é uma das maiores cidades do Pará, mas não é lá que está a joia do rio. Alter do Chão, a cerca de 40 km, já foi chamada de “Caribe brasileiro” por suas praias de água doce, que aparecem entre agosto e janeiro, quando o Tapajós diminui de volume.

É lá também que estão a Floresta Nacional de Tapajós (Flona), que pode ser visitada em passeios de barco oferecidos por agências na cidade, bem como praias mais distantes e comunidade­s extrativis­tas.

O segundo trecho da viagem é mais curto. De Santarém até Manaus são 42 horas, quase dois dias de viagem. O ritmo é o mesmo, tecnobrega, redário e paisagens amazônicas.

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Redes em embarcação saindo do porto de Manaus (AM)
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 ??  ?? Revoada de pássaros na ponta do Cururu, em Alter do Chão, Santarém (PA)
Revoada de pássaros na ponta do Cururu, em Alter do Chão, Santarém (PA)
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Barcos de passeio no porto de Manaus (AM)

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