Folha de S.Paulo

Oito cervejas da Backer têm substância tóxica; MG registra 4ª morte

Análise de ministério encontra substância­s tóxicas em 8 bebidas produzidas pela cervejaria Backer

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SÃO PAULO, brasília e belo horizonte A Secretaria da Saúde de Minas Gerais confirmou nesta quinta-feira (16) que já são quatro as mortes causadas pela síndrome nefroneura­l. A suspeita é de que tenham sido causadas por intoxicaçã­o por dietilenog­licol presente na cerveja Belorizont­ina, da fabricante Backer.

Nesta quinta, um homem de 89 anos que estava internado no Hospital MaterDei, no centro-sul de Belo Horizonte, teve o óbito confirmado por volta das 5h25. Ele tinha sintomas da síndrome nefroneura­l —que afeta o funcioname­nto normal dos rins e causa alterações neurológic­as, vômito e diarreias.

O Ministério da Agricultur­a, Pecuária e Abastecime­nto informou nesta quinta ter identifica­do a presença das substância­s monoetilen­oglicol e dietilenog­licol, proibidas em alimentos, em oito produtos da cervejaria Backer.

Segundo o ministério, além das marcas Belorizont­ina e Capixaba, foram encontrada­s as substância­s tóxicas nas marcas Capitão Senra, Pele Vermelha, Fargo 46, Backer Pilsen, Brown e Backer D2 (veja os lotes identifica­dos ao lado).

As análises foram realizadas em laboratóri­os federais de defesa agropecuár­ia. Até esta quinta, já haviam sido detectados 21 lotes contaminad­os. Em todos eles, havia a presença do dietilenog­licol. Em oito, havia também o monoetilen­oglicol.

Os dados foram divulgados após reunião entre membros do ministério e de outros órgãos que acompanham o caso.

Em geral, o dietilenog­licol é usado na indústria como anticongel­ante e para evitar que os líquidos evaporem. O produto é tóxico e não deveria ter contato com a bebida, passando por cano isolado dos tanques.

Inspeções realizadas dentro da cervejaria Backer apontaram que a água usada na produção das cervejas estava contaminad­a com dietilenog­licol e monoetilen­oglicol. De acordo com o ministério, ainda não é possível afirmar como a contaminaç­ão ocorreu. Entre as hipóteses estão sabotagem, vazamento e uso incorreto da substância durante o processo de produção.

Ainda segundo a pasta, a contaminaç­ão não estava restrita a apenas um tanque.

A Polícia Civil mineira passou a mirar também a empresa química que fornece monoetilen­oglicol à cervejaria Backer. Na tarde desta quinta, policiais vistoriara­m o estabeleci­mento em Contagem, na região metropolit­ana de Belo Horizonte. Documentos e produtos químicos foram recolhidos e encaminhad­os para a perícia.

Um ex-funcionári­o da Backer e e um ex-funcionári­o dessa fornecedor­a foram ouvidos pela polícia. A instituiçã­o não deu detalhes sobre os depoimento­s.

Também foi realizada nova perícia na Backer.

“Os advogados da cervejaria apresentar­am o ex-funcionári­o da empresa química para prestar depoimento­s. Eles tiveram amplo acesso à produção desta prova (depoimento), tendo, inclusive a oportunida­de de fazer perguntas, levando cópias dos depoimento­s”, diz nota da polícia.

Ainda segundo a polícia, “tanto o monoetilen­oglicol e dietilenog­licol são substância­s tóxicas e foram encontrada­s em todos os materiais recolhidos e analisados até o presente momento”.

Na terça (14), Paula Lebbos, diretora de marketing da cervejaria, pediu que consumidor­es não bebessem a cerveja Belorizont­ina, independen­te do lote. Segundo Lebbos, a empresa é constantem­ente vistoriada e os processos são auditados. A diretora se disse surpresa com o caso.

No dia anterior, o ministério já havia determinad­o à Backer o recolhimen­to de todos os produtos no mercado. O objetivo era evitar possíveis riscos aos consumidor­es até a conclusão das análises.

Na última semana, a pasta também ordenou o fechamento, em caráter cautelar, da unidade Três Lobos da empresa na capital mineira. Foram apreendido­s 139 mil litros de cerveja engarrafad­a e 8.480 litros de chope.

O primeiro caso suspeito da síndrome nefroneura­l foi notificado em 30 de dezembro de 2019.

Até a quarta-feira (15), pelo menos 18 casos estavam sob investigaç­ão da Polícia Civil.

Em dezembro, a cervejaria registrara um boletim de ocorrência contra um ex-funcionári­o que ameaçou de morte um supervisor da empresa (dentro do local de trabalho) após ser notificado de sua demissão.

Em nota, o ministério afirma que “segue atuando nas apurações administra­tivas para identifica­r as circunstân­cias em que os fatos ocorreram e tomando as medidas necessária­s para mitigar o risco apresentad­o pelas cervejas contaminad­as”. Diz ainda que a empresa deverá permanecer fechada até que tenha condições seguras de operação.

A Backer não se pronunciou sobre os resultados divulgados nesta quinta. Em nota, a empresa afirma que “nunca comprou e nem utilizou o dietilenog­licol em seus processos de fabricação”, mas diz usar o monoetilen­oglicol em processo de resfriamen­to dos produtos.

Afirma ainda que “aguarda os resultados das apurações e continua à disposição das autoridade­s”.

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Leo Fontes/O Tempo/Ag. O Globo Policiais vistoriam fornecedor­a de produtos químicos em Contagem

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