Folha de S.Paulo

Fla rompe paradigmas e prova que é um grande clube do mundo

Flamengo rompeu com paradigmas que há muito predominam no Brasil

- Tostão Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina

O Flamengo jogou muito bem, chegou a ser superior em parte do primeiro tempo, mas o Liverpool, no geral, foi melhor, por ter criado muito mais chances claras de gol. Mereceu a vitória.

Os dois times, como era esperado, utilizaram muitas bolas longas, nas costas dos defensores, pois as duas equipes atuam com a marcação mais adiantada. A entrada de Vitinho, no segundo tempo, tirou o lugar de Bruno Henrique, que criava grande perigo pela esquerda. Na prorrogaçã­o,

Firmino, com sua classe, fez o gol da vitória, em uma jogada rápida de contra-ataque.

A grande diferença entre os grandes times europeus e os sul-americanos não diminuiu. O Flamengo é exceção. Se fosse qualquer outro time brasileiro, seria goleado pelo Liverpool.

O Flamengo ensinou aos times brasileiro­s que é possível unir a disciplina tática e a improvisaç­ão, o individual e o coletivo, o jogo calculado e o passional. O Flamengo rompeu com paradigmas que predominam

no futebol brasileiro há muito tempo, uma excessiva cautela, a marcação mais recuada, para fechar os espaços, os dois volantes em linha, o centroavan­te fixo, os zagueiros colados à grande área e o posicionam­ento estático dos jogadores.

Parabéns ao Flamengo, ao explosivo e revolucion­ário técnico Jorge Jesus, aos brilhantes e vibrantes jogadores e à sua fascinante torcida, além das diretorias atual e anterior, pelas conquistas do Brasileiro e da Libertador­es e pelo vice-campeonato mundial.

O Flamengo mostrou que é um grande time do mundo.

Organizado­s e passionais O Corinthian­s fez duas excelentes contrataçõ­es para 2020, a de Tiago Nunes, destaque entre os treinadore­s brasileiro­s, e a do meia Luan, apesar das incertezas técnicas e físicas. Vale o risco. Luan é o elo do meio para frente. Facilita para todos, embora jogadores como ele, que atuam como um meia de ligação, sejam cada vez mais abandonado­s pelos grandes times.

Liverpool e Flamengo não têm esse clássico meia. Gerson ou Diego atuam vindo de trás, do próprio campo. São meio-campistas. Diego, na maior parte da carreira, foi um meia clássico ofensivo. Recebia a bola de costas para o gol e rodava com ela, com pouca eficiência. Descobriu, com Jorge Jesus, seu melhor lugar.

O São Paulo manteve Fernando Diniz, embora a equipe, sob seu comando, não tenha apresentad­o nada de diferente dos técnicos anteriores. Fernando Diniz quis ter mais segurança no início, para, depois, implantar seu estilo ou mudou alguns conceitos? Além disso, é necessário ter jogadores com as caracterís­ticas ideais para usar certas estratégia­s. O Fluminense, com Fernando Diniz, trocava muitos passes curtos e ficava com a bola porque tinha, no meio-campo, três jogadores habilidoso­s e que gostavam da bola, Ganso, Daniel e Allan.

Santos, Palmeiras e agora o Atlético fizeram muito bem em não atender às delirantes exigências do esquisito Sampaoli. Ele é muito bom, mas acha que é o melhor técnico do mundo e que vai dirigir o melhor time do mundo.

O Internacio­nal foi ousado e trouxe o jovem técnico Eduardo Coudet, que fez sucesso na Argentina. Há uns dois anos, vi o Rosário Central, dirigido por Coudet, jogar contra o Palmeiras, em São Paulo, e fiquei impression­ado com o jogo coletivo da equipe. Ele é da turma dos loucos, como Jorge Jesus, Sampaoli, Guardiola, Klopp e poucos outros. São organizado­s e passionais.

Todos nós que trabalhamo­s no futebol precisamos evoluir, e não apenas os técnicos.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil