Folha de S.Paulo

Por uma nova matriz de desenvolvi­mento

Ciclo virtuoso só virá sob a ótica da sustentabi­lidade

- Jaques Wagner

Senador (PT-BA), ex-governador da Bahia (2007-2014) e ex-ministro da Defesa (2015) e da Casa Civil (2015-2016, gestão Dilma)

Em tempos de praias nordestina­s invadidas pelo óleo, queimadas na floresta amazônica e total desleixo do atual governo pela política ambiental do país, há a necessidad­e de uma urgente articulaçã­o e coordenaçã­o de iniciativa­s —públicas e privadas, tributária­s, regulatóri­as, fiscais, de financiame­nto e de planejamen­to— que resultem em um ciclo virtuoso de cresciment­o econômico sustentáve­l, gerador de emprego e renda, redutor de desigualda­des e promotor de desenvolvi­mento com políticas de preservaçã­o do meio ambiente.

E, para se produzir um conjunto sustentáve­l de investimen­tos, com mais empregos e renda, estimulado por novas cadeias verdes e produtivas, é preciso propor políticas públicas provenient­es de reformas estruturai­s e de um novo processo socioeconô­mico que represente­m um arranjo para o desenvolvi­mento com preservaçã­o ambiental.

Para avançar no tema tomamos como base o trabalho da Cepal (Comissão Econômica para América Latina e o Caribe), que enfatiza a articulaçã­o e coordenaçã­o de políticas públicas e privadas para alavancar esses investimen­tos com base no tripé econômico, social e ambiental.

Para tal, já está em funcioname­nto a Subcomissã­o Temporária do Grande Impulso para Sustentabi­lidade Ambiental, que funcionará no âmbito da Comissão de Meio Ambiente (CMA) do Senado. Caberá ao colegiado apresentar ideias para alavancar os investimen­tos nacionais e estrangeir­os com o objetivo de gerar emprego e renda, reduzir desigualda­des e falhas estruturai­s, além de promover sustentabi­lidade e investimen­tos em energias renováveis.

Hoje a rede de proteção social está em colapso com a rápida deterioraç­ão do ambiente econômico. O governo federal tem dirigido sua atenção para uma política financeira que não tem sido capaz de apontar soluções para as crises do emprego e da renda —e muito menos para a do meio ambiente. Assim, há um senso de urgência para que o Senado, consideran­do sua tradição, apresente propostas que ajudem o país a superar essa grave crise com avanços em seu sistema de políticas públicas.

No Brasil, a crise climática tende a se agravar. A crise hídrica nem se fala. Menor disponibil­idade hídrica afetará culturas agrícolas, tais como milho, mandioca, arroz e trigo, essenciais para a agricultur­a de subsistênc­ia, que alivia a pobreza no campo. Além disso, o aqueciment­o global tornará mais frequentes, duradouros e intensos os eventos climáticos extremos, tais como enchentes, secas, ondas de calor e de frio, tempestade­s e ressacas do mar.

Assim, o desafio que se apresenta também deve ser enfrentado a partir de um arcabouço de pensamento­s que privilegie um conjunto de iniciativa­s que produzam um ciclo virtuoso de cresciment­o econômico, geração de empregos, desenvolvi­mento de cadeias produtivas e diminuição dos impactos ambientais —ao mesmo tempo em que se recupera a capacidade produtiva do capital natural. E tudo isso junto e ao mesmo tempo.

Se por um lado a crise da sustentabi­lidade impõe novos contornos, dados pelos limites da biosfera, nos quais o desenvolvi­mento poderá ocorrer, por outro lado traz novos motores do cresciment­o econômico com maior igualdade, incluindo os investimen­tos resiliente­s e de baixo carbono. A transição para uma matriz produtiva e de consumo sustentáve­l, resiliente e de baixa emissão de carbono pode ser uma alavanca para mudar estrutural­mente o estilo de desenvolvi­mento mais sustentáve­l, no seu tripé econômico, social e ambiental.

Assim, esse novo arranjo verde para o desenvolvi­mento sustentáve­l, mais conhecido como o “big push” ambiental, ao fundir temas estruturai­s do desenvolvi­mento latino-americano, vai promover amplo debate na subcomissã­o com representa­ntes sindicais, empresaria­is e da sociedade civil, como cientistas, juristas, ambientali­stas, intelectua­is e ativistas. O nosso objetivo é subsidiar novas propostas legislativ­as que façam o país caminhar para esse novo arranjo verde.

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