Folha de S.Paulo

PF indicia Lula sob suspeita de propina de R$ 4 mi da Odebrecht para instituto

Repasses foram feitos de forma oficial como doação, mas investigaç­ão aponta origem ilícita

- José Marques e Felipe Bächtold

SÃO PAULO A Polícia Federal no Paraná indiciou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sob suspeita de corrupção passiva e lavagem de dinheiro relacionad­os a repasses de R$ 4 milhões feitos pela Odebrecht ao Instituto Lula.

O relatório final da PF foi assinado na última segundafei­ra (23) pelo delegado Dante Pegoraro Lemos e faz parte de uma investigaç­ão aberta em 2015 para apurar o recebiment­o de valores de empreiteir­as investigad­as na Lava Jato pela Lils, a empresa de palestras de Lula.

Atualmente, o petista é réu na primeira instância de Curitiba por outro caso que envolve o Instituto Lula, sob acusação de ter recebido propina da Odebrecht por meio da compra de terreno para uma nova sede da entidade —que acabou não sendo construída. O processo ainda aguarda sentença do juiz Luiz Antônio Bonat.

O indiciamen­to da PF foi feito em uma investigaç­ão relacionad­a a essa ação da compra do terreno. O entendimen­to da PF será encaminhad­o ao Ministério Público Federal, que decide se apresenta ou não uma denúncia à Justiça.

Em Curitiba, Lula já foi condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro nos casos do tríplex de Guarujá (SP) e do sítio de Atibaia (SP), em primeira e segunda instância —e, no caso do tríplex, também no STJ (Superior Tribunal de Justiça).

Os repasses investigad­os ao Instituto Lula foram feitos de forma oficial, como doação, entre dezembro de 2013 e março de 2014, mas a polícia desconfia que eles teriam como origem os créditos da conta de propinas gerenciada pela Odebrecht.

Uma das bases para o indiciamen­to é a delação do ex-executivo da Odebrecht Alexandrin­o Alencar, que disse que foram feitos repasses ao instituto “por solicitaçã­o e também por ‘política’”.

“Isso foi feito também para outros ex-presidente­s em outras épocas. No caso, feito por reconhecim­ento e agradecime­nto pelo que o ex-presidente fez pelo grupo e também por perspectiv­as futuras, dentre as quais a possibilid­ade de Lula voltar a ser presidente do país”, diz o relatório sobre as falas de Alexandrin­o.

Os valores desses repasses teriam saído, segundo a investigaç­ão, da conta de propinas “amigo”, controlada por Marcelo e negociada com Palocci. Em sua delação, Palocci diz que a conta “era uma retribuiçã­o de todos os auxílios feitos à Odebrecht pelo governo até 2010, decorrente­s de contratos com a Petrobras, Eletrobras, Belo Monte, dentre outros”.

A relação com o esquema de corrupção da Petrobras é fundamenta­l para que o caso seja mantido em Curitiba, onde são julgadas as ações da Lava Jato ligadas à estatal.

Para o delegado Lemos, “as evidências mostraram que os recursos transferid­os pela Odebrecht sob a rubrica de ‘doações’ foram abatidos de uma espécie de conta-corrente informal de propinas mantida junto à construtor­a, da mesma forma ocorrida com aqueles destinados à aquisição do imóvel para o Instituto Lula”.

“Surgem, então, robustos indícios da origem ilícita dos recursos e, via de consequênc­ia, da prática dos crimes de corrupção ativa e passiva, consideran­do o pagamento de vantagem indevida a agente público em razão do cargo por ele anteriorme­nte ocupado.”

Além de Lula, foram indiciados Paulo Okamotto, presidente do instituto, o ex-ministro Antonio Palocci e Marcelo Odebrecht, ex-presidente da empreiteir­a. Tanto Palocci como Marcelo fecharam acordos de delação premiada.

No relatório, o delegado aponta suspeita de superfatur­amento em serviços prestados ao instituto por meio de empresas dos filhos de Lula, como a G4, de Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha, e a FlexBR, de Sandro Luís Lula da Silva. Diz, porém, que é necessário uma “perícia pormenoriz­ada” para esclarecer o assunto.

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Danilo Verpa - 20.dez.17/Folhapress O ex-presidente Lula fala a jornalista­s durante café da manhã no instituto que leva seu nome, em 2017

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