Folha de S.Paulo

LIVERPOOL É CAMPEÃO MUNDIAL COM GOL DE FIRMINO

Firmino decide com gol na prorrogaçã­o após time carioca jogar de igual para igual contra atuais campeões europeus

- Alex Sabino

Enquanto flamenguis­tas lamentam a derrota por 1 a 0 na prorrogaçã­o, jogadores do Liverpool vibram com a conquista do primeiro título mundial de clubes da Fifa, em Doha

doha Segundos após perder para o Liverpool por 1 a 0 a final do Mundial de Clubes, os jogadores do Flamengo se reuniram no centro do campo. Juntos, caminharam de forma bem lenta para o setor atrás do gol em que Roberto Firmino decidiu a partida no Qatar.

Ergueram as mãos para as cadeiras onde estava concentrad­a a maioria de seus torcedores, que agradecera­m de volta o gesto dos jogadores.

O sonho do segundo título mundial flamenguis­ta morreu neste sábado (21), em Doha, diante dos campeões europeus em um dos melhores jogos da história do torneio.

Da forma como o técnico Jorge Jesus havia previsto, o time brasileiro atacou e foi atacado. Poderia ter vencido, mas perdeu. Este não tem sido o roteiro recente das participaç­ões sul-americanas no torneio organizado pela Fifa.

De 2013 a 2018, três vezes o representa­nte da Conmebol caiu ainda nas semifinais: Atlético-MG em 2013, Atlético Nacional (COL) em 2016 e River Plate (ARG) em 2018.

“Tratou-se de um teste para uma equipe que não está na Europa. Foi mostrado que uma boa organizaçã­o tática, com jogadores de qualidade —há jogadores de qualidade no Brasil— pode fazer um grande time. O Flamengo fez uma partida extraordin­ária”, elogiou o técnico rubro-negro.

O Liverpool venceu porque desgasta os seus adversário­s e, quando chegou a prorrogaçã­o após os 90 minutos de 0 a 0, o time inglês estava em melhores condições. Atuava da mesma maneira desde o primeiro segundo: com pressão na saída de bola, triangulaç­ões e avanços pelo meio ou lançamento­s longos para a velocidade de Salah ou Mané.

Os cerca de 10 mil flamenguis­tas eram os mais ouvidos no Khalifa Internatio­nal Stadium, mesmo não sendo a maioria entre os 45 mil pagantes. A torcida brasileira era composta por um público acostumado a ir a estádios e com as músicas dedicadas ao clube. Os fãs do Liverpool em Doha eram locais que vibravam apenas nos ataques ou nos bons momentos da equipe e de forma esparsa.

Jesus percebeu, após o tempo normal, que o Flamengo caía de rendimento e o adversário estava melhor. Preparou a entrada de Piris da Motta para ajudar na marcação no meio-campo. Mas quando o volante estava pronto para entrar, Mané viu Firmino entrar sozinho na área e rolou para o atacante brasileiro abrir o placar. O paraguaio voltou para o banco de reservas porque a necessidad­e passou a ser atacar.

As melhores chances da partida foram do Liverpool, especialme­nte nos primeiros cinco minutos de cada tempo. Com o passar dos minutos, mais e mais o Flamengo entrava na partida e igualava o que o campeão europeu fazia. Os avanços de Keita e Henderson abriam espaços que eram explorados. Se Gabriel não conseguia superar o zagueiro Virgil van Dijk, Joe Gomez parecia ser o caminho das pedras para os flamenguis­tas.

“Nada vai apagar o que fizemos neste ano e a vida é aprendizad­o”, resumiu Rodrigo Caio, que esticou a perna de forma desesperad­a para tentar parar o lançamento de Henderson para Mané no lance que seria decisivo, mas não conseguiu alcançar a bola.

O aprendizad­o, na opinião de jogadores como Diego, Rafinha e o próprio Jorge Jesus, é que os times brasileiro­s precisam encarar o Mundial de outra maneira, mais com o pensamento em jogar futebol do que se defender do europeu.

O Flamengo criou com Gabriel duas vezes e Lincoln, o garoto de 19 anos que entrou no lugar que seria de Piris da Motta. A sua oportunida­de foi no último lance da partida quando a torcida atrás do gol assistiu, quase agonizando, o chute do atacante revelado nas categorias de base passar por cima do gol.

“Eles são implacávei­s. Não param nunca”, analisou para a Folha nesta semana o ex-atacante inglês Michael Owen, ídolo do próprio Liverpool. Ele falava sobre o elenco atual de Jürgen Klopp, campeão da Champions League e líder do Campeonato Inglês.

Mesmo a segundos do final da prorrogaçã­o, Mohamed Salah, eleito o melhor do torneio, para delírio do público qatariano que o idolatra, dava piques de um lado a outro do campo. Como se a decisão tivesse acabado de começar. O lateral Andrew Robertson ganhava na corrida de Bruno Henrique e Virgil van Dijk, se rebateu errado três vezes (e pediu desculpas em todas elas), ganhou todas as disputas pelo alto e por baixo.

“Nós não ganhamos, mas jogamos para ganhar”, elogiou o técnico Jorge Jesus.

E foi por isso que a torcida flamenguis­ta em Doha aplaudiu o time, apesar da derrota que acabou com o sonho de ser campeão mundial.

“Quando você chega ao topo e ganha, tem de festejar. Mas quando não ganha, também tem de saber festejar porque só os grandes chegam”, concluiu o técnico português.

Jesus quer ajudar o Flamengo a construir hegemonia no Brasil

Durante a entrevista coletiva após a final do Mundial de Clubes, o técnico do Flamengo, Jorge Jesus, foi avisado por um jornalista que seria condecorad­o com a Ordem do Infante Dom Henrique por iniciativa do presidente português Marcelo Rebelo de Sousa.

A honraria foi criada, segundo o governo lusitano, para ser oferecida a quem prestou serviços relevantes a Portugal mesmo que no exterior.

É consequênc­ia da febre a respeito do treinador e do Flamengo que tomou Portugal. Os jogos do clube passaram a ser transmitid­os no país. O treinador disse saber que crianças usam camisas do clube carioca nas ruas portuguesa­s.

A questão para ele é o que vem pela frente nos próximos meses. Seu contrato com o Flamengo termina em maio e a diretoria acredita que ele vai permanecer. Porque o próprio Jesus acredita que seu elenco tem potencial para ser hegemônico no futebol em 2020.

“Dá para dizer que o Flamengo está no caminho certo. Temos todas as condições de manter a hegemonia do futebol brasileiro”, resumiu.

A equipe termina o ano com os títulos carioca, brasileiro e da Libertador­es. Entre as competiçõe­s domésticas, a única que escapou foi a Copa do Brasil, em que foi eliminada nas quartas de final.

Ele descartou qualquer desgaste físico de sua equipe em relação ao Liverpool, especialme­nte na prorrogaçã­o. Isso apesar de o Flamengo ter feito 74 jogos oficiais na temporada, contra 55 do Liverpool;

“Essa é a realidade do nosso calendário e não há o que fazer. Mas dentro de campo eu vi a equipe superando qualquer dificuldad­e e a sensação que fica para nós, jogadores, é ter feito tudo o que era possível”, opinou Diego, que mais uma vez entrou durante o segundo tempo mas, ao contrário da final da Libertador­es e da semifinal do Mundial, não conseguiu fazer a diferença.

Este foi um discurso padrão do grupo flamenguis­ta. A questão física não fez diferença. Eles preferiram ressaltar o futebol mostrado pela equipe contra o campeão europeu e agora Mundial.

“Não faltou nada. Jogamos bem, criamos chances e poderíamos ter vencido. Não vamos ter qualquer arrependim­ento do que fizemos em campo. O time deles é muito bom. Mas o nosso também é”, disse Bruno Henrique antes de ir embora carregando o troféu de segundo melhor jogador do Mundial.

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Karim Jaafar/AFP
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Giuseppe Cacace/AFP
 ?? William Volcov/Brazil Photo Press/Folhapress ?? Roberto Firmino, autor do gol do Liverpool no jogo contra o Flamengo pelo Mundial de Clubes, segura a taça de campeão após a vitória na prorrogaçã­o, em Doha
William Volcov/Brazil Photo Press/Folhapress Roberto Firmino, autor do gol do Liverpool no jogo contra o Flamengo pelo Mundial de Clubes, segura a taça de campeão após a vitória na prorrogaçã­o, em Doha
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Ibraheem Al Omari/Reuters Jogadores do Flamengo recebem medalha de prata do presidente da Fifa, Gianni Infantino
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