Concurso de musa causa briga na Faria Lima
Enquete virtual tem queixa de uso de robôs, desclassificação de vencedora e troca de farpas profissionais na Fintwit
SÃO PAULO Uma votação pelo Twitter de melhores do ano no mercado financeiro descambou para ataques pessoais, acusações de crimes e ameaças de agressão.
Para novatos no mundo dos analistas da av. Faria Lima, centro financeiro em São Paulo, a briga pareceu surpreendente, mas gestores dizem que as disputas são normais —e, em alguns casos, estratégia para atrair novos investidores.
A divergência começou após a acusação de que houve uso de robôs e envio de fotos sensuais (e nudes) para mudar o resultado da votação para a musa da Fintwit —comunidade virtual de influenciadores do mercado financeiro.
A eleição destacava ainda o muso da Fintwit, melhor gestor, melhor ação, entre outros.
Apoiadores da musa derrotada,que liderou a disputa por boa parte da corrida, acusaram a vencedora de manipular o resultado. O organizador aceitou os argumentos e declarou a segunda colocada vencedora.
A primeira colocada é funcionária da plataforma Traders Club,u sada por pequenos investidores para trocar informações sobre o mercado financeiro, que negam a acusação.
“Empresa explodindo evamos comprar robô para votar em musa do Twitter?”, tuitou Pedro Mariano da Rocha, chefe de vendas do Traders Club. “Isso tem cara de algum hater querendo jogar as pessoas contra nós”, escreveu.
A vencedora pediu desculpas, a derrotada fez pouco caso e disseque estava ocupada trabalhando. Mas abriga não parou aí. Torcedores iniciaram troca de acusações que enveredaram pelo terreno profissional, resgatando antigas e criando novas rixas.
Rafael Ferri, também membro do TradersClub, levantou dúvidas se o analista Jordan Lima, que apoiava a outra candidata, alguma vez já havia operado no mercado financeiro.
“Quero fazer uma doação neste natal pro instituto do câncer infantil de R $10 mil reais. Para isso basta o tal trader Jordan postar 1 DARF paga de 50 mil reais. Será que ele já operou na vida?”, escreveu Ferri.
Dar fé aguia usada para dedução e pagamento de impostos em operações financeiras. O valor serve como referência de quanto o investidor ganhou.
“Avisa ao caipira RAFAEL FERRI, condenado pela CVM por crime financeiro em que recorre em segunda instância, que comigo o desenrolo é simples, não tem essa viadagem de DARF não. Vou te encontrar em breve e resolvemos isso na mão seu cuzão!!!”, respondeu Jordan.
As mensagens foram apagadas na quinta-feira (19).
Ferri foi investigado pela Comissão de Valores Mobiliários por suposta manipulação de mercado e uso de informação privilegiada no caso da “bolha do alicate”, em 2011, quando as ações da empresa Mundial tiveram oscilações bruscas.
Ele foi absolvido pela CVM e pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região do crime de informação privilegiada, mas condenado pela comissão por manipulação das ações e foi proibido de atuar no mercado por cinco anos. Ferri recorre da decisão.
Já o TRF-4 devolveu a acusação de manipulação para a primeira instância. A defesa de Ferri recorre dessa decisão.
“Todo dia tem briga na Fintwit, essa só teve mais repercussão. Não acho que sejam ruins para o mercado, elas desmascaram quem é de verdade e quem é de mentira”, disse Ferri. A Folha não conseguiu contato com Jordan.
“Pessoas buscam conflito para ter mais seguidores. Quem polemiza ganha com mais audiência e mais público, e muitos fazem de propósito porque têm canal no YouTube ou vendem curso”, diz o economista-chefe da Necton
Investimentos, André Perfeito, que também usa o Twitter.
Para ele, conflitos são naturais no mundo da Faria Lima.
“Essas brigas fazem parte da natureza do trabalho no qual há um antagonismo: se alguém comprou, alguém vendeu”, diz Perfeito sobre ganhar ou perder dinheiro com ações.
Para Renoir Vieira, da Pacific Investimentos, conflitos públicos se transformam em estratégia para atrair clientes.
“São casas de análise e gestores competindo por assinante e clientes”, disse Vieira.
“É sua tese [de investimento] contra minha tese, e [a discussão] acaba saindo do controle, as pessoas se estressam. Não é o primeiro e nem vai ser o último conflito. Foi apenas mais um dia na Faria Lima”, completa.