Folha de S.Paulo

Siglas pagam R$ 18 milhões a empresas de filiados

Levantamen­to mostra contrataçã­o pelas siglas de empresas de dirigentes, como escritório­s de advocacia e de contabilid­ade

- Felipe Bächtold e Marina Gama Cubas

Partidos destinaram ao menos R$ 17,8 milhões a empresas de filiados, incluindo seus próprios dirigentes, em 2018, de acordo com as prestações de contas entregues à Justiça Eleitoral. Levantamen­to da Folha aponta que ao menos 294 firmas ligadas a membros de legendas foram beneficiad­as.

são paulo Os partidos políticos destinaram ao menos R$ 17,8 milhões a empresas de filiados, incluindo seus próprios dirigentes, ao longo de 2018, de acordo com as prestações de contas entregues à Justiça Eleitoral.

Levantamen­to feito pela Folha cruzando os dados de firmas prestadora­s de serviços às legendas com títulos de eleitores e os CPFs de membros dos partidos, principalm­ente integrante­s dos diretórios nacionais, estaduais ou municipais, aponta que ao menos 294 empresas ligadas a esses filiados foram beneficiad­as.

Essas empresas incluem principalm­ente escritório­s de advocacia ou de contabilid­ade, produtoras de conteúdo, postos de gasolina e gráficas. A reportagem detectou as contrataçõ­es em 29 dos 35 partidos constituíd­os naquele ano.

A prática ocorre em legendas de distintas correntes ideológica­s, do PC do B ao PSDB ou ao PSL, partido pelo qual Jair Bolsonaro foi eleito.

A principal fonte de financiame­nto dos partidos são recursos públicos repartidos do fundo partidário, que em 2018 somou R$ 889 milhões. Para 2020, o valor previsto no Orçamento é de R$ 959 milhões, que se somará ao fundo eleitoral de R$ 2 bilhões para custear as campanhas de candidatos a prefeito e vereador pelo país.

Os dados das prestações partidária­s de 2018 apontam na lista dos beneficiár­ios firmas dos ex-presidenci­áveis Luciana Genro (PSOL) e Ciro Gomes (PDT) e de parentes de Levy Fidélix, do PRTB.

Aparecem ainda presidente­s nacionais de siglas: José Maria Eymael (DC) e Eurípedes Macedo Júnior (Pros), que possuem respectiva­mente comércio de autopeças e uma oficina.

O levantamen­to se refere ao ano passado porque o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) não obriga as direções partidária­s a informar suas despesas no momento em que são feitas, como ocorre nas campanhas eleitorais.

As prestações de 2018 foram entregues apenas em abril deste ano, e as informaçõe­s com os gastos foram publicadas em forma de planilhas, que permitem cruzamento­s de dados, só em setembro.

A reportagem cruzou 80 milhões registros do TSE e da Receita Federal a partir de um algoritmo para chegar à soma de R$ 17,8 milhões pagos.

Foram excluídos do cálculo pessoas jurídicas como associaçõe­s, institutos e entidades sem fins lucrativos.

O número de dirigentes beneficiár­ios deve ser bem superior, já que o levantamen­to da reportagem não computa os pagamentos feitos pelas fundações partidária­s, que recebem ao menos 20% das verbas do fundo partidário e que não têm suas despesas compiladas em tabelas pela Justiça Eleitoral. Segundo a legislação, as fundações devem desenvolve­r atividades de educação política e pesquisa.

O partido que apareceu no topo em 2018 foi o PSB, sendo que a maior parte foi paga ao escritório de advocacia Carneiros, do qual é sócio Rafael Carneiro, que é filiado e também integra o Conselho de Ética da legenda.

A seguir, estão o PSD, o Solidaried­ade e o PT.

No caso do Solidaried­ade, em 2018 se repetiu o que já havia sido mostrado com os dados do ano anterior em levantamen­to feito pela ONG Transparên­cia Partidária: a maior despesa com prestadore­s filiados foi com o Cedraz Advogados, que tem entre sócios seis integrante­s do diretório nacional do partido.

No PDT, pagamentos ao escritório de Ciro também ocorreram em 2017 e na campanha eleitoral do ano passado.

O partido Novo fez pagamentos a firmas de dirigentes, no total de R$ 656 mil, mas afirma que os recursos não vieram do fundo partidário e que tenta devolver o montante de verba pública recebido.

As direções partidária­s precisam prestar contas anualmente de seus gastos ao TSE, sob pena de ter cortados os repasses públicos.

A análise da regularida­de desses dados, porém, é lenta: em abril passado a corte eleitoral finalizou a análise da prestação de contas de 2013, e determinou a partidos a devolução de R$ 18,5 milhões por uso indevido do fundo.

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