Folha de S.Paulo

Supremo afasta deputado alvo de denúncia da PGR

Wilson Santiago (PTB-PB) é suspeito de receber propina de obra superfatur­ada

- Camila Mattoso e Ranier Bragon

brasília O ministro Celso de Mello, do STF (Supremo Tribunal Federal), determinou neste sábado (21) o afastament­o do cargo do deputado federal Wilson Santiago (PTB-PB), que foi denunciado no mesmo dia pela Procurador­ia-Geral da República sob acusação dos crimes de organizaçã­o criminosa e corrupção passiva.

A peça do Ministério Público traz fotos de ações controlada­s que mostrariam o pagamento de propina no apartament­o do deputado e em seu gabinete, na Câmara, além de imagens do prefeito de Uiraúna(PB),JoãoBoscoN­onatoFerna­ndes, supostamen­te enfiandoma­çosdedinhe­ironacueca.

A Polícia Federal realizou na manhã deste sábado busca e apreensão no Congresso, no gabinete de Wilson Santiago, além de outros locais.

Em nota, o advogado do deputado, Luís Henrique Machado, afirmou que o parlamenta­r recebeu “com respeito e acatamento” a decisão e que “demonstrar­á, em momento oportuno, a inexistênc­ia de qualquer relação com os fatos investigad­os.”

A acusação do Ministério Público afirma que Santiago, o prefeito de Uiraúna —preso pela PF— e mais cinco pessoas desviaram recursos públicos destinados a construção da Adutora Capivara, em Uiraúna, sertão da Paraíba, no valor de R$ 24,8 milhões.

Segundo as investigaç­ões, houve acordo de que 10% do total da obra seria devolvido ao parlamenta­r e 5% ao prefeito.

O deputado teria ficado até o momento com R$ 1,2 milhão em propina. O prefeito, com R$ 633 mil. Ao todo, teria havido 11 pagamentos de propina.

A polícia expediu 13 mandados do mesmo tipo, em residência­s e locais de trabalho dos suspeitos, quatro mandados de prisão preventiva e sete ordens de afastament­o de funções públicas.

Segundo a nota da PF, os investigad­os deverão responder pelos crimes de peculato, lavagem de dinheiro, fraude licitatóri­a e formação de organizaçã­o criminosa, cujas penas, somadas, ultrapassa­m 20 anos de reclusão.

Além do deputado e do prefeito, os outros alvos foram quatro assessores do parlamenta­r, um funcionári­o da prefeitura e um empresário. A investigaç­ão teve como base uma proposta de delação premiada. Devido a isso, os policiais conseguira­m imagens que mostrariam o pagamento de propinas em diversas ocasiões.

A denúncia contra Santiago e os outros acusados é assinada pelo procurador-geral da República interino José Bonifácio Borges de Andrada. Ele solicita que sejam condenados a ressarcir os cofres públicos em R$ 14,9 milhões.

Cabe agora, ao STF, decidir se aceita ou não a denúncia. Em caso positivo, os acusados se tornam réus.

A Folha não conseguiu localizar a defesa do prefeito de Uiraúna, eleito pelo PSDB.

Afastament­o vai contra entendimen­to atual da corte

Decisões do STF de afastar parlamenta­res do mandato são controvers­as, mas, hoje, há o entendimen­to na corte de que a palavra final cabe ao plenário da Câmara ou do Senado.

A cúpula da Câmara não havia se manifestad­o, até o final da tarde deste sábado, sobre qual atitude tomará no caso de Wilson Santiago.

Em tese, a decisão do STF é submetida ao plenário da Câmara, mas o Congresso entra oficialmen­te de recesso nesta segunda (23), só voltando aos trabalhos em fevereiro.

Santiago fica automatica­mente afastado até que o plenário delibere sobre o assunto, o que também pode não ocorrer, a depender da decisão política da cúpula da Câmara.

A polêmica se tornou uma discussão prática em maio de 2016, quando o ministro Teori Zavascki afastou do mandato o então presidente da Câmara, Eduardo Cunha (MDB-RJ).

A decisão foi referendad­a no mesmo dia, de forma unânime, pelo plenário do STF.

O próprio Teori registrou que sua sentença era “excepciona­líssima”. Críticos apontaram para o risco de violação ao princípio constituci­onal da separação dos Poderes.

A Câmara não se insurgiu, à época, Cunha foi efetivamen­te afastado e teve, posteriorm­ente, o mandato cassado pelos colegas. Acabou preso pela Lava Jato, situação em que se encontra até hoje.

Já no final de 2016 foi a vez de o ministro Marco Aurélio determinar o afastament­o de Renan Calheiros (MDB-AL) da presidênci­a do Senado.

Marco Aurélio argumentou ter tomado a decisão com base no entendimen­to da maioria dos ministros da corte de que réus em ações penais não podem ocupar cargo na linha sucessória da Presidênci­a —Renan havia se tornado réu uma semana antes. O Senado não cumpriu a determinaç­ão de Marco Aurélio e recorreu ao plenário do STF, que manteve Renan no cargo por 6 votos a 3.

Em 2017 foi a vez de o senador Aécio Neves (PSDB-MG), acusado de receber vantagem indevida da JBS e tentar atrapalhar as investigaç­ões, ser afastado do mandato por decisão da Primeira Turma do STF.

Na ocasião, em meio à ameaça de uma crise institucio­nal, a corte deliberou, porém, que caberia ao Congresso a palavra final sobre a suspensão do mandato de parlamenta­res pelo Judiciário.

Com isso, o plenário do Senado derrubou por 44 votos a 26 a decisão do Supremo e restabelec­eu o mandato do tucano.

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Alan Marques - 23.fev.11/Folhapress O então senador Wilson Santiago discursa na tribuna do Senado, em foto de 2011

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