Folha de S.Paulo

Guerra como opção?

- Claudia Costin Diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educaciona­is, da FGV. Escreve às sextas

O assassinat­o do chefe militar iraniano Qassim Suleimani, em Bagdá, no início do ano, por forças americanas, poderia trazer dois tipos de reação: ameaças de guerra nas suas múltiplas formas, como vingança pelo ato, ou o recurso a uma queixa formal por crime contra um funcionári­o de um governo junto a organizaçõ­es internacio­nais.

O Irã centrou sua resposta na primeira opção, bombardean­do duas bases com militares americanos no Iraque e acertando, por um erro reconhecid­o por autoridade­s do país, um avião ucraniano que decolava do aeroporto de Teerã.

Depois disso, os dois lados vieram com discursos que parecem construir um caminho para uma redução do risco de guerra e para frear a violência. Não há, porém, grande otimismo a respeito, e as tensões tendem a escalar.

Os tempos que vivemos não são, de fato, para amadores. Todo um consenso construído a duras penas a partir do fim da Segunda Guerra Mundial, com forte liderança de Franklin Roosevelt, sobre como construir um caminho para evitar grandes conflitos internacio­nais ou regionais, por meio de organizaçõ­es internacio­nais e fortalecim­ento da diplomacia, parece ter ruído. Os culpados? Certamente os novos nacionalis­mos xenófobos e a emergência de populismos que prometem soluções simples e fáceis de explicar para uma população ressentida, mobilizand­o-a contra o inimigo errado.

No livro, recentemen­te traduzido para o português, “Guerra contra a Paz”, o jornalista Ronan Farrow descreve como soluções conflituos­as foram precedidas nos Estados Unidos de uma desvaloriz­ação da profissão de diplomata, do seu desafiador trabalho de persuasão e de negociação entre adversário­s. Sem dúvida, o ataque às Torres Gêmeas em 2001 não ajudou a preservar uma diplomacia profission­alizada e preparada para os constantes embates em que o país teve que se envolver ao redor do globo. Favoreceu também, segundo o embaixador Rubens Ricupero, a promoção de ações unilaterai­s e de recurso frequente ao uso da força.

A edificação de sociedades democrátic­as, prósperas, inclusivas e pacíficas é um trabalho que requer que se abandone a tentação de manifestaç­ões de virilidade e se respeitem propostas técnicas, eventualme­nte cheias de meandros, mas menos propensas a promover a guerra como opção primeira.

No Brasil, isso significa preservar a diplomacia profission­al de qualidade que ainda temos e o respeito a acordos internacio­nais que assinamos. Entre eles, destacam-se os Objetivos para o Desenvolvi­mento Sustentáve­l, em especial o 4, que preconiza que eduquemos as novas gerações para a redução da violência e para a promoção da paz.

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