CPI chega às contas que mais fizeram disparos de mensagens
400 mil números de WhatsApp foram banidos por fraude na eleição de 2018
A CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) das Fake News no Congresso identificou as linhas telefônicas de WhatsApp que foram responsáveis pelas maiores quantidades de disparos de mensagens em massa na campanha eleitoral de 2018.
O levantamento baseou-se em documentos que a empresa remeteu à comissão de inquérito em novembro passado, com dados de março a novembro de 2018.
Das 400 mil contas que representantes do aplicativo afirmam que foram banidas por uso irregular durante a eleição, 55 mil tinham comportamento anormal para o aplicativo, podendo estar sendo operadas por robôs.
Destas, 24 respondem pela maior parte das mensagens disparadas em massa. É o que revela documento sigiloso analisado na comissão e obtido com exclusividade pela reportagem do UOL.
As linhas telefônicas associadas a esses perfis possuem números dos EUA, Vietnã, Inglaterra e Brasil. Apesar dessas origens diversas, os IPs (endereços da conexão de internet usada para operar as contas suspeitas) associados indicam que todas as mensagens foram disparadas do Brasil.
Parlamentares da CPMI ouvidos pela reportagem querem chegar aos responsáveis por contas e endereços de IP para intimá-los a depor.
Pelo menos três dos 24 números possuem contas ativas no serviço de mensagens. Em setembro passado, o UOL mostrou que uma rede de disseminação de fake news com uso de robôs pró-Bolsonaro que funcionou durante a eleição permanecia com 80% dos contatos ativos no WhatsApp.
Das 24 linhas com maior atividade suspeita, seis são do Brasil e 18 do exterior.
Das estrangeiras, duas não tinham informações de localização, aponta análise da reportagem com a ajuda de três especialistas em segurança da informação: um policial federal, um promotor do Ministério Público e um pesquisador e ex-servidor do Ministério da Justiça.
Nas demais estrangeiras, todos os 16 endereços de IP apontam endereços físicos no Brasil. As 16 contas eram usadas a partir de dois locais em São Paulo e um em Manaus.
As linhas brasileiras têm códigos de DDD de São Paulo, Santos (SP), Belo Horizonte, Florianópolis, Maceió e Caldas Novas (GO).
A reportagem analisou o último IP informado pelo WhatsApp para cada uma delas. Os endereços físicos indicavam Belo Horizonte e o mesmo local de São Paulo usado em sete linhas internacionais.
Não foi possível estabelecer os locais exatos, que só podem ser obtidos com quebra de sigilo dos números telefônicos.
O WhatsApp informou as características dos aparelhos telefônicos que utilizavam o serviço. Das 24 linhas investigadas, seis usavam a versão 4 do sistema operacional Android. Alguns serviços de disparo em massa de mensagens foram desenhados para esse sistema operacional.
A versão do aplicativo é a mesma para todos os aparelhos, o que pode indicar atuação empresarial nos disparos em massa, segundo o pesquisador de segurança da informação consultado pela reportagem do UOL.
A assessoria de imprensa do WhatsApp respondeu aos questionamentos com nota na qual afirma que é totalmente contra spam e o uso da plataforma para enviar informações em massa.
“É por isso que estamos usando nossos avançados recursos técnicos, como aprendizado de máquina, para banir contas que enviam mensagens em massa automatizadas e também estamos analisando evidências além da plataforma para tomar ações legais, se aplicável”, diz a nota.
“(...) Propusemos ao TSE proibir explicitamente o uso de serviços de mensagens em massa no contexto de campanhas eleitorais, que eles concordaram em incorporar nos regulamentos”, prossegue a nota enviada à reportagem pelo WhatsApp, que informa ter notificado as empresas que disseram oferecer o envio de mensagens em massa.
Em 2018, o UOL revelou que diversas agências a serviço de campanhas políticas —entre elas as de Fernando Haddad (PT), Jair Bolsonaro (então no PSL, hoje sem partido), Henrique Meirelles (MDB) e João Doria (PSDB)— utilizaram serviços de disparo em massa de WhatsApp para grupos e eleitores. Todos os citados negam. Em alguns casos, o UOL encontrou indícios de uso de listas de contatos compradas e vazadas e distribuição de mensagens com fake news e ataques a adversários. Todas essas práticas são proibidas pela legislação eleitoral.
Antes, a Folha já havia mostrado que empresários estavam bancando disparos em massa de mensagens com fake news e ataques contra o candidato presidencial petista.
Procurada pela reportagem, a defesa da campanha eleitoral do presidente Jair Bolsonaro no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) não respondeu sobre a relação da campanha do presidente com empresas responsáveis pelos disparos em massa.
O PSDB de SP afirmou que a campanha do governador João Doria não contratou nem fez disparos em massa de WhatsApp ou fake news e que o governador não é investigado por isso em nenhuma esfera.
Fernando Haddad e Henrique Meirelles também sempre negaram qualquer irregularidade no uso do WhatsApp durante a campanha eleitoral de 2018.
Procurada pela reportagem para informar como andam as investigações abertas sobre o uso de disparos em massa e fake news no WhatsApp durante as últimas eleições, a Polícia Federal não respondeu.
Colaborou Marcelo Oliveira, do UOL em São Paulo
Reinaldo Azevedo O colunista está em férias
Estamos usando nossos avançados recursos técnicos, como aprendizado de máquina, para banir contas que enviam mensagens em massa automatizadas e também estamos analisando evidências além da plataforma para tomar ações legais, se aplicável
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