Competição entre a TV e o streaming aquece ano do fim de ‘Game of Thrones’
Plataformas de streaming se armaram para a guerra, e TV tradicional viu chegar ao fim um dos maiores fenômenos desta década
são paulo Os dragões de Daenerys Targaryen alçaram voo pela última vez em 2019, pondo um fim à saga de “Game of Thrones” 1 e dividindo a opinião dos fãs com sua conclusão sanguinária e inesperada.
Mas não foram apenas os habitantes de Porto Real (ou King’s Landing) que terminaram o ano pegando fogo. A indústria televisiva, nacional e estrangeira, também esquentou ao longo de 2019. No Brasil, o ano já começou agitado, com o anúncio, em janeiro, de que a gigante americana CNN estava fazendo as malas para desembarcar no país.
A emissora ainda não fez sua estreia por aqui (isso só deve ocorrer em março), mas tem sido responsável por baixas nas redações de emissoras e jornais —Monalisa Perrone abandonou a Globo, enquanto Reinaldo Gottino saiu da Record, para citar apenas dois contratados da rede.
O cenário lá fora não foi menos intenso. Assim como a batalha final de “Game of Thrones”, outra guerra há muito tempo ensaiada e que enfim estourou em 2019 foi a das plataformas de streaming.
Apesar de ainda reinar neste universo, a Netflix ganhou dois fortes oponentes em novembro: Apple TV+ e Disney+ —esta prevista para chegar ao Brasil em novembro de 2020.
Em território nacional, ela ainda recebeu, em setembro, a companhia da Amazon Prime Video e seu instigante leque de séries, que vai de “Fleabag” —elogiadíssima e premiadíssima em 2019— ao blockbuster heroico “The Boys”.
A corrida por assinantes deve se intensificar em 2020, ano para o qual os quatro serviços prometem grandes estreias. Baby Yoda 2 , personagem do seriado “The Mandalorian” que viralizou nas redes sociais pela fofura, deve ajudar a Disney+ nesta cruzada.
E, conforme a concorrência aumenta, mais fartos e diversificados vão ficando os catálogos de plataformas de streaming, canais fechados e da TV aberta. Foi o que a própria Netflix mostrou ao apostar em produções brasileiras, como “Irmandade”. A Globo, de forma similar, também tem desenvolvido conteúdo totalmente pensado para o seu streaming, o Globoplay.
Mas nem por isso a emissora deixou de olhar para o seu público de sempre. Inaugurou, em agosto, novos estúdios, destinados às novelas —a atual “Amor de Mãe” foi a estreante, gerando burburinho por quebrar convenções.
Queridinho do público brasileiro, o gênero esteve em alta em 2019. A última novela das nove da Globo, “A Dona do Pedaço” 3 , apostou numa trama tradicional, com muita picuinha e reviravoltas rocambolescas, e elevou a audiência da faixa após uma crise armada por suas antecessoras. Ainda levantaram a moral do gênero “Órfãos da Terra”, na faixa das seis, além de “Verão 90” e “Bom Sucesso”, às sete.
O ano também foi bom para os folhetins da Record TV, que viu que há sucesso além da Bíblia com a trama contemporânea de “Topíssima”.
O SBT colecionou controvérsias. Em seu programa, ao longo do ano, Silvio Santos tirou a vitória em um concurso de canto de uma concorrente negra, que foi eleita a melhor pelo público; repetiu uma saudação nazista; disse que era misógino; tirou sarro de Dudu Camargo dizendo que ele gostava “de pinto”; e promoveu um concurso de beleza infantil, em que meninas de sete a dez anos vestindo maiôs eram avaliadas de acordo com seus corpos.
Reações raivosas seguiram a exibição desse último quadro e uniram principalmente mulheres contra o apresentador.
As vozes femininas, inclusive, foram muito ouvidas graças a algumas das tramas mais elogiadas da televisão em 2019. Além da já citada “Fleabag”, as novas “The Morning Show” e “Years and Years” amplificaram o coro que já havia se formado em anos anteriores com “Big Little Lies”, “The Crown”, “The Handmaid’s Tale”, “Orange Is the New Black”, “Killing Eve” e “Maravilhosa Sra. Maisel” (todas ganharam novos capítulos neste ano).
Algumas dessas séries ainda engrossaram o caldo de estrelas do cinema que se aventuram pela TV, com Meryl Streep, Helena Bonham Carter e Emma Thompson.
No Brasil, Debora Bloch e a cantora Linn da Quebrada receberam elogios por “Segunda Chamada”, série da Globo sobre a rotina em uma escola que promove aulas para adultos. Ela se uniu a “Sob Pressão” e “Carcereiros” no rol de tramas que dramatizam duras realidade brasileiras gravadas pela emissora.
E, já em clima natalino, outra produção nacional ganhou os holofotes. Depois de vencer, em novembro, o Emmy Internacional de melhor comédia por seu especial de fim de ano de 2018, o Porta dos Fundos trouxe polêmica pelo média-metragem deste Natal.
“A Primeira Tentação de Cristo” gerou críticas por mostrar um Jesus Cristo gay, foi alvo de petições por sua retirada da Netflix e a produtora do grupo foi alvejada por coquetéis molotov último dia 24.
O Porta dos Fundos já deu sinais de que terá novo especial para o próximo Natal. Antes disso, uma enxurrada de séries e folhetins deve inundar as televisões pelo mundo, impulsionada pelo florescer dos streamings e o consequente contra-ataque dos canais de TV.