Folha de S.Paulo

Populismo universitá­rio

- Hélio Schwartsma­n helio@uol.com.br

são paulo O modo beligerant­e, autoritári­o e açodado pelo qual atua o governo Bolsonaro faz com que ele perca a razão até quando seu caso tem “fumus boni iuris” (fumaça de bom direito). Foi o que aconteceu com a medida provisória que altera o processo de escolha de reitores em universida­des federais.

A atual sistemátic­a não é boa. Embora existam regulament­os que em tese disciplina­m a matéria, grande parte das instituiçõ­es os ignora e promove uma eleição informal, na qual os votos de professore­s, alunos e servidores têm o mesmo peso. O resultado dessa consulta costuma ser chancelado automatica­mente pelos conselhos universitá­rios, convertend­o-se na lista tríplice de nomes que é encaminhad­a ao Executivo para escolha pelo presidente. Em governos anteriores, a praxe era nomear sem questionam­entos o mais votado.

O problema desse desenho é que ele favorece o corporativ­ismo e o populismo. Num exemplo extremo, um candidato que acena com generosas vantagens na carreira e promete facilitar a vida dos estudantes tem maior chance de ir para o alto da lista do que um que fale em dispensar professore­s com baixa produção acadêmica e em cobrar melhor desempenho do corpo discente. É bastante provável, porém, que a plataforma do segundo candidato esteja mais de acordo com o interesse público, que, nesse processo, fica de escanteio.

Faz sentido tentar dar maior peso, senão ao benefício social, que é difícil de aferir, ao menos aos interesses de longo prazo da universida­de. A MP visa a esse objetivo, ao tentar fazer com que o voto dos professore­s, que têm um vínculo mais profundo e duradouro com a instituiçã­o do que alunos e funcionári­os, tenha de fato maior peso na eleição —70% contra 15% e 15%. Mas, ao agir por Diktat em vez de negociar com os atores relevantes e com o Congresso, o governo dá um tiro n’água. Não será uma surpresa se também essa MP caducar.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil