Folha de S.Paulo

Liverpool ganha o mundo com dono perito em quebrar tabus

Grupo americano revitalizo­u o clube inglês com práticas de montagem de time que deram certo no beisebol

- Alex Sabino e Caio Carrieri

doha e liverpool Campeão mundial, o Liverpool estava à beira do abismo na década passada. Com dívidas feitas pelos antigos donos, os americanos Tom Hicks e George Gillett, o clube esteve próximo de ser executado pelos bancos. De acordo com o jornalista Brian Reade no livro “An Epic Swindle” (Um Golpe Épico), era uma questão de horas.

Tom Hicks é o mesmo empresário envolvido na Hicks Muse, companhia parceira de Corinthian­s e Cruzeiro no fim dos anos 1990. Os contratos eram de 10 anos, mas depois de dois foram desfeitos.

O salvador do Liverpool foi o Fenway Sports Group, que assumiu o controle em outubro de 2010 após pagar US$ 477 milhões (R$ 2 bilhões em valores atuais). Segundo a revista Forbes, o valor de mercado da agremiação hoje é de US$ 2,2 bilhões (R$ 9,46 bilhões).

O Liverpool conquistou a Europa e o mundo em 2019, mas o mais importante para os torcedores ainda está por vir. O time é líder do Campeonato Inglês e, ainda invicto no torneio, é o favorito ao título. Se vencê-lo, acabará com uma espera de 29 anos.

Este foi o primeiro título mundial do clube, que venceu a competição na sexta chance que teve. Duas vezes abdicou e foi derrotado nas outras três.

Acabar com escritas é a especialid­ade de John W. Henry, dono do Fenway Sports Group, empresa que faz parte da holding que controla o Boston Red Sox, um dos times mais tradiciona­is do esporte americano. Com Henry, a equipe foi campeã da World Series, como se chama o título da Major League Baseball, após 86 anos de espera.

Ele fez isso aplicando uma fórmula que introduziu no Liverpool: o moneyball, termo populariza­do pelo livro de mesmo nome escrito pelo jornalista Michael Lewis, que narra a trajetória de Billy Beane, gerente e hoje um dos acionistas do Oakland A’s e sua estratégia para se igualar aos rivais que tinham muito mais dinheiro. Usava exaustivas análises e estatístic­as inovadoras. Dados que às vezes iam contra o conceito geral.

“Na década de 1990, o Liverpool era um clube de copas, não de liga, porque só conseguiam contratar um ou dois bons jogadores por temporada. E isso colocava um limite de onde o time poderia chegar”, afirma Kieran Maguire, especialis­ta em finanças do futebol e professor da Universida­de de Liverpool.

Nos últimos dez anos, a receita do Liverpool saltou 145%. Foi de 185 milhões de libras (cerca de R$ 962 milhões) para 455 milhões de libras (R$ 2,36 bilhões). Sob a supervisão de Henry e a partir da contrataçã­o de Jürgen Klopp em 2015, o clube começou a ir às compras usando banco de dados, estudos técnicos e de mercado.

Nesta década, ao mesmo tempo em que conseguiu melhorar a equipe, lucrou 350 milhões de libras (R$ 1,8 bilhões) no balanço entre compra e venda de atletas. Isso apesar de ter quebrado o recorde de valores pagos por um goleiro (Alisson, comprado por R$ 338 milhões) e um zagueiro (Virgil van Dijk, R$ 390 milhões).

“O gasto líquido deles não é muito alto. Ao mesmo tempo que compraram Alisson e Van Dijk, venderam Phillippe Coutinho, Luis Suárez e Raheem Sterling”, completa Maguire.

Henry é quem viabiliza a estratégia, mas sem se intrometer, até porque já reconheceu entender muito pouco de futebol. Por entregar a execução do plano nas mãos dos especialis­tas, colhe os frutos.

Na temporada passada, o Liverpool foi o clube que mais recebeu dinheiro do contrato de TV do Reino Unido, porque teve mais jogos exibidos ao vivo. Foram 149 milhões de libras (R$ 775 milhões).

Mas a equipe não venceu o título inglês. Compensou com a conquista da Champions League, que lhe abriu as portas para, enfim, ganhar o troféu do Mundial de Clubes.

“As pessoas dizem que este era o troféu que faltava para a nossa equipe. Saímos de Liverpool e viajamos a Doha para acabar com isso”, constatou o volante James Milner.

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1 Flamenguis­ta fantasiado assiste ao time em Doha 2 Torcida do Flamengo no estádio Khalifa 3 Nas ruas do Rio de Janeiro, rubronegro­s acompanham a final em bares 4 Torcedor usa corrente com a palavra “fé” 5 Flamenguis­ta sofre com a equipe
3 1 Flamenguis­ta fantasiado assiste ao time em Doha 2 Torcida do Flamengo no estádio Khalifa 3 Nas ruas do Rio de Janeiro, rubronegro­s acompanham a final em bares 4 Torcedor usa corrente com a palavra “fé” 5 Flamenguis­ta sofre com a equipe
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