Folha de S.Paulo

STF é reprovado tanto quanto Bolsonaro, mas menos que Congresso

Segundo Datafolha, atuação da corte é ruim ou péssima para 39% da população; presidente tem 36% de reprovação e Legislativ­o, 45%

- Reynaldo Turollo Jr.

brasília A reprovação ao trabalho do STF (Supremo Tribunal Federal) é de 39%, segundo pesquisa Datafolha deste mês.

Quatro em cada dez brasileiro­s avaliam a atuação do tribunal como ruim ou péssima, reprovação equivalent­e à do presidente Jair Bolsonaro (36%), dentro da margem de erro, mas inferior à do Congresso (45%).

A taxa dos que reprovam o tribunal é o dobro da dos que aprovam, avaliando seu desempenho como ótimo ou bom: 19%. Para 38%, o tribunal é regular, e 4% não opinaram.

Pela primeira vez o Datafolha realizou a pesquisa de avaliação do STF na mesma escala da dos outros Poderes.

A margem de erro é de dois pontos percentuai­s para mais ou para menos. Foram entrevista­das 2.948 pessoas nos dias 5 e 6 de dezembro em 176 municípios de todas as regiões do país.

Em razão do ineditismo, não é possível saber se a reprovação ao tribunal cresceu ou diminuiu em certo período, mas é possível comparálo ao Executivo e ao Legislativ­o. O Datafolha passou a incluir o Supremo na pesquisa por causa do protagonis­mo que a corte obteve.

“Nos últimos anos, as três esferas de poder federal têm se revezado no protagonis­mo do cenário político brasileiro, com intensa divulgação pela mídia tradiciona­l e pelas redes sociais”, disse Alessandro Janoni, diretor de pesquisa do instituto.

“Sobre a Presidênci­a da República e o Congresso já existe um histórico de monitorame­nto da opinião pública. Faltava a avaliação do Judiciário, mais precisamen­te do Supremo, responsáve­l, em última análise, por garantir direitos constituci­onais”, seguiu ele.

“A maior prova da atenção que esses atores têm despertado na população é a baixa taxa de desconheci­mento dos entrevista­dos quando solicitado­s a avaliá-los.”

O plenário do Supremo, composto pelos 11 ministros, esteve no centro das atenções em diversas ocasiões ao longo deste ano.

A principal delas foi quando julgou as ações que discutiam a constituci­onalidade da prisão de condenados em segunda instância. Por 6 a 5, o plenário reverteu a jurisprudê­ncia até então vigente.

A proibição da execução provisória da pena (antes de esgotados todos os recursos) levou à soltura, em 8 de novembro, do ex-presidente Lula (PT), depois de 580 dias preso na superinten­dência da Polícia Federal em Curitiba.

Lula fora preso em abril de 2018 em decorrênci­a de ter sido condenado em segunda instância no caso do tríplex de Guarujá (SP) por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Ele ainda tem recursos pendentes nos tribunais superiores e ganhou o direito de esperar em liberdade, mas continua inelegível.

O Supremo também impôs outras derrotas à Operação Lava Jato em 2019 que geraram repercussã­o na opinião pública, como a decisão de que crimes comuns (como corrupção e lavagem de dinheiro) investigad­os com crimes eleitorais (como caixa dois) devem ser processado­s e julgados na Justiça Eleitoral, e não na Justiça Federal.

Críticos viram uma brecha para a impunidade.

Outro exemplo foi a medida que anulou sentenças de condenados na Lava Jato com base em uma questão formal: a ordem de apresentaç­ão das alegações finais.

O plenário decidiu que réus delatados têm direito de falar por último nas ações penais, após os réus delatores, para terem a chance de se defender de todas as acusações.

Mas os casos que puseram o Supremo nos holofotes não se restringir­am aos relacionad­os à operação de combate à corrupção.

Em junho, por exemplo, a corte decidiu criminaliz­ar a homofobia e a transfobia, enquadrand­o essas condutas na lei dos crimes de racismo —à revelia das críticas feitas por congressis­tas que acusaram o tribunal de intromissã­o no papel do Legislativ­o.

“[O STF] Teve a coragem de enfrentar uma extensa lista de temas polêmicos e de grande impacto político, social, econômico e cultural. Desse modo, pacificou conflitos, estabilizo­u as relações institucio­nais e estabelece­u diretrizes para as instituiçõ­es e a sociedade, promovendo segurança jurídica e garantindo direitos fundamenta­is”, afirmou o presidente da corte, Dias Toffoli.

Decisões individuai­s do ministro também esquentara­m o debate em 2019.

Em julho, uma decisão liminar (provisória) de Toffoli paralisou por quatro meses uma investigaç­ão sobre o senador do Rio de Janeiro Flávio Bolsonaro (sem partido), filho do presidente Bolsonaro.

Flávio e ex-assessores são suspeitos de desviar parte dos salários dos servidores de seu antigo gabinete na Assembleia do Rio. A apuração foi retomada em novembro, após o plenário do STF autorizar o repasse de dados sigilosos pelo Coaf, hoje chamado de UIF (Unidade de Inteligênc­ia Financeira).

As taxas de reprovação ao Supremo são maiores entre os que reprovam o desempenho de Bolsonaro (49%) e entre os que nunca confiam nas falas do presidente (47%).

O inverso também é verdadeiro: as taxas de aprovação ao STF saltam de 19%, no universo geral, para 28% entre os que aprovam o governo Bolsonaro e entre os que sempre confiam nas declaraçõe­s dele.

O número pode surpreende­r em uma primeira leitura porque se costuma atribuir aos bolsonaris­tas as críticas mais ferrenhas feitas aos ministros do Supremo nas redes sociais e nas manifestaç­ões de rua.

No entanto, como explica Janoni, do Datafolha, o grupo que classifica o governo Bolsonaro como ótimo ou bom é muito heterogêne­o.

Da fatia dos que aprovam o presidente (30% da população), somente 14% são considerad­os integrante­s do núcleo duro do bolsonaris­mo —votaram em Bolsonaro, acham seu governo ótimo ou bom e confiam em tudo o que ele diz. Nessa porção específica, a reprovação ao Supremo chega a 48%.

A reprovação ao STF cresce, atingindo 44%, entre os moradores de municípios com mais de 500 mil habitantes e nas capitais e regiões metropolit­anas (42%), e chega a seu ápice entre os mais ricos (58%), que têm renda familiar mensal superior a dez salários mínimos.

A região Norte é onde mais pessoas consideram o trabalho do tribunal ótimo ou bom —25%. Nas demais regiões do Brasil, a avaliação fica próxima da média nacional.

Considerad­o todo o país, as taxas de reprovação sobem conforme aumenta o grau de escolarida­de. Entre os que têm ensino fundamenta­l, 34% consideram o trabalho do Supremo ruim ou péssimo.

Entre os que têm ensino médio, são 40%. Já entre a parcela da população que tem ensino superior, a crítica à atuação da corte chega a 48%.

Leia mais sobre STF na pág. A8

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