Em SC, visitar fortificações históricas é alternativa à praia
Passeio de escuna leva até fortalezas do séc. 18 que foram reconstruídas
florianópolis Sentir o vento e a água do mar, aliviar o calor intenso em um passeio de barco e, de quebra, conhecer uma parte da história do Brasil colonial.
Esta é a proposta do roteiro turístico entre as fortalezas de Ratones e Anhatomirim, duas das principais fortificações militares erguidas pela coroa portuguesa há quase três séculos em Florianópolis.
O passeio é feito de escuna e é oferecido por diversas empresas, com saída da região central, bem como das praias do norte da ilha e de cidades vizinhas, como Governador Celso Ramos.
Custa em média cerca de R$ 80 por pessoa (crianças de até cinco anos não pagam).
O roteiro mais completo demora até seis horas, com parada para almoço e, com um pouco de sorte, um show particular com golfinhos ao longo do trajeto.
“É uma boa alternativa para quem quer fugir do agito das praias lotadas do verão e conhecer um pouco da história do Brasil, principalmente sobre a disputa pelo domínio da região Sul do país”, diz Andrea Arzua, dona da Escuna Sambaqui.
Ela foi a guia responsável por um grupo de pais que resolveu se juntar para fazer um passeio diferente com 11 crianças no domingo (15) na capital catarinense.
As histórias da disputa entre Portugal e Espanha sobre o domínio da região Sul e como os soldados viviam no século 18 instigaram a curiosidade dos mais velhos e serviram de enredo para brincadeiras de pirata entre os pequenos.
O médico Carlos Alberto Atherinos Pierri fez o passeio com seu filho Carlos Eduardo, 5. Assim como diversos moradores da região, ele ajudou arquitetos e técnicos da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) a reconstruir parte das fortalezas entre os anos 1980 e 1990. As fortalezas haviam sido abandonadas no começo do século 20 e estavam em ruínas.
Esta foi a chance de contar um pouco do seu passado e apresentar a história do país para seu filho.
“Eu sempre falo para meu filho que o passado te ensina projetar o futuro. Então esta é a chance para ele ver como as coisas funcionavam e comparar com o nosso momento. E o mais legal disso tudo é estar em grupo. Com toda certeza que todos vão continuar a discutir sobre o passeio por um bom tempo”, disse Pierri.
Quem ajudou a reunir o grupo foi Andrea Green Koettker. Além do filho Bernardo, 6, ela trouxe os sobrinhos para se divertir no cenário histórico.
Entusiasmada com a felicidade das crianças se divertindo em uma praia secreta na ilha de Anhatomirim, ela confidenciou: “Logo que o barco começou a navegar o Bernardo me olhou e disse: ‘Mamãe, hoje é o dia mais feliz da minha vida’”.
Tombadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e administradas pela Universidade Federal de Santa Catarina, as fortalezas começaram a ser erguidas 1739 a mando do rei D. João 5º.
“Naquele tempo, Portugal e Espanha disputavam o controle do rio da Prata. Dominar a foz era sinal de poder, pois ali a Espanha escoava sua riquezas pelo Atlântico”, explica arquiteto Roberto Tonera, membro da Coordenadoria das Fortalezas da Ilha de Santa Catarina.
No caminho até o rio da Prata, em uma posição estratégica, está a ilha de Santa Catarina. Lá, as embarcações abasteciam-se de água e alimentos. “Então, controlar essa posição, a ilha, era fundamental para o domínio do Prata”, disse.
Apesar de imponentes e estratégicas, as fortificações nunca foram utilizadas para de fato guerrear. A única vez que a Espanha resolveu dominar o território onde hoje está Florianópolis aconteceu fora do alcance dos canhões das fortalezas e por terra.
A ilha foi dominadas pelos espanhóis por um ano e meio em 1777 e só foi desocupada após a assinatura do Tratado de Santo Ildefonso, que em linhas gerais definiu as fronteiras do Sul do país.
“Então quer dizer que não serviu para nada? Muito pelo contrário. As fortalezas tiveram uma função importante no desenvolvimento da região e para demarcar o que hoje é o Sul do Brasil, conta Tonera.
Segundo o arquiteto, as fortificações “eram como repartições públicas da época. Funcionavam como uma espécie de alfândega. Serviram de hospital, para controle sanitário, sede do governo. Antes da construção, o que hoje é Florianópolis era apenas uma vila e, se elas não existissem, talvez falássemos espanhol”.