Folha de S.Paulo

‘Frozen 2’ chega aos cinemas com novos personagen­s e tenta repetir sucesso

‘Frozen 2’ chega aos cinemas com novos personagen­s e tenta repetir sucesso de seu antecessor, mas se esquiva de pedidos para que protagonis­ta seja lésbica

- Clara Balbi

são paulo Os primeiros minutos de “Frozen: Uma Aventura Congelante”, lançado em 2013, parecem anunciar um conto de fadas como outro qualquer. Ali está uma jovem princesa, Anna, num reino distante chamado Arendelle. Charmosa e desastrada, ela conhece o príncipe Hans, e os dois se apaixonava­m, num número musical devidament­e coreografa­do.

Até que pedem à irmã mais velha de Anna, a rainha Elsa, permissão para que se casem. Elsa encara a caçula incrédula. “Você não pode ser casar com um homem que acabou de conhecer”, diz. A sensatez da frase não só arruína os sonhos de Anna, como põe em xeque os filmes de princesa que fizeram a fama daDisney. E prenuncia o tom da narrativa, em que o tal pretendent­e se revela o vilão da trama e as donzelas prescindem de um herói para salvar o dia.

A embalagem de século 21 para uma fórmula clássica funcionou. “Frozen” foi o filme mais visto de 2013, faturando US$ 1,2 bilhão (cerca de R$ 3 bilhões, em valores da época).

E continuou agerar frutos, entre eles dois curtas, área em parque temático, um musical da Broadway e mais de três milhões de fantasias infantis vendidas nos Estados Unidos só no ano de estreia.

Mesmo assim, uma sequência só entrou nos planos do estúdio quando os diretores, Chris Buck e Jennifer Lee, sentiram que havia uma nova história para contar, afirma o produtor Peter Del Vecho à reportagem. No caso, a resposta a uma pergunta que a equipe ouviu à exaustão: de onde vêm os poderes de gelo de Elsa?

Com estreia no país no dia 2 de janeiro e tendo acumulado mais de US$ 1 bilhão de bilheteria (cerca de R$ 4 bilhões) um mês depois de seu lançamento, “Frozen 2” substitui o cenário glacial do primeiro filme por folhagens avermelhad­as, inspiradas em paisagens de Noruega, Islândia e Dinamarca.

Nele, a rainha gelada começa a ouvir vozes às vésperas das festividad­es de outono em Arendelle. Ao segui-las, no entanto —cantando “Into the Unknown”, aposta de um novo “Let It Go”— desperta espíritos ancestrais, que forçam a população local a fugir.

A solução é Anna e Elsa descobrire­m a verdade sobre o passado do reino. É assim que as irmãs acabam se embrenhand­o na floresta encantada, enfrentand­o a bruma impenetráv­el ao lado de seus fiéis amigos, Kristoff, a rena Sven e Olaf, boneco de neve que passa por uma crise existencia­l.

Lá dentro, descobrem ainda mais seres mágicos, como uma salamandra fofinha e ogros gigantesco­s, além de uma comunidade nativa inspirada nos lapões, etnia que vive na Noruega, na Suécia, na Finlândia e no norte da Rússia cujos representa­ntes serviram de consultore­s para a trama. Além de indígenas, “Frozen 2” inclui um personagem negro.

O que continua igual neste “Frozen” é o estado civil de Elsa, a despeito dos pedidos para que ela ganhasse uma namorada. Na internet, não faltou quem encontrass­e paralelos entre a letra de “Let It Go” (por aqui “Livre Estou”), que rima “eu saí pra não voltar” e “não me importa o que vão falar”, e o sair do armário.

A solteirice da personagem tem a ver com a própria gênese de “Frozen”, explica o diretor Chris Buck. “Quando fiz o primeiro filme, queria explorar a ideia de que o amor verdadeiro toma muitas formas, não é necessaria­mente romântico. Daí esse amor familiar, entre duas irmãs”, diz.

Além disso, acrescenta Del Vecchio, a rainha já tem problemas o suficiente na narrativa. “Ela carrega o mundo nas costas. Personagen­s míticos como Elsa costumam se deparar com um destino trágico, mas felizmente, por causa da irmã, ela transforma isso num feliz para sempre.”

É possível que numa próxima versão eles atendam ao desejo do público, então? Del Veccho desconvers­a. “Passamos os últimos quatro anos e meio na produção desse segundo filme”, diz. “Mas acho que as pessoas querem tanto que ela seja lésbica porque todo mundo consegue se identifica­r com a Anna e a Elsa.”

CRÍTICA

Frozen 2 ***** EUA, 2019. Direção: Chris Buck e Jennifer Lee. Estreia em 2/1

Leonardo Sanchez

Em 2013, “Frozen: Uma Aventura Congelante” seguiu a fórmula de sucesso das animações lançadas pela Disney ao longo da década de 1990. Combinou um conto de fadas a grandes números musicais e recebeu uma avalanche de elogios, prêmios e dinheiro.

Com um sucesso tão avassalado­r, era natural que a animação ganhasse uma sequência. E assim como as continuaçõ­es de clássicos ilibados como “A Bela e a Fera” (1991) e “O Rei Leão” (1994), “Frozen 2” passa longe do brilhantis­mo de seu seminal —mas nem por isso deixa de ter seu encanto.

M esmoque o novo filme pareça desnecessá­rio, umc aça-níquel para repetira bilheteria de seu antecessor, sua trama surge para esclarecer uma ponta solta: como foi que Elsa começou a disparar raios de gelo?

A pergunta guia a animação, auxiliada pelo inabalável carisma de seus personagen­s principais —basta Olaf dizer suas primeiras falas para sermos lembrados do porquê de “Uma Aventura Congelante” ter caído no gosto do público.

Com pitadas de humor bem distribuíd­as, a trama cativa o espectador sem esforço. Contribui para isso seu belíssimo visual, que escancara os motivos que levaram a Disney a se tornar referência na animação.

Outro fator decisivo para o sucesso do primeiro “Frozen” foi a premiada trilha sonora de Kristen Anderson-Lopez e Robert Lopez —em 2013, o mundo se despolariz­ou para cantar “Let It Go” em uníssono.

As canções agora são notavelmen­te inferiores e é uma pena não haver no longa uma performanc­e catártica como o solo de Elsa. A trilha ficou mais pop, acompanhad­a de cenas que mais parecem clipes do que grandes números teatrais —a própria animação tira sarro disso, parodiando as baladas românticas dos anos 1980 e 1990 em uma cena que não consegue se acomodar ao ritmo da história.

Essa quebra de fluidez aparece em outros momentos, mas por causa do roteiro, não das partituras. Na tempestade de problemas que vão surgindo, novos personagen­s e mistérios são apresentad­os, sem que sejam devidament­e explorados.

Mas, no final desse emaranhado, existe ali, como em “Uma Aventura Congelante”, uma mensagem bonita, que aliada ao espírito aventureir­o, bem-humorado e fantasioso de “Frozen 2”, o torna mais uma ótima diversão em família para um estúdio justamente criado com essa intenção.

Mesmo franzino em relação a outros títulos da Disney, o longa encontra força em elementos como o carisma dos personagen­s, a magia inerente à história e o visual primoroso. “Frozen 2” propicia diversos momentos de surpresa e encantamen­to —como um bom conto de fadas deve fazer.

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Divulgação A rainha Elsa tenta descobrir as origens de seus poderes de gelo em ‘Frozen 2’

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