Wajngarten tenta centralizar verba de publicidade
Sob ataques, presidente critica ‘falsa direita’ após sancionar verba para campanha
Fabio Wajngarten, chefe da Secom, assumiu o posto com a missão de centralizar no Planalto toda a verba de publicidade da Esplanada dos Ministérios, além de fortalecer laços com emissoras de televisão que façam contraponto à Rede Globo.
brasília Sob ataques por ter sancionado um fundo eleitoral de R$ 2 bilhões, o presidente Jair Bolsonaro chamou de “falsa direita” quem o critica pela iniciativa e disse neste sábado (18) que atrapalharia a democracia se vetasse a medida.
Em evento de mobilização do Aliança pelo Brasil, partido que pretende viabilizar, ele afirmou que é escravo da legislação e que os deputados e senadores do PSL que se posicionam contra a decisão dele falam “abobrinha”.
“A esquerda bater tudo bem. A falsa direita e os isentões já caem de pau. ‘Ele deveria vetar esse fundão’. Eu tenho de cumprir a lei”, disse. “Nós somos escravos da lei. Eu estaria atrapalhando a democracia e o cumprimento da lei eleitoral com o veto”, acrescentou.
Em discurso a entusiastas da nova sigla, o presidente disse que teria argumentos para vetar um fundo eleitoral de R$ 3,8 bilhões, mas que o valor de R$ 2 bilhões é uma proposta da Justiça Eleitoral e que ele poderia correr o risco de ser condenado por crime de responsabilidade caso não sancionasse.
“Se fosse R$ 3,8 bilhões, eu ia vetar. Interesse público e tinha argumento para isso. Mas aprovou R$ 2 bilhões. A proposta veio do TSE [Tribunal
Superior Eleitoral], não foi minha. Aí vem alguns coleguinhas eleitos do PSL falar abobrinha”, afirmou.
Ele disse ainda que o Brasil não se resume a ele e que é necessário respeitar o Legislativo e o Judiciário. O presidente afirmou que, à frente do Poder Executivo, é obrigado às vezes a sancionar iniciativas contra a sua vontade.
“Nós temos de agir com inteligência. De vez em quando, recuar. Algumas coisas eu sanciono contra a minha vontade. Outras eu veto contra a minha vontade também”, observou.
O presidente reclamou ainda que tem sofrido muitas críticas nas redes sociais e disse que não pode fazer nada caso alguns eleitores bolsonaristas deixem de votar nele por causa da sanção do montante.
Na noite de sexta-feira (17), o ministro-chefe da Secretaria-Geral, Jorge Oliveira, informou que foi sancionada integralmente a Lei Orçamentária Anual, incluindo os recursos para o fundão eleitoral.
“Quem perde são os 100 milhões de brasileiros sem esgoto e crianças sem acesso a educação. E não venham com mimimi. Votei nele no 2º turno. Votei nele esperando algo diferente. Não votei nele pra aprovar esse absurdo”, disse o deputado Vinicius Poit (Novo-SP).
Para o deputado Alexandre Frota (PSDB-SP), ex-aliado e atual desafeto do presidente, Bolsonaro teria se aproveitado do intenso noticiário sobre o governo para autorizar o fundão. A informação da sanção foi divulgada na sexta por volta das 23h. “Ele aproveitou a confusão da Secom que é verdade, aproveitou a confusão do [Roberto] Alvim [demitido da Cultura após vídeo com referências nazistas] e sancionou o fundão.”
Na manhã de sábado, o tema “Bolsonaro traidor” estava entre os mais comentados no Twitter no Brasil.
O youtuber Nando Moura, apoiador do presidente, afirmou que “sancionar o fundão eleitoral é cuspir na cara de todo eleitor”.
Em reunião com apoiadores do Aliança pelo Brasil, o presidente afirmou que o partido, que ainda não foi criado, não usará esse tipo de verba.
O filho do presidente, vereador Carlos Bolsonaro (PSCRJ), saiu em defesa do pai.
“Como o próprio presidente já disse: não votem em quem usar o fundão. Não é à toa que existem movimentos constantes no Congresso e afins para calar as redes sociais.”
Antes de sancionar o fundo eleitoral, Bolsonaro disse ser contra o uso dos recursos públicos para campanhas. Um dia depois da aprovação do fundo no Congresso, o presidente sinalizou que deveria vetar o dispositivo.
Presidente reclama de ‘cascas de banana’ e de decepções
Em uma semana em que enfrentou dois escândalos na gestão federal, o presidente Jair Bolsonaro fez um desabafo público neste sábado (18) e disse não saber como pessoas de bem ficam felizes com um cargo no Poder Executivo.
No evento de mobilização do Aliança pelo Brasil no Distrito Federal, ele se queixou de “decepções” e “ingratidões” e acrescentou que “cascas de banana” têm feito “vítimas fatais” em seu governo.
Na quarta-feira (15), a Folha revelou que o chefe da Secom (Secretaria de Comunicação Social), Fabio Wajngarten, recebe, por meio de uma empresa da qual é sócio, dinheiro de emissoras de TV e de agências de publicidade contratadas pelo governo federal.
Dois dias depois, o secretário especial de Cultura, Roberto Alvim, foi demitido após parafrasear, em vídeo institucional, Joseph Goebbels, ministro da propaganda da Alemanha nazista. Antes de ser exonerado, o então auxiliar presidencial se referiu ao episódio como “casca de banana”.
“Não podemos esquecer que as cascas de banana não aparecem na tua frente do nada. Alguém coloca ali. E é comum acontecer em meu governo. A grande maioria a gente consegue desviar delas. Mas de vez em quando algumas fazem com que vítimas fatais apareçam”, disse.
No início do evento, ele chegou a chorar durante a execução do Hino Nacional. No discurso, disse que sabia que a rotina de presidente “não seria fácil” e que o exercício do mandato é “coisa pesada”.
“Eu sabia que não seria fácil. Sabia do peso sobre as minhas costas eu vencendo a eleição. A cruz é pesada. Eu não sei como pessoas de bem possam ficar felizes com cargo no Poder Executivo. Não sei”, afirmou. “A coisa é pesada. Decepções, ingratidões e gente que se revela depois que assume o poder.”
Ele voltou a dizer que “nenhum denúncia de corrupção” se abateu sobre a sua equipe de ministros, apesar de dois auxiliares presidenciais, Marcelo Álvaro Antônio (Turismo) e Ricardo Salles (Meio Ambiente), serem investigados pelo Ministério Público.
“Graças a Deus nenhuma denúncia de corrupção se abateu sobre os nossos ministros, presidentes de estatais e cargos oficiais. Pode acontecer alguma coisa? Pode. Mas será alheio à nossa vontade. E buscaremos uma solução o mais rápido possível”, afirmou.
Bolsonaro criticou a imprensa, dizendo que ela quer o mal do governo, disse que pode tentar a reeleição em 2022 e sinalizou que pode disputar novamente o cargo de presidente no futuro, após encerrado o período de oito anos previsto na Constituição Federal.
“Não é uma lua de mel. É um casamento de quatro ou oito anos. Ou, quem sabe, por mais tempo lá na frente. É um casamento que os frutos serão o bem-estar desse povo.”
Ao longo deste mês, o Aliança pelo Brasil tem feito uma série de eventos para conseguir apoio suficiente para viabilizar o registro da legenda na Justiça Eleitoral.