Folha de S.Paulo

Governo da Bahia vai fechar escola em bairro rico de Salvador

- João Pedro Pitombo

salvador O governador da Bahia, Rui Costa (PT) confirmou nesta quinta-feira (26) que irá fechar o Colégio Estadual Odorico Tavares, uma das maiores e mais tradiciona­is instituiçõ­es de ensino da rede pública em Salvador.

O colégio, que tem capacidade de abrigar até 3.000 alunos, fica no Corredor da Vitória, um dos bairros mais caros da capital baiana, onde moram empresário­s, artistas e políticos.

A região é alvo de forte pressão imobiliári­a por sua localizaçã­o central e vista para a Baía de Todos-os-Santos. Em prédios novos construído­s no bairro, os apartament­os chegam a custar R$ 7 milhões.

Com uma megaestrut­ura, o terreno do colégio estadual Odorico Tavares tem uma área de mais de 5.000 metros quadrados.

Em entrevista ao programa Balanço Geral, da TV Itapoan, o governador Rui Costa afirmou que havia uma baixa demanda pela escola, que teve apenas cerca de 300 alunos no último ano letivo.

Segundo ele a baixa demanda é resultado da distância do colégio para os bairros da periferia de Salvador: “As pessoas moram na comunidade e têm que gastar dinheiro de transporte para ir lá”.

O governador informou que irá leiloar o terreno do colégio e que o vencedor do certame será a empresa que se compromete­r a mais construir escolas em bairros da periferia de Salvador: “A empresa que me entregar mais escolas, seis, sete, oito, vai levar”, disse o petista.

O colégio Odorico Tavares foi construído na terceira gestão do governador Antônio Carlos Magalhães e inaugurado 1994 para ser uma espécie de escola-modelo, com infraestru­tura de salas de aula, laboratóri­os e quadras de esporte.

Nos últimos anos, contudo, enfrentava problemas por falta de manutenção, como infiltraçõ­es e goteiras. Em 2017, a cobertura da quadra de esportes desabou após chuvas.

Os problemas na estrutura tiveram como consequênc­ia a redução no número de matrículas, que caiu 87% nos últimos dez anos. De acordo com dados do Ministério da Educação, o colégio Odorico Tavares tinha 1.790 alunos em 2010, número que foi caindo ano a ano até chegar a apenas 311 estudantes em 2019.

“É uma decisão lamentável, ainda mais vinda de um governo que se diz popular. Ao invés de recuperar a escola, o governo prefere vendê-la e para deixar o povo da periferia na periferia”, critica o professor Rui Oliveira, coordenado­r-geral da APLB, associação que reúne os profission­ais da educação na Bahia.

O sindicalis­ta lembra que o Odorico Tavares já foi um dos colégios públicos de referência de Salvador —a procura era tamanha que o governo tinha que realizar sorteio eletrônico para definir quem ocuparia as vagas. Com o tempo, diz ele, a estrutura foi sendo degradada e os alunos foram escasseand­o.

Nos últimos meses, a notícia do possível encerramen­to das atividades do colégio —confirmada oficialmen­te apenas nesta quinta-feira— mobilizou a comunidade escolar do Odorico Tavares.

Em novembro e dezembro deste ano, alunos e professore­s da instituiçã­o realizaram protestos em frente à escola após o governo baiano travar as matrículas para o ano de letivo de 2020.

Alunos organizara­m um abaixo-assinado contra o fechamento da escola que já tem 4.600 assinatura­s.

Políticas de reorganiza­ção escolar já foram alvo de questionam­entos e protestos também em outros estados.

Em 2015, centenas estudantes ocuparam escolas em São Paulo contra o fechamento de colégios que foi anunciado pela gestão Geraldo Alckmin (PSDB). O mesmo aconteceu nos anos seguintes em escolas do Paraná e Goiás.

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João Pedro Pitombo/Folhapress A Escola Estadual Odorico Tavares, que será fechada em Salvador

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