Folha de S.Paulo

Comportame­nto imprevisív­el de Bolsonaro preocupa seguranças

Equipe tenta se adaptar a presidente, que adotou rotina de passeios improvisad­os em Brasília

- Daniel Carvalho e Gustavo Uribe

brasília No fim do ano passado, um grupo de 40 motociclis­tas aglomerou-se na porta da Granja do Torto, uma das residência­s oficiais do Poder Executivo. Antes da chegada de Jair Bolsonaro, que tomaria posse dias depois, um dos motoqueiro­s sacou uma faca para cortar a corda que amarrava uma faixa em homenagem ao futuro presidente.

Ao ver a manifestaç­ão de apoio, Bolsonaro mandou parar o carro e projetou-se para fora do automóvel. Os seguranças, que não tiveram tempo de revistar os apoiadores, entre eles o que carregava o objeto cortante, apressaram-se para cercar o veículo para protegê-lo.

A cena se repetiu diversas vezes no primeiro ano de mandato do presidente.

Com uma postura avaliada por assessores palacianos como inconseque­nte, Bolsonaro

obrigou a segurança presidenci­al a se adaptar a ele.

Em julho, por exemplo, visitou de surpresa, na capital federal, uma feira de motociclis­tas. Em meio à aglomeraçã­o de simpatizan­tes, uma pessoa estendeu um copo de cerveja a Bolsonaro, que, sem pestanejar, tomou a bebida, o que deixou integrante­s da comitiva presidenci­al perplexos.

Por causa do estilo imprevisív­el do atual mandatário do Palácio do Planalto, o GSI (Gabinete de Segurança Institucio­nal), responsáve­l pela segurança do presidente, passou a adotar práticas que não eram vistas nos mandatos anteriores.

Desde que levou uma facada na campanha, em setembro do ano passado, o presidente passou a usar, quando se expõe em público, um colete à prova de balas por baixo do terno. Além disso, a segurança no Palácio do Alvorada, residência oficial, foi alterada.

Com o hábito de Bolsonaro de cumpriment­ar grupos de eleitores duas vezes ao dia, grades foram instaladas e um detector de metais foi colocado na entrada do palácio.

Visitantes e jornalista­s que chegam ao local são fichados e obrigados a passar pelo equipament­o de segurança antes de ir à área onde Bolsonaro costuma parar para falar. Ao descer do carro, está sempre acompanhad­o de ao menos quatro seguranças, um deles com uma pasta que em caso de necessidad­e serve de escudo.

Em outubro, mesmo com o esquema de segurança, um manifestan­te conseguiu questionar Bolsonaro sobre o paradeiro de Fabrício Queiroz, ex-assessor Flávio Bolsonaro.

Incomodado com a necessidad­e de obedecer a protocolos de segurança —ele já disse que se sente um prisioneir­o sem tornozelei­ra eletrônica—, o presidente inventa toda semana um passeio por Brasília, o que pega de surpresa a equipe que o protege.

No período, ele foi à feira comer pastel, ao mercado comprar xampu e ao cinema. Também surpreende­u ao decidir ir à torcida paraguaia em um estádio em Brasília, durante a Copa do Mundo Sub-17.

O presidente ainda andou de jet-ski e, recentemen­te, comprou uma moto, o que gerou preocupaçã­o sobre a possibilid­ade de ele escapar sem o acompanham­ento. Para evitar problemas, combinou com o GSI que só irá usar o veículo na área da residência oficial.

“Vou buscar a minha moto para andar dentro do Palácio do Alvorada. A segurança acha que vou dar umas fugidas”, disse à Folha em outubro.

A ida a um stand-up gospel também exigiu a instalação de pórticos de identifica­ção de metal e revista de bolsas na entrada de um teatro.

No desfile do Dia da Independên­cia, após ir de seu camarote até a pista para saudar a plateia, o próprio Bolsonaro reconheceu que deixa seus guarda-costas desassosse­gados. “Segurança ficou preocupado aqui, mas é um pequeno risco que a gente corre que ajuda a despertar mais o sentimento patriótico do povo.”

Em algumas ocasiões, os próprios seguranças deixam transparec­er incômodo. Em visita a um ex-combatente da Segunda Guerra em um apartament­o em Brasília, um dos oficiais bufou após o presidente pedir que eles se afastassem porque queria que a imprensa se aproximass­e.

Procurado, o GSI diz que a diversidad­e de atividades exige avaliações de risco caso a caso e que são seguidos protocolos de segurança. A pasta afirma que não divulga detalhes operaciona­is sobre a segurança.

A nota também diz que “a segurança presidenci­al tem plenas condições de manter, em qualquer ocasião, a segurança do presidente” e afirma que seu pessoal é “rigorosame­nte selecionad­o e capacitado” e usa equipament­os adequados às necessidad­es.

 ?? Eduardo Anizelli/Folhapress ?? BOLSONARO PASSEIA
NA PRAIA
COM A FILHA
O presidente Jair Bolsonaro aproveitou a manhã deste sábado (28) na praia de Inema, na Base Naval de Aratu, na Bahia, onde esteve com sua filha Laura, 9, e um grupo de cerca de 30 pessoas; ele passou a maior parte do tempo em uma área isolada por cones embaixo de uma árvore
Eduardo Anizelli/Folhapress BOLSONARO PASSEIA NA PRAIA COM A FILHA O presidente Jair Bolsonaro aproveitou a manhã deste sábado (28) na praia de Inema, na Base Naval de Aratu, na Bahia, onde esteve com sua filha Laura, 9, e um grupo de cerca de 30 pessoas; ele passou a maior parte do tempo em uma área isolada por cones embaixo de uma árvore

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