Folha de S.Paulo

Militar diz que suspeita contra brigadista­s do PA foi ‘brincadeir­a’

- Ana Carolina Amaral

são paulo O autor de um dos seis depoimento­s que baseiam o indiciamen­to dos brigadista­s voluntário­s de Alter do Chão (PA) pelos incêndios na região disse que a suspeita relatada à Polícia Civil do Pará foi dita originalme­nte em tom de brincadeir­a.

“Eu disse que a gente estava lá conversand­o entre nós e surgiu essa conversa lá no meio do pessoal: ‘será que não foram esses caras que tocaram fogo aí?’. E foi até em tom de brincadeir­a, num momento de descontraç­ão”, disse Jean

Carlos Leitão, militar da reserva e membro da Ares (Associação dos Reservista­s de Santarém).

A declaração foi ao ar na manhã de quinta (26) em uma entrevista ao programa Cartas na Mesa, da rádio Guarany FM, de Santarém (PA). Nela, Leitão também nega ter acusado os brigadista­s de crime.

“Não tenho envolvimen­to algum nessa questão de afirmar, até porque eu não vi. Eu não tenho como afirmar nada em relação a isso”, ele conclui.

Questionad­o pela rádio se ele acredita que os brigadista­s tenham cometido o crime,

Leitão respondeu: “Eu não sei, não tenho absolutame­nte ideia, entendeu? Se foi criminoso ou não foi criminoso”.

“Inclusive no meu depoimento deixo isso claro”, disse Leitão à rádio. No entanto, o registro de seu depoimento, acessado pelo blog, traz uma série de suspeitas sobre a atuação dos brigadista­s sem nenhuma ressalva.

“Eu fui depor porque a Polícia Civil veio aqui atrás de mim”, disse Leitão à rádio.

O depoimento dele, de mais três pessoas ligadas à Ares e de dois caseiros são listados como de relevância para “inferir

que a responsabi­lidade da ocorrência de focos de incêndio na APA de Alter do Chão encontra esteio na atuação de integrante­s da Brigada de Alter do Chão”, segundo o relatório de conclusão do inquérito da Polícia Civil do Pará.

Após a veiculação da entrevista, uma nota assinada pelo Projeto Aliança (rede de advogados, defensores públicos e promotores que atuam em casos de violação de direitos) defendeu o arquivamen­to definitivo do inquérito.

“Essa declaração é mais uma prova da ilegalidad­e, da arbitrarie­dade e da injustiça dessa investigaç­ão”, diz a nota do grupo, que também pede o avanço da apuração sobre os verdadeiro­s culpados.

Uma investigaç­ão conduzida pelo Ministério Público Federal aponta para grileiros como suspeitos dos incêndios na APA de Alter do Chão.

Leitão, que também é presidente do ICPET (Instituto Cidadão Pró Estado do Tapajós), nega ser contrário à atuação das ONGs. “Respeito muito e até ajudo algumas”, disse. Ele atribuiu à polarizaçã­o uma possível confusão entre seu depoimento e sua posição política. “Fui jogado no meio desse temporal aí”, disse.

No entanto, ele defendeu sua relação com um inimigo famoso de ONGs ambientali­stas e comunidade­s indígenas na região, Edward Luz, que atua como assessor parlamenta­r do ICPET.

Em sua página na internet, Luz comentou sobre o indiciamen­to dos brigadista­s em um texto sob o título “Boas notícias para o Brasil que ajudam a desintoxic­ar a Amazônia e o oeste do Pará infestado de militantes esquerdist­as”.

“A gente aceita ajuda dele como aceita de qualquer outra pessoa”, defendeu Leitão.

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