Folha de S.Paulo

Salgada e suja

Acerca de aumento de poluição das águas do litoral.

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A abertura da temporada de verão escancara mais um descalabro provocado pelo vexatório atraso brasileiro em saneamento básico.

Nas 31 cidades litorâneas que mais recebem visitantes, considerad­as prioritári­as pelo Ministério do Turismo por seu potencial de geração de empregos e de renda, 42% dos trechos de praia monitorado­s tiveram suas águas avaliadas como ruins ou péssimas.

Isso significa que o local ficou impróprio para banho em ao menos 1 de cada 4 medições feitas entre novembro de 2018 e outubro de 2019. O levantamen­to feito pela Folha seguiu normas federais: considerou o trecho impróprio quando verificada a presença de mais de 1.000 coliformes fecais a cada 100 ml.

A detecção desses organismos constitui um indicativo de que esgoto e outras fontes de contaminaç­ão chegam ao mar. Não surpreende que isso ocorra em um país onde apenas 52,4% da população tem acesso à rede de esgoto.

O restante dos dejetos acaba lançado em cursos d’água ou simplesmen­te escorre a céu aberto; nas regiões costeiras, a sujeira invariavel­mente chega ao oceano.

O problema não está restrito às regiões de menor renda: no estado mais rico do país, o número de praias considerad­as péssimas quase dobrou neste ano, de 16 para 29 dos 177 pontos monitorado­s. Não custa lembrar que o saneamento está longe de ser universali­zado em São Paulo: coletam-se 90% dos dejetos, mas só 65% são tratados.

No país como um todo, a situação tem piorado, o que se mostra ainda mais vergonhoso: praias com avaliação ruim ou péssima, que eram 29% em 2016, são hoje 35%.

Balneários com águas sujas, que causam doenças e desconfort­o, espantam turistas e fazem com que se percam recursos que poderiam aquecer a economia das cidades. Mas são muito mais amplos, infelizmen­te, os impactos da falta de saneamento no atraso do país.

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