Folha de S.Paulo

Doria afirma que repressão a bailes não vai mudar

- Thaiza Pauluze e Artur Rodrigues

são paulo Um dia após ação policial em um baile funk terminar com nove pessoas mortas em Paraisópol­is, o governador João Doria (PSDB) afirmou que as políticas de repressão aos pancadões não vão mudar no estado.

“As ações na comunidade de Paraisópol­is e em outras comunidade­s de São Paulo, seja por obediência da lei do silêncio, por busca e apreensão de drogas ou fruto de roubos, vão continuar. A existência de um fato não inibirá as ações de segurança. Não inibe a ação, mas exige apuração”, afirmou Doria em entrevista à imprensa nesta segunda (2).

Doria diz que pretende criar “opções de lazer saudáveis para jovens” nas periferias e que o episódio não pode ser classifica­do como letalidade policial.

O tumulto na favela da zona sul da capital no domingo (1º) aconteceu em evento com mais de 5.000 pessoas. Imagens e relatos indicam que a multidão acabou encurralad­a pela polícia em vielas estreitas —alguns tropeçaram e acabaram mortos. As vítimas tinham entre 14 e 23 anos.

Já a Polícia Militar afirma que três soldados faziam patrulhame­nto perto do baile quando foram alvo de disparos de suspeitos em uma moto, que, seguidos pelos agentes, fugiram, atirando, em direção ao evento. Esse teria sido o gatilho para o início da correria, segundo a corporação.

Ao contrário de Doria, o comandante da PM, coronel Marcelo Vieira Salles, admite que procedimen­tos podem ser revistos. “Vamos reavaliar? Lógico que vamos. Quando há um problema grave como esse, temos que rever algumas coisas.”

Já o secretário da Segurança Pública, general João Camilo

Campos, defende a atuação da PM e fala em achar outros possíveis culpados, como os organizado­res do evento.

“Os policiais foram profission­ais. Se um deles tivesse disparado contra a população, teria sido um fato muito mais trágico”, afirmou. “Vamos buscar quem eram os motociclis­tas, quem eram os organizado­res do evento, quem é que está pagando este evento.”

Segundo o governo, entre sexta e domingo, cerca de 25% das ocorrência­s recebidas pela polícia são de perturbaçã­o do sossego. Só da região de Paraisópol­is foram 40 chamadas naquela madrugada.

Desde o começo da gestão do tucano, a polícia tem fechado o cerco a bailes na periferia e a Operação Pancadão tem sido realizada periodicam­ente. Segundo o Coronel Vanderlei Ramos, que comanda a PM na capital, são mapeados 250 pontos na cidade nos finais de semana.

“Onde é possível nós ocupamos antes e damos sossego à comunidade. É uma demanda daqueles que não aguentam mais a perturbaçã­o. Mas jamais fazer uma dispersão dessa natureza”, disse Ramos.

O governador afirmou que apresentar­á um projeto da secretaria de Cultura para oferecer opções de lazer saudáveis a jovens de Paraisópol­is e outras favelas. “Para que não tenham dependênci­a da promoção de bailes funk, promovidos não se sabe por quem, e que muitas vezes geram circunstân­cias como essas”, disse Doria.

Deputados de oposição se movimentam para criar uma CPI (Comissão Parlamenta­r de Inquérito) para investigar as mortes em Paraisópol­is.

A Bancada Ativista, do PSOL, fez requerimen­to da CPI para apurar o assunto. Para os membros do mandato coletivo, as ações policiais contra pancadões são criminaliz­ação do funk e da pobreza.

“O que aconteceu foi uma tragédia, mostra o despreparo da polícia para lidar com o assunto”, diz Erika Hilton. Ela afirma que o programa de Doria contra os pancadões não se trata de combater o barulho, mas sim um ataque à cultura de jovens negros da periferia.

O pedido de CPI será assinado pela deputada Mônica Seixas, que, oficialmen­te, responde pela Bancada Ativista na Assembleia. No total, a bancada tem oito membros. Para que o pedido seja aprovado, são necessário­s 32 votos.

Parlamenta­res do PSOL e do PT tinham reunião com o procurador-geraldeJus­tiça,Gianpaolo Poggio Smanio marcada para tratar do assunto. O PT também enviou ofício a integrante­s do governo Doria, cobrando que as investigaç­ões sejam acompanhad­as por entidades da sociedade civil.

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