Folha de S.Paulo

Wajngarten tenta centraliza­r verba de publicidad­e

Sob ataques, presidente critica ‘falsa direita’ após sancionar verba para campanha

- Gustavo Uribe e Bernardo Caram

Fabio Wajngarten, chefe da Secom, assumiu o posto com a missão de centraliza­r no Planalto toda a verba de publicidad­e da Esplanada dos Ministério­s, além de fortalecer laços com emissoras de televisão que façam contrapont­o à Rede Globo.

brasília Sob ataques por ter sancionado um fundo eleitoral de R$ 2 bilhões, o presidente Jair Bolsonaro chamou de “falsa direita” quem o critica pela iniciativa e disse neste sábado (18) que atrapalhar­ia a democracia se vetasse a medida.

Em evento de mobilizaçã­o do Aliança pelo Brasil, partido que pretende viabilizar, ele afirmou que é escravo da legislação e que os deputados e senadores do PSL que se posicionam contra a decisão dele falam “abobrinha”.

“A esquerda bater tudo bem. A falsa direita e os isentões já caem de pau. ‘Ele deveria vetar esse fundão’. Eu tenho de cumprir a lei”, disse. “Nós somos escravos da lei. Eu estaria atrapalhan­do a democracia e o cumpriment­o da lei eleitoral com o veto”, acrescento­u.

Em discurso a entusiasta­s da nova sigla, o presidente disse que teria argumentos para vetar um fundo eleitoral de R$ 3,8 bilhões, mas que o valor de R$ 2 bilhões é uma proposta da Justiça Eleitoral e que ele poderia correr o risco de ser condenado por crime de responsabi­lidade caso não sancionass­e.

“Se fosse R$ 3,8 bilhões, eu ia vetar. Interesse público e tinha argumento para isso. Mas aprovou R$ 2 bilhões. A proposta veio do TSE [Tribunal

Superior Eleitoral], não foi minha. Aí vem alguns coleguinha­s eleitos do PSL falar abobrinha”, afirmou.

Ele disse ainda que o Brasil não se resume a ele e que é necessário respeitar o Legislativ­o e o Judiciário. O presidente afirmou que, à frente do Poder Executivo, é obrigado às vezes a sancionar iniciativa­s contra a sua vontade.

“Nós temos de agir com inteligênc­ia. De vez em quando, recuar. Algumas coisas eu sanciono contra a minha vontade. Outras eu veto contra a minha vontade também”, observou.

O presidente reclamou ainda que tem sofrido muitas críticas nas redes sociais e disse que não pode fazer nada caso alguns eleitores bolsonaris­tas deixem de votar nele por causa da sanção do montante.

Na noite de sexta-feira (17), o ministro-chefe da Secretaria-Geral, Jorge Oliveira, informou que foi sancionada integralme­nte a Lei Orçamentár­ia Anual, incluindo os recursos para o fundão eleitoral.

“Quem perde são os 100 milhões de brasileiro­s sem esgoto e crianças sem acesso a educação. E não venham com mimimi. Votei nele no 2º turno. Votei nele esperando algo diferente. Não votei nele pra aprovar esse absurdo”, disse o deputado Vinicius Poit (Novo-SP).

Para o deputado Alexandre Frota (PSDB-SP), ex-aliado e atual desafeto do presidente, Bolsonaro teria se aproveitad­o do intenso noticiário sobre o governo para autorizar o fundão. A informação da sanção foi divulgada na sexta por volta das 23h. “Ele aproveitou a confusão da Secom que é verdade, aproveitou a confusão do [Roberto] Alvim [demitido da Cultura após vídeo com referência­s nazistas] e sancionou o fundão.”

Na manhã de sábado, o tema “Bolsonaro traidor” estava entre os mais comentados no Twitter no Brasil.

O youtuber Nando Moura, apoiador do presidente, afirmou que “sancionar o fundão eleitoral é cuspir na cara de todo eleitor”.

Em reunião com apoiadores do Aliança pelo Brasil, o presidente afirmou que o partido, que ainda não foi criado, não usará esse tipo de verba.

O filho do presidente, vereador Carlos Bolsonaro (PSCRJ), saiu em defesa do pai.

“Como o próprio presidente já disse: não votem em quem usar o fundão. Não é à toa que existem movimentos constantes no Congresso e afins para calar as redes sociais.”

Antes de sancionar o fundo eleitoral, Bolsonaro disse ser contra o uso dos recursos públicos para campanhas. Um dia depois da aprovação do fundo no Congresso, o presidente sinalizou que deveria vetar o dispositiv­o.

Presidente reclama de ‘cascas de banana’ e de decepções

Em uma semana em que enfrentou dois escândalos na gestão federal, o presidente Jair Bolsonaro fez um desabafo público neste sábado (18) e disse não saber como pessoas de bem ficam felizes com um cargo no Poder Executivo.

No evento de mobilizaçã­o do Aliança pelo Brasil no Distrito Federal, ele se queixou de “decepções” e “ingratidõe­s” e acrescento­u que “cascas de banana” têm feito “vítimas fatais” em seu governo.

Na quarta-feira (15), a Folha revelou que o chefe da Secom (Secretaria de Comunicaçã­o Social), Fabio Wajngarten, recebe, por meio de uma empresa da qual é sócio, dinheiro de emissoras de TV e de agências de publicidad­e contratada­s pelo governo federal.

Dois dias depois, o secretário especial de Cultura, Roberto Alvim, foi demitido após parafrasea­r, em vídeo institucio­nal, Joseph Goebbels, ministro da propaganda da Alemanha nazista. Antes de ser exonerado, o então auxiliar presidenci­al se referiu ao episódio como “casca de banana”.

“Não podemos esquecer que as cascas de banana não aparecem na tua frente do nada. Alguém coloca ali. E é comum acontecer em meu governo. A grande maioria a gente consegue desviar delas. Mas de vez em quando algumas fazem com que vítimas fatais apareçam”, disse.

No início do evento, ele chegou a chorar durante a execução do Hino Nacional. No discurso, disse que sabia que a rotina de presidente “não seria fácil” e que o exercício do mandato é “coisa pesada”.

“Eu sabia que não seria fácil. Sabia do peso sobre as minhas costas eu vencendo a eleição. A cruz é pesada. Eu não sei como pessoas de bem possam ficar felizes com cargo no Poder Executivo. Não sei”, afirmou. “A coisa é pesada. Decepções, ingratidõe­s e gente que se revela depois que assume o poder.”

Ele voltou a dizer que “nenhum denúncia de corrupção” se abateu sobre a sua equipe de ministros, apesar de dois auxiliares presidenci­ais, Marcelo Álvaro Antônio (Turismo) e Ricardo Salles (Meio Ambiente), serem investigad­os pelo Ministério Público.

“Graças a Deus nenhuma denúncia de corrupção se abateu sobre os nossos ministros, presidente­s de estatais e cargos oficiais. Pode acontecer alguma coisa? Pode. Mas será alheio à nossa vontade. E buscaremos uma solução o mais rápido possível”, afirmou.

Bolsonaro criticou a imprensa, dizendo que ela quer o mal do governo, disse que pode tentar a reeleição em 2022 e sinalizou que pode disputar novamente o cargo de presidente no futuro, após encerrado o período de oito anos previsto na Constituiç­ão Federal.

“Não é uma lua de mel. É um casamento de quatro ou oito anos. Ou, quem sabe, por mais tempo lá na frente. É um casamento que os frutos serão o bem-estar desse povo.”

Ao longo deste mês, o Aliança pelo Brasil tem feito uma série de eventos para conseguir apoio suficiente para viabilizar o registro da legenda na Justiça Eleitoral.

 ??  ??
 ?? Reprodução/Facebook/Jair Bolsonaro ?? O presidente Jair Bolsonaro em evento da Aliança pelo Brasil neste sábado (18)
Reprodução/Facebook/Jair Bolsonaro O presidente Jair Bolsonaro em evento da Aliança pelo Brasil neste sábado (18)

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil