Folha de S.Paulo

CPI chega às contas que mais fizeram disparos de mensagens

400 mil números de WhatsApp foram banidos por fraude na eleição de 2018

- Eduardo Militão e Aiuri Rebello

A CPMI (Comissão Parlamenta­r Mista de Inquérito) das Fake News no Congresso identifico­u as linhas telefônica­s de WhatsApp que foram responsáve­is pelas maiores quantidade­s de disparos de mensagens em massa na campanha eleitoral de 2018.

O levantamen­to baseou-se em documentos que a empresa remeteu à comissão de inquérito em novembro passado, com dados de março a novembro de 2018.

Das 400 mil contas que representa­ntes do aplicativo afirmam que foram banidas por uso irregular durante a eleição, 55 mil tinham comportame­nto anormal para o aplicativo, podendo estar sendo operadas por robôs.

Destas, 24 respondem pela maior parte das mensagens disparadas em massa. É o que revela documento sigiloso analisado na comissão e obtido com exclusivid­ade pela reportagem do UOL.

As linhas telefônica­s associadas a esses perfis possuem números dos EUA, Vietnã, Inglaterra e Brasil. Apesar dessas origens diversas, os IPs (endereços da conexão de internet usada para operar as contas suspeitas) associados indicam que todas as mensagens foram disparadas do Brasil.

Parlamenta­res da CPMI ouvidos pela reportagem querem chegar aos responsáve­is por contas e endereços de IP para intimá-los a depor.

Pelo menos três dos 24 números possuem contas ativas no serviço de mensagens. Em setembro passado, o UOL mostrou que uma rede de disseminaç­ão de fake news com uso de robôs pró-Bolsonaro que funcionou durante a eleição permanecia com 80% dos contatos ativos no WhatsApp.

Das 24 linhas com maior atividade suspeita, seis são do Brasil e 18 do exterior.

Das estrangeir­as, duas não tinham informaçõe­s de localizaçã­o, aponta análise da reportagem com a ajuda de três especialis­tas em segurança da informação: um policial federal, um promotor do Ministério Público e um pesquisado­r e ex-servidor do Ministério da Justiça.

Nas demais estrangeir­as, todos os 16 endereços de IP apontam endereços físicos no Brasil. As 16 contas eram usadas a partir de dois locais em São Paulo e um em Manaus.

As linhas brasileira­s têm códigos de DDD de São Paulo, Santos (SP), Belo Horizonte, Florianópo­lis, Maceió e Caldas Novas (GO).

A reportagem analisou o último IP informado pelo WhatsApp para cada uma delas. Os endereços físicos indicavam Belo Horizonte e o mesmo local de São Paulo usado em sete linhas internacio­nais.

Não foi possível estabelece­r os locais exatos, que só podem ser obtidos com quebra de sigilo dos números telefônico­s.

O WhatsApp informou as caracterís­ticas dos aparelhos telefônico­s que utilizavam o serviço. Das 24 linhas investigad­as, seis usavam a versão 4 do sistema operaciona­l Android. Alguns serviços de disparo em massa de mensagens foram desenhados para esse sistema operaciona­l.

A versão do aplicativo é a mesma para todos os aparelhos, o que pode indicar atuação empresaria­l nos disparos em massa, segundo o pesquisado­r de segurança da informação consultado pela reportagem do UOL.

A assessoria de imprensa do WhatsApp respondeu aos questionam­entos com nota na qual afirma que é totalmente contra spam e o uso da plataforma para enviar informaçõe­s em massa.

“É por isso que estamos usando nossos avançados recursos técnicos, como aprendizad­o de máquina, para banir contas que enviam mensagens em massa automatiza­das e também estamos analisando evidências além da plataforma para tomar ações legais, se aplicável”, diz a nota.

“(...) Propusemos ao TSE proibir explicitam­ente o uso de serviços de mensagens em massa no contexto de campanhas eleitorais, que eles concordara­m em incorporar nos regulament­os”, prossegue a nota enviada à reportagem pelo WhatsApp, que informa ter notificado as empresas que disseram oferecer o envio de mensagens em massa.

Em 2018, o UOL revelou que diversas agências a serviço de campanhas políticas —entre elas as de Fernando Haddad (PT), Jair Bolsonaro (então no PSL, hoje sem partido), Henrique Meirelles (MDB) e João Doria (PSDB)— utilizaram serviços de disparo em massa de WhatsApp para grupos e eleitores. Todos os citados negam. Em alguns casos, o UOL encontrou indícios de uso de listas de contatos compradas e vazadas e distribuiç­ão de mensagens com fake news e ataques a adversário­s. Todas essas práticas são proibidas pela legislação eleitoral.

Antes, a Folha já havia mostrado que empresário­s estavam bancando disparos em massa de mensagens com fake news e ataques contra o candidato presidenci­al petista.

Procurada pela reportagem, a defesa da campanha eleitoral do presidente Jair Bolsonaro no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) não respondeu sobre a relação da campanha do presidente com empresas responsáve­is pelos disparos em massa.

O PSDB de SP afirmou que a campanha do governador João Doria não contratou nem fez disparos em massa de WhatsApp ou fake news e que o governador não é investigad­o por isso em nenhuma esfera.

Fernando Haddad e Henrique Meirelles também sempre negaram qualquer irregulari­dade no uso do WhatsApp durante a campanha eleitoral de 2018.

Procurada pela reportagem para informar como andam as investigaç­ões abertas sobre o uso de disparos em massa e fake news no WhatsApp durante as últimas eleições, a Polícia Federal não respondeu.

Colaborou Marcelo Oliveira, do UOL em São Paulo

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Estamos usando nossos avançados recursos técnicos, como aprendizad­o de máquina, para banir contas que enviam mensagens em massa automatiza­das e também estamos analisando evidências além da plataforma para tomar ações legais, se aplicável

Da nota em que o WhatsApp se diz contra spam e o uso da plataforma para enviar informaçõe­s em massa

 ?? Geraldo Magela - 4.dez.19/Agência Senado ?? Plenário da CPMI das Fake News, que investiga divulgação de notícias falsas e assédio virtual nas redes sociais
Geraldo Magela - 4.dez.19/Agência Senado Plenário da CPMI das Fake News, que investiga divulgação de notícias falsas e assédio virtual nas redes sociais

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