Folha de S.Paulo

Investigaç­ão é abuso contra Flávio, afirma Bolsonaro

Presidente considerou que errou ao atacar repórter e afirmou que biópsia afastou possível câncer

- Gustavo Uribe e Daniel Carvalho

O presidente Jair Bolsonaro disse que o Ministério Público do Rio comete abuso nas investigaç­ões sobre seu filho Flávio. “Se eu não tiver a cabeça no lugar, eu alopro”, afirmou.

Ele admitiu ter errado ao atacar jornalista­s na véspera e falou que biópsia afastou a possibilid­ade de câncer de pele.

brasília Em entrevista de mais de duas horas neste sábado (21), o presidente Jair Bolsonaro afirmou haver abuso por parte do Ministério Público do Rio de Janeiro nas investigaç­ões sobre a suspeita de um esquema de “rachadinha” tendo como base o gabinete do seu filho Flávio quando ele era deputado estadual no Rio.

“Se eu não tiver a cabeça no lugar, eu alopro. Que levem o caso dele de acordo com a alegação que está ali”, disse Bolsonaro sobre a apuração que tem como pivô o ex-assessor de Flávio Fabrício Queiroz.

Bolsonaro, que havia atacado jornalista­s na véspera, convidou a imprensa para degustar mangas no Palácio da Alvorada, mas serviu apenas água e café. Ele considerou um erro o ataque a um repórter, mas não pediu desculpas por ofender a mãe do jornalista.

O presidente afirmou que resultado de biópsia afastou a possibilid­ade de ele ter câncer de pele. Após passar por exames no último dia 11, Bolsonaro disse a jornalista­s que poderia ter a doença. No dia seguinte, acusou a imprensa de fazer fake news.

*

Flávio Bolsonaro

“O processo está em segredo de Justiça. Quem é que julga? É o Ministério Público ou o juiz? Os caras vazam e julgam. Paciência, pô. Qual a intenção? Estardalha­ço enorme. Será por que falta materialid­ade para ele e o que vale é o desgaste agora? Quem está feliz com essa exposição absurda na mídia? Alguém está feliz com isso. Se eu não tiver a cabeça no lugar, eu alopro. Que levem o caso dele de acordo com a alegação que está ali.”

Sobre o Ministério Público, disse “que todo Poder [o Ministério Público não é um Poder] tem de ter uma forma de sofrer algum controle”. “Não é do Executivo. Quando começa a perder o controle, buscar pelo em ovo. Eu sou réu no Supremo. Já sofri processos os mais variados possíveis. Então, a questão do Ministério Público está sendo um abuso, eu noto. Qual a interferên­cia minha? Zero.”

Filhos

“O Eduardo está na Câmara e o outro está no Senado. Eles me dão em tempo real a temperatur­a lá. ‘Pai, vai ter dificuldad­e emaprovare­ssenegócio­aqui’. São pessoas que me ajudam nesse sentido. Não tem influência ou indicação. Tanto é que já falei para ministros. Se tiver qualquer indicação de cargo de filho meu, corta. Não tem conversa. Não quero problemas.”

Witzel

“Ele não era aliado meu, era aliado do Flávio. Você não vê nenhuma foto minha durante a campanha, até porque nem fiz campanha no Rio de Janeiro. Eu o conheci pela televisão e pela internet. O cara ficou ali o tempo todo com o Flávio. Só não vi dando beijo no Flávio de língua, bitoquinha eu já vi. Acabou as eleições, sobe à cabeça dele e quer ser presidente da República. E começa esse inferno na minha vida.”

Ofensa a jornalista­s

“É claro que a gente reflete, eu me controlo quando passo para conversar com vocês [jornalista­s]. Eu sei que vocês provocam para ter manchete, a gente sabe disso aí. Sim, eu erro, não deveria ter falado. No futebol, de vez em quando, manda o colega ir para a ponta da praia. É a minha maneira de ser, não dá para mudar isso aí. Pau que nasce torto. É o linguajar que eu tenho. Não vejo como ofensivo.”

Aliança pelo Brasil

“Meu partido dificilmen­te vai ter condições de concorrer agora. A chance é 1%. Não tenho obsessão por formar o par tido. Acho que Deus até me ajuda porque você sabe que eleições municipais não influencia­m muito nas próximas. E às vezes você elege um cara numa capital aí, se o cara fizer besteira, você vai apanhar na campanha de 2022 todinha.”

Prefeitura de São Paulo

“Já conversei com o [apresentad­or José Luiz] Datena. Sei que no passado ele tentou e, na última hora, desistiu, não interessam os motivos. Tenho conversado com ele e ele tem o interesse de disputar a Prefeitura [de SP] agora. Pedi a ele para conversar um pouco mais demoradame­nte sobre como é a política de verdade.”

Câncer

“Foi feita uma biópsia e não deu nada. Se fosse um câncer, qual o problema? Falaria.

Se tem de cortar a orelha, tira, pô. Não estou preocupado com isso. Sempre fui relaxado com a minha saúde. Como qualquer coisa, não respeito horário, tenho insônia, sou recordista em apneia.”

Patrão Guedes

“Não quero falar algo que possa constrange­r o Paulo Guedes amanhã por desconheci­mento da minha parte. Não tenho como saber de tudo o que acontece no governo. Eu que tenho que me alinhar a ele, não ele a mim. Ele que é meu patrão nesta questão, não eu o patrão dele.”

Weintraub

“Melhorou demais [o Ministério da Educação sob Weitraub]. Falta dar uma calibrada. Ainda está dando uma de

Jair Bolsonaro quando deputado em alguns momentos. Já falei para ele dar uma segurada aí. Faz o que tem que fazer, não faz o que eu fiz no passado. [Estou falando da] maneira de ele falar, de dançar na chuva com o guarda-chuva.”

Ditadura militar

“Por que apagar a história? A história está lá para você consultar e ver o que está errado e não errar na frente. O meu foco é aqui para a frente. Na Câmara, eu só entrava nessas polêmicas quando começavam a falar besteira. Eles não tinham nada para falar de bom do período militar? Nada? Zero? Só coisa errada? O certo eram eles, que pegaram em armas e sequestrar­am gente? Houve tortura? Ninguém disse que nunca houve. É uma história que está aí e eu não pretendo rememorar. Teve coisa errada.”

Juiz de garantia

“Na segunda-feira [23], vou discutir novamente [a questão dos vetos do pacote anticrime]. Tem uma questão que está dando choque, que é do juiz de garantia. A ideia do Moro é vetar, mas tem outras pessoas que eu considero tanto quanto o Moro que são contrárias. Peguei uma multa de R$ 10 mil. Quem me multou foi um servidor filiado ao PT. Eu recorri, sabe quem julgou meu recurso? Foi ele mesmo. Preciso falar alguma coisa? Aí, é juiz de garantia.

Candidatur­a avulsa

“Se eu pudesse interferir, eu ia votar favorável. Sou favorável. Você pode ver a dificuldad­e para eu conseguir um partido. E, na última hora, o que este partido [PSL] vislumbrou? Alguma vantagem para si. Seria excepciona­l [se eu puder ser candidato avulso].”

Vida na Presidênci­a

“É difícil ter dia para ser feliz, cara, problemas. A vida é sacrifican­te. Eu estou até feliz de estar com vocês aqui, porque, geralmente, é uma monotonia.”

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Gustavo Uribe/Folhapress Bolsonaro, vestido com uma camisa do Flamengo, em café com jornalista­s no Palácio da Alvorada neste sábado (21)

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