Descoberto na várzea, Patrick ganha chance no Palmeiras
Jogador é um dos 6 atletas da base do clube promovidos ao time principal
são paulo Alguns coletes, bolas e um campo de terra batida, irregular, localizado no bairro de Santa Margarida, na zona oeste do Rio de Janeiro. Essa é a estrutura do Cara Virada Futebol Arte, projeto social em que Patrick de Paula treinava até 2016, antes de ser descoberto pelo Palmeiras.
Na época, ele era o jogador mais habilidoso do time e um pouco ousado, como conta Wellington Correia Cesario, técnico e presidente do time.
“Ele tem muita habilidade, é até marrento [risos]. Mas era o único que eu deixava bater na bola com o peito do pé. Os outros só podiam finalizar de chapa, que é o certo. O Patrick tinha uma habilidade acima do normal”, conta.
Pelo Cara Virada, o meiocampista chegou a disputar o Estadual do Rio de futebol amador. Ao mesmo tempo, fez parte do Mamaô, outra equipe de sua comunidade, pela qual jogou a Taça das Favelas.
Em sua primeira entrevista exclusiva como atleta profissional, o tímido atleta ficou até sem jeito na hora de ser fotografado. Já dentro de campo, a personalidade dele tem aflorado nos últimos anos.
Com habilidade nas duas pernas, destaca-se pela qualidade no passe e pela força de seus chutes. Foi assim que chamou a atenção de um dos olheiros do Palmeiras, quando recebeu convite para integrar a base do clube.
“Quando eu passei no teste demorou a cair a ficha de que eu jogaria num grande time, no maior do Brasil”, afirmou à Folha o garoto, campeão brasileiro sub-20, em 2018, e da Copa do Brasil da mesma categoria, em 2019.
Natural do Rio Janeiro, Patrick morava no bairro de Campo Grande com os pais, dois irmãos, uma sobrinha e seu cunhado. Ele é um dos seis atletas recém-promovidos pelo time alviverde ao elenco profissional. Ao todo, o clube tem agora nove jogadores formados nas categorias de base no time principal.
Nesta quarta (15), no primeiro jogo da temporada, pela Florida Cup, Patrick enfrentou o Atlético Nacional (COL) como titular do meio de campo, na vaga de Felipe Melo, que foi testado na zaga.
A decisão da diretoria de dar mais espaço aos garotos ocorreu antes da chegada do técnico Vanderlei Luxemburgo, 67, em 15 de dezembro. Até agora, o treinador é a única contratação para a temporada de 2020, como reflexo de uma nova postura do Palmeiras.
Com o elenco mais caro do país, ao lado do plantel do Flamengo, o time alviverde terminou a temporada 2019 sem nenhum título, enquanto a equipe carioca ganhou o Brasileiro e a Libertadores. Diante disso, os dirigentes resolveram diminuir o investimento em reforços e apostar na base.
“É um momento muito feliz para a gente que está subindo”, disse Patrick, promovido junto com Lucas Esteves, Alan Guimarães e Gabriel Menino, todos com 19 anos, Gabriel Veron, 17, e Iván Angulo, 20.
Além deles, Vinicius Silvestre, 25, Pedrão, 22, Wesley, 20, também formados base, retornam após período de empréstimos a outros clubes.
O primeiro campeonato profissional de alguns deles será o Paulista, que começa no dia 22. O Palmeiras estreia contra o Ituano, fora de casa.
Desde 2008, o Palmeiras não vence o estadual. Na última vez em que levou a taça, o técnico da equipe também era Vanderlei Luxemburgo. Mas Patrick, então com oito anos, não se lembra dessa época.
“Eu não o conheço muito. Só sei de matérias que eu vi. Sei que ele ganhou muito títulos, foi o último treinador a ganhar o Paulista pelo Palmeiras. Espero aprender muito com ele”, afirmou Patrick.
O meio-campista também está ansioso para disputar posição com Bruno Henrique e Felipe Melo, os principais volantes do time em 2019.
“Uma briga muito sadia, cada um buscando seu espaço”, disse o atleta, que tem como referências na posição o espanhol Busquets e o holandês De Jong, ambos do Barcelona. “Jogo parecido com eles.”