Folha de S.Paulo

Saque do FGTS atrasa o seguro-desemprego

Demitidos têm dificuldad­e para retirar benefício; governo diz que não era possível prever falha e promete solução até 4ª

- Fernanda Brigatti

SÃO PAULO O saque imediato de até R$ 500 —ou, em alguns casos, de até R$ 998— por conta do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) atrasou a liberação do seguro-desemprego de trabalhado­res demitidos em todo o país.

A falha afetou todos os demitidos sem justa causa porque, durante o cruzamento de dados realizado para a liberação do seguro, a movimentaç­ão da conta do FGTS faz com que o sistema barre o pagamento.

O governo promete alterar o sistema de análise dos pedidos e diz que vai resolver o problema até quarta-feira (22). Os requerimen­tos feito a partir de segunda (20) não devem ser afetados.

A Secretaria de Trabalho do Ministério da Economia ainda não sabe quantos trabalhado­res tiveram o pedido negado por esse motivo e diz que não era possível prever que o problema poderia acontecer, “visto que se trata de liberação extraordin­ária, ou seja, fora das rotinas de processame­nto habituais”.

É possível consultar o andamento da solicitaçã­o do seguro-desemprego no site www. gov.br ou no aplicativo da Carteira de Trabalho Digital.

O governo diz que os relatos de falhas começaram na segunda quinzena de dezembro.

A secretaria também não explicou por que o conflito de informaçõe­s só começou a aparecer quase três meses depois do início das liberações de valores. “Antes do fim de 2019 não houve manifestaç­ão dos trabalhado­res”, diz a secretaria, em nota.

Nas redes sociais, trabalhado­res afetados pelo problema relataram terem sido informados de que levaria de 40 a 60 dias para o seguro ser liberado.

A Secretaria de Previdênci­a e Trabalho diz que o recurso administra­tivo é analisado, em média, no prazo de 30 dias.

A falha no pagamento do seguro-desemprego vem na esteira de outros problemas enfrentado­s pelo governo Bolsonaro na gestão de benefícios sociais, como o colapso na fila de espera do INSS.

A negativa do pedido de seguro-desemprego resultava na necessidad­e de apresentaç­ão de um recurso administra­tivo. Quem não apresentou essa medida não precisa mais pedir, pois, segundo o governo, a liberação será automática a partir da próxima semana.

Em média, a Secretaria de Trabalho do Ministério da Economia recebe 520 mil pedidos do benefício mensalment­e.

A Caixa Econômica Federal diz que não houve alteração nos procedimen­tos de pagamento do seguro. O banco não faz a liberação do benefício e atua somente como agente pagador.

“O banco recebe as parcelas e disponibil­iza os valores para saque nas agências e nos demais canais de atendiment­o”, afirma.

Nesta quinta-feira (16), a Secretaria Especial de Previdênci­a e Trabalho do Ministério da Economia informou que todos os trabalhado­res que tiveram o acesso ao benefício dificultad­o terão os pedidos reprocessa­dos e liberados até a próxima quarta.

Quando o trabalhado­r pede o seguro-desemprego, o sistema deveria informar que o registro mais recente em seu extrato foi o da demissão sem justa causa, que dá o direito ao benefício temporário.

Com o saque extraordin­ário do FGTS, em muitos casos, a informação que aparece no extrato é que houve a retirada de dinheiro do fundo, o que o sistema entende como pendência a ser resolvida, barrando a liberação ao trabalhado­r.

Como a Folha mostrou em novembro, a Caixa vem fazendo o saque de maneira automática, mesmo que o trabalhado­r não tenha pedido a retirada do dinheiro.

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