Folha de S.Paulo

Atentado com carro-bomba na capital da Somália deixa ao menos 79 mortos

Grupo terrorista Al Shabaab é suspeito de um dos piores ataques no país nos últimos anos

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mogadício | afp e reuters A explosão de um carro-bomba neste sábado (28) em Mogadício, capital da Somália, deixou dezenas de mortos e feridos, em um dos piores ataques no país nos últimos anos.

Segundo Ismael Mukhtar, porta-voz do Ministério da Informação do governo somali, ao menos 79 pessoas morreram e 149 ficaram feridas.

O atentado ocorreu às 8h (2h no horário de Brasília), próximo a um posto de controle e a um escritório fiscal —área com circulação intensa de pessoas e de veículos. Entre as vítimas, há pelo menos 16 estudantes da Universida­de de Banadir.

Sábado é dia útil no país muçulmano, e a explosão ocorreu durante a hora do rush pela manhã, deixando o local cheio de escombros e de veículos queimados e cobertos de sangue. Uma testemunha relatou ter visto “corpos dispersos e alguns queimados, irreconhec­íveis”.

Por enquanto, o ataque não foi reivindica­do por nenhuma organizaçã­o, mas incidentes deste tipo são frequentes na região, onde o grupo terrorista islâmico Al Shabaab, ligado à Al Qaeda, tem forte atuação.

“Este país está em estado de guerra”, disse o primeiro-ministro Hassan Ali Khaire em um vídeo publicado numa rede social. “Os terrorista­s têm como alvos apenas civis.”

O prefeito de Mogadício,

Omar Mohamud, afirmou que dois cidadãos turcos, aparenteme­nte engenheiro­s civis que trabalhava­m na construção de estradas, estão entre os mortos. O ministro das Relações Exteriores da Turquia confirmou a informação.

A Turquia é um dos principais doadores da Somália desde a crise da fome em 2011 e, junto com o governo do Qatar, financia uma série de projetos de infraestru­tura e de acesso à saúde no país.

O secretário-geral da ONU, o português António Guterres, condenou o atentado e afirmou que “os responsáve­is por este crime horrível têm que ser levados à Justiça”.

Desde 2015, houve 13 atentados na Somália. O ataque mais sangrento da história do país ocorreu em outubro de 2017, quando um caminhãobo­mba explodiu na capital, matando 512 pessoas e ferindo 295. A ação foi reivindica­da pelo Al Shabaab.

A Somália é devastada por conflitos desde 1991, quando chefes de clãs derrubaram o ditador Siad Barre e depois se voltaram uns contra os outros.

O Al Shabaab nasceu de um movimento político que usou tribunais islâmicos para tentar impor ordem ao país.

Soldados etíopes apoiados pelos EUA derrotaram a União dos Tribunais Islâmicos em 2006, mas a ala jovem do movimento se separou e lançou uma insurgênci­a, prometendo derrubar o governo somali, que conta com o apoio da comunidade internacio­nal, da ONU (Organizaçã­o das Nações Unidas) e de 20 mil soldados da força da União Africana.

O Al Shabaab jurou lealdade à Al Qaeda em 2012 e estima-se que conte atualmente com 5.000 a 9.000 membros.

A facção fundamenta­lista, que tem como alvo hotéis, escritório­s governamen­tais e espaços públicos, foi expulsa de Mogadício em 2011, perdendo a maior parte de seus bastiões.

No entanto, segue com poder em algumas partes do país, onde planeja operações de guerrilha e atentados suicidas, incluindo na capital. Também atua na nação vizinha Quênia.

Há duas semanas, outro ataque de autoria do Al Shabaab deixou cinco pessoas mortas. O atentado ocorreu em um hotel da capital —muito frequentad­o por políticos, militares e diplomatas— que foi ocupado pelos fundamenta­listas durante algumas horas.

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Feisal Omar/Reuters Local onde um carro-bomba explodiu em Mogadício, na Somália

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