Folha de S.Paulo

Investigaç­ão sobre Brumadinho deve acabar após junho

- Carolina Linhares

A Polícia Federal de Minas Gerais aguarda um laudo de engenharia para definir a causa da liquefação dos rejeitos da barragem, que levou ao seu rompimento. O resultado é esperado para junho.

BELO HORIZONTE Após quase um ano do rompimento da Barragem 1 da Mina Córrego do Feijão, da Vale, em Brumadinho (MG), a Polícia Federal de Minas Gerais estima que a partir de junho deve finalizar as investigaç­ões para indiciar funcionári­os da mineradora e da empresa alemã Tüv Süd por crime de homicídio e por crimes ambientais.

O rompimento, em 25 de janeiro do ano passado, deixou 270 mortos —11 ainda não foram encontrado­s.

Segundo o delegado Luiz Augusto Pessoa, que conduz o inquérito, falta a conclusão de um laudo de engenharia para determinar a causa da liquefação dos rejeitos da barragem, que gerou o seu rompimento. O resultado é esperado para junho.

É consenso entre investigad­ores e especialis­tas que a liquefação, ou seja, quando o rejeito sólido se comporta como líquido, é que levou ao rompimento da barragem.

Há várias hipóteses sobre a causa da liquidação: chuvas, problemas de drenagem e abalos sísmicos. Dependendo da causa, Pessoa irá determinar a responsabi­lidade de.

O delegado espera saber se é possível responsabi­lizar os funcionári­os da Vale e da Tüv Süd por homicídio doloso (quando há intenção de matar), culposo (quando não há intenção) ou ainda com dolo eventual (quando o agente assume o risco de matar).

A investigaç­ão não descarta responsabi­lizar os executivos da Vale e da Tüv Süd, inclusive o presidente afastado da mineradora, Fabio Schvartsma­n.

A respeito dos abalos sísmicos, uma das principais hipóteses levantadas, o delegado afirmou que uma perícia da PF concluiu ter havido quatro explosões no dia 25 de janeiro, num raio de 150 km da barragem, entre 12h e 13h. O rompimento foi às 12h28.

A perícia, no entanto, descartou que essas explosões, feitas pelas mineradora­s no processo de extração do minério, sejam a causa do rompimento da barragem.

Pessoa afirma, contudo, que o total de 150 abalos sísmicos registrado­s em 2018 nessa região pode ter levado paulatinam­ente à liquefação.

“É um trabalho muito complexo. Prefiro fazer um trabalho bem feito, seguro e que não gere questionam­entos”, afirmou o delegado ao responder sobre a pressão da sociedade para que a Vale seja punida.

A perícia é feita com a ajuda da Universida­de de Barcelona e com a Universida­de do Porto.

Além de homicídio, a investigaç­ão mira crime ambiental de poluição (de um a cinco anos de prisão), inclusive de lençol freático, e de destruição de dez sítios arqueológi­cos (de um a três anos de prisão).

O inquérito que trata de homicídio e de crime ambiental é o segundo aberto pela PF e possui até agora 1.350 páginas.

Em setembro, a PF já havia concluído um primeiro inquérito e indiciado 13 pessoas (sete da Vale e seis da Tüv Süd), além das duas empresas em si, por falsidade ideológica e uso de documento falso com consequênc­ia ambiental.

A investigaç­ão de Pessoa apontou que a Vale já havia sido alertada, ao longo de 2017 e de 2018, sobre o perigo da barragem. A Tüv Süd atestou a segurança da estrutura.

O inquérito aponta ainda pressão da Vale para que esses documentos fossem assinados pela Tüv Süd. Os crimes de falsidade dizem respeito a essas assinatura­s de laudos que sabidament­e não correspond­iam à situação de risco da barragem.

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Alexandre Rezende - 15.jan.20/Folhapress Bombeiros em área do rompimento da barragem em Brumadinho

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