MEC erra em notas do Enem e diz que corrigirá problema
Ministro prometeu corrigir falhas até segunda-feira, mas dimensão do problema ainda não é conhecida
O ministro Abraham Weintraub informou ontem que notas do Enem foram divulgadas com erro. Ele disse que a falha, que prometeu corrigir até amanhã, se deveu a troca de gabaritos. Segundo o Inep, cerca de 39 mil candidatos podem ser afetados.
O ministro da Educação, Abraham Weintraub, afirmou no sábado (18) que notas do Enem foram divulgadas com erros.
O motivo foi uma falha na gráfica que passou a imprimir a prova no ano passado, segundo Alexandre Lopes, presidente do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais).
O MEC criou um email para receber relatos de candidatos que se sentiram prejudicados: enem2019@inep.gov.br.
O órgão liberou os resultados individuais da edição 2019 do exame na sexta (17). À noite, candidatos começaram a relatar nas redes sociais estranhamento com as notas.
Weintraub publicou vídeo na manhã de sábado nas redes sociais assumindo a falha. “Encontramos inconsistências na contabilização e correção da segunda prova do Enem”, disse. As provas eram de matemática e ciências humanas.
O ministro disse que o impacto em número de candidatos foi pequeno, mas não detalhou a dimensão do problema. Quase 4 milhões de pessoas participaram do exame.
“Um grupo muito pequeno de pessoas teve o gabarito trocado quando foi [sic] fechado os envelopes”, disse.
Mais tarde, o presidente do Inep disse que quatro casos com notas erradas foram confirmados, todos em Viçosa (MG), e que as falhas poderiam afetar 1% dos candidatos, ou seja, cerca de 39 mil pessoas. Há possibilidade de erros em notas de participantes de outros estados.
Weintraub prometeu corrigir as falhas até segunda-feira, mas o Inep admite que só terá dimensão real do problema na própria segunda, porque as equipes vão continuar a analisar os arquivos em busca de problemas.
Se os questionamentos sobre as notas se avolumarem, o Inep terá dificuldades de garantir a confiabilidade dos resultados.
O erro aconteceu na identificação dos candidatos e da respectiva cor de sua prova. Todos os participantes fazem a mesma prova, mas há versões diferentes, com itens em outra ordem, identificadas por cores.
Por causa da falha, o sistema corrigiu provas como se fossem de outra cor.
Inicialmente, o Inep afirmou que se tratava de reflexo do modelo matemático adotado pelo exame, a TRI (Teoria da Resposta ao Item). Com a TRI, a nota final depende também de quais questões foram anotadas como corretas.
Como os relatos de dúvidas sobre as notas cresceram, técnicos do Inep, da gráfica Valid (que passou a imprimir a prova no ano passado) e do consórcio aplicador se debruçaram sobre as bases de dados em busca de inconsistências. O trabalho teria ocorrido ainda durante a madrugada de sábado.
Em março do ano passado, a gráfica que imprimia o Enem desde 2009, a RR Donnelley, faliu. O governo preferiu contratar a segunda colocada na última licitação ao invés de fazer novo certame. A gráfica Valid foi então contratada para o serviço, mesmo sem ter experiência em serviços parecidos com o Enem.
Funcionários ligados à aplicação do exame relataram ao longo do ano riscos de problemas com a gráfica, que foram minimizados pelo governo.
Como a gráfica era nova no trabalho, o processo para impressão foi todo muito corrido, de acordo com relatos ouvidos pela Folha. A própria gráfica não tinha infraestrutura adequada para armazenar e manusear os malotes que seriam despachados.
O Inep, assim como outras áreas do MEC, passou por diversas mudanças em cargos importantes, o que atrapalhou os trabalhos no órgão.
Alexandre Lopes já é o terceiro a presidir o órgão sob a gestão Jair Bolsonaro. Uma diretoria do instituto ficou cerca de cinco meses sem titular.
Lopes concedeu entrevista sozinho neste sábado, sem a presença do ministro, apesar de Weintraub ter estado no Inep pela manhã para gravar o vídeo publicado.
Apesar da falha, o presidente do Inep disse estar satisfeito com o trabalho da gráfica e se esquivou a responder se a inexperiência dela pode ter colaborado com o problema.
“Não tenho informação suficiente para poder dizer o que gerou esse tipo de inconsistência”, disse na entrevista.
O ministro só se pronunciou pelas redes sociais. “Houve inconsistência no gabarito de algumas provas do Enem 2019 e, por isso, candidatos foram surpreendidos com os resultados de suas notas”, escreveu o ministro junto com a publicação do vídeo.
Weintraub havia comemorado em diversas ocasiões que a mais recente edição do exame, a primeira no governo Bolsonaro, havia sido a melhor de todos os tempos por não registrar falhas.
No entanto, uma imagem da prova havia vazado enquanto os candidatos ainda faziam a prova. Apesar da falha de segurança, o ministro afirmou na época que a divulgação da imagem não prejudicou o andamento do exame.
Na sexta (17), o ministro criticou a Folha ao afirmar que reportagens publicadas pelo jornal levantavam dúvidas sobre a boa realização do exame.
Apesar de falha no exame, governo mantém data do Sisu
brasília O MEC (Ministério da Educação) ainda não tem a dimensão do número de participantes do Enem 2019 com notas erradas por causa da falha na gráfica.
Mesmo assim, o ministro Abraham Weintraub se apressou em minimizar o impacto do problema e manteve o calendário do Sisu, sistema de seleção de alunos para universidade públicas.
O Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), órgão do MEC responsável pelo Enem, promete ter a situação resolvida até segunda-feira, véspera da abertura das inscrições no sistema. O presidente do instituto, Alexandre Lopes, disse não trabalhar com a hipótese de adiar as inscrições.
O ministro disse a interlocutores que a realização de um Enem sem problemas era crucial para a sua permanência no cargo. A preocupação se tornou maior quando sua saída da pasta passou a ser defendida por diversos aliados do governo —o presidente Jair Bolsonaro, entretanto, garantiu sua permanência até agora.
Ministros do alto escalão do governo indicaram que o Palácio do Planalto não foi informado oficialmente sobre os problemas no Enem. Auxiliares do presidente Bolsonaro disseram ter tido conhecimento do caso apenas pela imprensa.
A avaliação, tanto de integrantes do governo quanto de parlamentares que acompanham o MEC de perto, é a de que é preciso esperar qual será dimensão do episódio para calcular um possível dano maior a Weintraub.
Ministros próximos a Bolsonaro dizem que o vídeo com alusão ao nazismo que derrubou o secretário de Cultura, Roberto Alvim, elevou o sarrafo dos deslizes que são aceitos pelo presidente.
De acordo com essa avaliação, uma eventual demissão do ministro da Educação neste momento só viria se os problemas com o Enem não forem solucionados e atingirem um número muito grande de estudantes.