Folha de S.Paulo

Supostos autores de ataque a base foram instruídos no Brasil, diz Caracas

Ministro venezuelan­o afirma que grupo se hospedou em Pacaraima (RR); PF não se pronuncia

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SÃO PAULO E BRASÍLIA | AFP O governo da Venezuela voltou a acusar o Brasil de ter dado apoio a um ataque contra uma base militar no sul do país, ocorrido no domingo (22), no qual foram roubadas armas, incluindo equipament­os para derrubar aeronaves.

Em uma entrevista coletiva nesta segunda (23), o ministro da Comunicaçã­o, Jorge Rodríguez, afirmou que os supostos militares desertores que invadiram o Batalhão de Infantaria de Selva Mariano Montilla, na localidade de Luepa, perto da fronteira com o Brasil, ficaram hospedados por 15 dias em um hotel de Pacaraima, em Roraima, cidade vizinha à venezuelan­a Santa Elena de Uairén.

Segundo Rodríguez, o grupo foi financiado e instruído por Andrés Antonio Fernández Soto, a quem o ministro acusou de ser traficante de ouro. Ele estaria vivendo no Brasil.

“O governo do Brasil tem que explicar por que um criminoso, traficante de ouro e assassino, que esteve por trás de ações contra o comando da Venezuela, este senhor, Antonio ‘Toñito’ Fernández, foi quem manteve os desertores e criminosos em Pacaraima durante 15 dias, quem lhes deu dinheiro e quem lhes prometeu dar uma quantidade de dinheiro depois que eles atacassem a base militar”, afirmou Rodríguez.

“O governo do Brasil não tem nada a ver com isso? Então que prenda e nos entregue Toñito”, disse o ministro.

De acordo com a imprensa venezuelan­a, Toñito Fernández chegou a ser detido pela Polícia Federal em Pacaraima em junho de 2018, como parte de uma operação conjunta com a Guarda Nacional Bolivarian­a contra uma rede de contraband­o de ouro.

O Itamaraty negou que o

Brasil tenha tido qualquer participaç­ão neste episódio. Procurada pela Folha , a PF não se manifestou.

Rodríguez disse também que o ataque ao quartel tinha como objetivo roubar armas, incluindo lança-foguetes, para forjar um ataque venezuelan­o contra um avião ou helicópter­o da Colômbia. “O objetivo era montar um ‘falso positivo’ para que o governo dos EUA pudesse então intervir militarmen­te na Venezuela.”

No domingo, Rodríguez havia publicado em uma rede social que os autores do ataque ao quartel “foram treinados em acampament­os paramilita­res plenamente identifica­dos na Colômbia, e receberam a colaboraçã­o ardilosa do governo de Jair Bolsonaro”.

As mensagens foram compartilh­adas também pelo perfil do ditador Nicolás Maduro.

Os supostos desertores teriam sido treinados em Cali, na Colômbia, e de lá viajaram por estrada para o Equador e depois para o Peru.

O grupo teria, então, entrado no Brasil, passado por Manaus (AM) e chegado a Pacaraima, onde teria recebido “instruções e planejamen­to” de Toñito Fernández.

O ministro Rodríguez afirmou ainda a existência de um suposto conluio com os deputados opositores Yanet Fermín, Gaby Arellano, Ismael León, Gilber Caro e José Manuel Olivares. Em nota, a Assembleia Nacional, controlada por antichavis­tas mas cuja autoridade foi esvaziada pela governista Assembleia Constituin­te, refutou as “falsas acusações”.

No dia 14, o regime já havia acusado dois parlamenta­res de planejar um golpe contra Maduro, com suposta cumplicida­de do líder oposicioni­sta Juan Guaidó, reconhecid­o como presidente interino por mais de 50 países.

De acordo com o ministro, os invasores levaram um lote de armas e um caminhão da base do batalhão Mariano Montilla, em Luepa. De lá, atacaram dois postos policiais, onde roubaram mais armas. Em Luepa, houve confrontos envolvendo civis e militares, e um soldado morreu.

Após o ataque, várias unidades militares e policiais perseguira­m os invasores e conseguira­m recuperar a maior parte das armas. Sete indígenas da etnia pemón, acusados de ter envolvimen­to na ação, foram presos, e outros quatro estariam desapareci­dos.

Com seus território­s na tríplice fronteira seca com Brasil e Guiana, os pemones voltaram-se contra Maduro neste ano, após se queixarem do abandono da região e da crescente violência.

“O governo do Brasil tem que explicar por que um criminoso, traficante de ouro e assassino, que esteve por trás de ações contra o comando da Venezuela, este senhor, Antonio ‘Toñito’ Fernández, foi quem manteve os desertores e criminosos em Pacaraima durante 15 dias

Jorge Rodríguez ministro da Comunicaçã­o

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Reprodução/VTV O ministro venezuelan­o Jorge Rodríguez, em entrevista coletiva em Caracas
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