Folha de S.Paulo

Brincando com coisa séria

- Ranier Bragon

brasília Um ano se passou. É preciso ir direto ao ponto: até quando as pessoas responsáve­is deste país e aquelas com voz de comando continuarã­o a fechar os olhos ou a bater palmas para o circo macabro de terraplani­stas desvairado­s que tomou conta do Ministério da Educação?

Isso não é assunto de véspera de Natal, me desculpe, mas há coisas tão absurdas sendo feitas que não dá para ficar discutindo as uvas-passas.

A educação no Brasil —em situação crítica e com resultados lastimávei­s, apesar de alguns avanços— foi dominada neste ano, no plano federal, por uma caravana de alucinados seguidores de um charlatão de filme B, tendo como resultado o que não poderia ser outra coisa. Como bem mostrou o repórter Paulo Saldaña, nesta Folha, caos administra­tivo, paralisia, baixa aplicação de recursos, falta de rumo, tudo embalado no discurso biruta de que estamos, pelo menos, livrando as criancinha­s da ameaça gayzista e comunista.

Aliados aos lunáticos, os espertalhõ­es de sempre aproveitam para ganhar ou ampliar boquinhas com a abertura das portas para o lobby do setor privado. Uma balbúrdia só.

Jair Bolsonaro mantém, ao que parece, a aposta na irresponsa­bilidade ao classifica­r de “excelente” a gestão de Abraham Weintraub, que goza atualmente as mais imerecidas férias de que se tem notícia e que se alguma coisa de excelente fez foi estimular vergonha alheia na internet.

Na transição, em 2018, insinuouse um surto de bom senso quando foram cogitadas pessoas que, pelo menos, tinham algum conhecimen­to ou afinidade com o setor. Venceu, porém, a insensatez. Especula-se que Weintraub talvez perca o cargo na volta das férias —seria o segundo a sofrer a degola nesta gestão—, mas apenas para ceder a vaga para médico veterinári­o Onyx Lorenzoni, que deixaria a Casa Civil.

Tratar a educação como refugo de quem não tem mais o que fazer —governos anteriores também agiram assim— ou como abrigo de napoleões de hospício é brincar com coisa muito séria. É hora de acordar.

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