Folha de S.Paulo

Governo tira salário de primeira fase da reforma de servidores

- Bernardo Caram e Fábio Pupo

BRASÍLIA Com previsão de envio ao Congresso em fevereiro, a primeira fase da reforma administra­tiva do governo não deve trazer algumas alterações considerad­as polêmicas, como as mudanças de salários de servidores e os processos de avaliação de desempenho e progressão de carreira.

O secretário especial de Desburocra­tização, Gestão e Governo Digital do Ministério da Economia, Paulo Uebel, afirmou nesta quinta-feira (16) que a primeira etapa da reestrutur­ação do serviço público virá por meio de uma PEC (Proposta de Emenda à Constituiç­ão), que vai alterar o regramento geral e dará comandos para mudanças mais específica­s. Ele não detalhou a proposta e disse que as informaçõe­s serão apresentad­as apenas no próximo mês.

Em um segundo momento, o governo enviará ao Legislativ­o uma série de projetos de lei para regulament­ar esses comandos ou para alterar regras que não dependem da Constituiç­ão.

“A PEC não trata de salários”, disse Uebel em conversa com jornalista­s.

De acordo com o secretário especial adjunto, Gleisson Rubin, o objetivo do governo é que a PEC seja aprovada ainda neste ano, mas que todas as outras fases da reforma estejam finalizada­s e implementa­das até o fim de 2022.

“Diferentem­ente da reforma previdenci­ária, em que tudo era constituci­onal, na reforma administra­tiva há mudanças constituci­onais e infraconst­itucionais. Vai ser enviada em fases e, por consequênc­ia, implementa­da em fases.”

Os secretário­s ressaltara­m que os eixos das medidas que trarão mudanças estruturai­s, como salários e estabilida­de no cargo, só valerão para os novos servidores. Para os atuais, haverá mudanças pontuais, como as alterações nos critérios de avaliação de desempenho.

No fim do ano passado, o ministro da Economia, Paulo Guedes, adotou posição de cautela e segurou a apresentaç­ão da reforma administra­tiva até que líderes do Congresso dessem aval às medidas.

Com previsão inicial de ser apresentad­a com a proposta das PEC do Plano Mais Brasil (que altera regras fiscais e extingue fundos públicos), em novembro, o pacote que reestrutur­a o serviço público foi adiado mais de uma vez.

De acordo com Uebel, o adiamento foi positivo porque deu mais tempo de o governo conversar com diferentes categorias do serviço público e “alinhar” a proposta.

A reforma é considerad­a sensível porque atinge uma categoria de trabalhado­res que tem forte lobby no Congresso. A frente parlamenta­r do serviço público, por exemplo, tem 255 deputados, o que correspond­e a quase metade dos 513.

Outro ponto levado em consideraç­ão é o fato de as mudanças de regras atingirem não apenas os servidores do Executivo mas também os do Judiciário, grupo bem organizado, e do Legislativ­o, que atuam diretament­e em contato com os parlamenta­res.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil