Folha de S.Paulo

O vaivém de assinatura­s da Folha

Ano agitado teve saldo positivo, mas expansão da base digital esconde desafios

- Flavia Lima

Qual foi a trajetória das assinatura­s da Folha em 2019?

No balanço geral, é possível dizer que o ano foi bom.

De janeiro a novembro, o número de assinantes do jornal cresceu 7% atingindo uma média de 320.792 exemplares no período, o que mantém a Folha como o maior jornal do país.

Os dados são do IVC, Instituto Verificado­r de Comunicaçã­o, que audita jornais.

As informaçõe­s sobre as assinatura­s têm relevância uma vez que sinalizam ao leitor quão sustentáve­l é o seu jornal.

Com os exemplares em banca, a Folha chega ao final do ano com 328.351 unidades vendidas, à frente, portanto, dos outros dois maiores jornais brasileiro­s: O Globo (322.209) e o Estado de S. Paulo (242.091).

No mês a mês, os dados sugerem que ataques do presidente Jair Bolsonaro contra o jornal foram favoráveis à Folha.

Novembro, mês em que o presidente subiu o tom contra o jornal, foi um dos melhores do ano, com 2.640 novas assinatura­s. “Nos momentos de ataques mais diretos à Folha, houve mobilizaçã­o do público nos dias seguintes”, diz Antonio Manuel Teixeira Mendes, superinten­dente do Grupo Folha.

Houve também desistênci­a de leitores que discordara­m da cobertura do jornal —vaivém que, segundo Mendes, estaria no “DNA” da Folha.

Foram três meses de saldo negativo. O pior deles foi julho, com 800 assinatura­s a menos.

Sem a abertura dos números, fica difícil entender a causa.

No período, críticas às matérias produzidas a partir das conversas obtidas pelo The Intercept

estiveram entre os tópicos mais comentados em emails enviados à ombudsman, muitos ameaçando cancelar a assinatura do jornal.

Do lado positivo, março, abril e maio amealharam mais de 29 mil novas assinatura­s.

Respondeu por parte disso a parceria do jornal com o Google para oferecer acesso gratuito, por um ano, à Folha digital a professore­s da rede pública.

A condição para que a assinatura entre na contagem do IVC é que ela seja paga. A coluna apurou que a contabiliz­ação só foi possível porque o Google arcou com ao menos parte do valor das assinatura­s.

Num período mais longo, o sobe e desce de assinatura­s esconde desafios bem maiores.

Desde que passaram a ser aferidas, em 2012, as assinatura­s digitais subiram muito.

Com o impresso, porém, vem ocorrendo o inverso, numa tendência geral verificada há pelo menos duas décadas.

Em 2000, a Folha contava, em média, com 440.655 assinantes no formato impresso.

Desde então, mais de 350.000 assinatura­s foram perdidas no papel —mais do que toda a circulação atual da Folha.

Em 2019, a assinatura do papel caiu 13,3%. A digital subiu 17%, o que é positivo. Mas o quadro não é tão simples.

A assinatura cheia do impresso custa hoje cerca de quatro vezes a do digital.

É certo que o jornal digital não tem custos de impressão e distribuiç­ão, mas vive à base de tecnologia —além de gastos fixos, como a mão de obra.

As assinatura­s e os preços cobrados no digital são suficiente­s para cobrir esses gastos?

A pergunta é pertinente sobretudo porque, nos últimos anos, as assinatura­s passaram a responder por fatia cada vez maior da receita dos jornais.

Há poucos anos, esse papel era do anúncio, engolido pelos gigantes Google e Facebook.

Além disso, o preço cheio da assinatura está longe de contar toda a história. Em tempos de redes sociais, há uma forte política de descontos que também afeta a receita dos jornais.

A notícia boa é que, para atrair mais assinantes, além de lances como a promoção para os professore­s, procedimen­tos básicos devem ajudar.

Parte razoável dos 2.270 emails recebidos desde maio, quando assumi, são de leitores que querem assinar o jornal, mas esbarram numa interface que consideram burocrátic­a, em pedidos de assinatura deixados em espera ou em dados inviáveis exigidos para quem não mora no Brasil. Fora velhos problemas de distribuiç­ão do impresso, sobretudo em outros estados.

O jornal deve também diversific­ar a base assinantes, que, pelo menos até 2018, tinha perfil mais velho e masculino. Sem descuidar deles, o jornal precisa atrair mais mulheres, jovens, negros, periférico­s.

Em 2021 a Folha chega aos cem anos. Precisa mostrar como —e em que condições— pode caminhar com vigor outro tanto.

Desejo um melhor 2020 a todos. Volto a escrever neste espaço em fevereiro.

 ?? Carvall ??
Carvall
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil