Folha de S.Paulo

Acordo encerra impasse e abre espaço para nova Bolsa no Brasil

- Júlia Moura Com a Reuters

SÃO PAULO A B3 e a ATS (Americas Trading Systemp) chegaram a um acordo que abre espaço para uma nova no Brasil.

Segundo comunicado ao mercado publicado nesta segunda-feira (23), a B3, operadora da Bolsa brasileira, irá oferecer o serviço de transferên­cia de valores mobiliário­s para o mercado de renda variável, com taxa de 0,26 ponto-base. Segundo a B3, uma compra de ação de R$ 10 por outra Bolsa daria R$ 0,026 à empresa, por exemplo.

Com a decisão, a ATS, empresa controlada pela ATG (Americas Trading Group), fica mais perto de ser a segunda Bolsa brasileira.

Segundo agentes do mercado, a concessão do serviço de transferên­cia de valores mobiliário­s marca a abertura do setor para novas companhias, não só a ATS. Isso porque tal serviço, chamado de CSD, é exclusivo da B3.

No pregão desta segunda, as ações da B3 chegaram a cair 6,5%, mas fecharam em queda de 4,5%, a R$ 46,87. No ano, a empresa acumula valorizaçã­o de 74%, uma das maiores do Ibovespa.

Para evitar a concentraç­ão do setor, ao aprovar a compra da Cetip pela BM&FBovespa, em 2017, que deu origem a B3, o Cade (Conselho Administra­tivo de Defesa Econômica) definiu que a nova empresa teria de abrir seus sistemas para terceiros, particular­mente a ATG —que tinha denunciado a Bolsa por abuso de poder ao Cade.

Naquele momento, a ATG afirmou que o preço cobrado pela Bolsa para a transferên­cia de titularida­de de papéis (como ações, por exemplo) era 22 vezes maior que a média mundial —algo que a B3 nega.

Cristiane Alkmin, relatora do caso no Cade, defendeu então que o tribunal determinas­se o preço de acesso aos sistemas da Bolsa, mas foi voto vencido.

A maioria dos conselheir­os optou por uma saída “light” porque entendeu não ser função do Cade regular o preço da troca de titularida­de. Esse papel é exercido pela CVM (Comissão de Valores Mobiliário­s). Porém, até hoje não há regulação para quem quer entrar no mercado da Bolsa.

O Cade determinou que a ATS e a B3 resolvesse­m a questão do preço numa discussão à parte.

Sem sucesso, ela acabou virando uma arbitragem, na Câmara de Comércio Brasil-Canadá (CCBC). Após mais de dois anos, o impasse chegou ao fim na noite de sexta (20) e foi comunicado nesta segunda.

Segundo Rafael Cota Maciel, gestor de renda variável da AF Invest, com a concorrênc­ia, a B3 reduziria taxas para reter clientes, “o que, no pior cenário, poderia impactar 2,5% da receita total da companhia”, diz.

Para ele, no entanto, o cenário não é preocupant­e, já que o volume de transações e de investidor­es na Bolsa tem crescido de forma exponencia­l.

“Com juro baixo no Brasil, sem grande problema político interno ou externo, os volumes de 2020 ficariam ainda maiores, o que compensari­a eventuais reduções de taxas, que hoje são caras. O setor precisa de competição.”

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