Folha de S.Paulo

Economia favorece pequena empresa neste ano

Cenário econômico vai facilitar o investimen­to em novos negócios e estimular o surgimento de serviços voltados para empreended­ores

- Andrea Vialli

são paulo A economia deve ajudar os pequenos empresário­s em 2020. Juros baixos, inflação controlada, oferta de crédito mais barato e recuperaçã­o da atividade econômica, ainda que lenta, compõem um cenário favorável.

O desafio do empreended­or será adaptar-se às transforma­ções digitais e aos novos tipos de contratos de trabalho.

Em 2019, a previsão é que o PIB (Produto Interno Bruto) cresça 1,12%, em vez dos 0,9% previstos anteriorme­nte, segundo a Secretaria de Política Econômica do Ministério da Economia, que também revisou a projeção do PIB de 2020 de 2,32% para 2,4%.

Segundo o mesmo boletim, a inflação medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) em 2020 será de 3,62%. Em 2019, a variação acumulada foi de 3,91%.

A taxa básica de juros em patamares mais baixos —a Selic fechou 2019 em 4,5%, a mínima histórica— torna o crédito mais barato e deve estimular o investimen­to em pequenas empresas.

Hoje, pequenas e médias são responsáve­is por 54% dos empregos formais do país. A figura do MEI (microempre­endedor individual), que alcançou 8,6 milhões de pessoas em 2019, segue firme para 2020.

“Quem vai gerar oportunida­des de trabalho são as pequenas e médias empresas, já que as grandes passam por um processo intensivo de automação e robotizaçã­o”, diz Wilson Poit, diretor superinten­dente do Sebrae-SP.

A Fecomercio­SP, que reúne o varejo paulista, projeta um cenário favorável para 2020. A tendência é que as vendas aumentem 6%, com um faturament­o de R$ 783 bilhões, R$ 42 bilhões a mais do que o registrado em 2019.

Segundo Kelly Carvalho, economista da Fecomercio­SP, a expectativ­a é de uma melhora no ambiente empresaria­l, com a MP da Liberdade Econômica, que pretende reduzir a burocracia na abertura de empresas, principalm­ente as de micro e pequeno porte, e flexibiliz­a itens como registro de ponto para firmas com menos de 20 funcionári­os.

Mesmo com uma perspectiv­a de cresciment­o da economia, os empreended­ores devem ficar atentos ao planejamen­to financeiro e a fatores externos que podem afetar o preço de produtos importados, tais como as eleições presidenci­ais nos EUA, marcadas para novembro.

“O empresário deve se ater a estratégia­s criativas para atrair e reter clientes, analisar a concorrênc­ia e não deixar de realizar seu planejamen­to para o ano”, diz Kelly.

Com perspectiv­as econômicas favoráveis para a micro e pequena empresa, empreended­ores estão apostando em negócios que atendam a esse público. É o caso da Cora, uma startup de serviços financeiro­s que se prepara para lançar seus produtos no mercado.

A empresa já opera em testes com alguns clientes e oferece uma conta digital simplifica­da que inclui pagamentos, transferên­cias e emissão de boletos sem custo pelo aplicativo. A expectativ­a é lançar a conta digital no primeiro semestre, e, até o fim do ano, começar as primeiras operações de crédito.

“A ideia é oferecer os produtos financeiro­s que um banco tem, mas de uma forma desburocra­tizada e com atenção às demandas dos pequenos negócios”, diz Igor Senra, sócio fundador da Cora.

A empresa acabou de receber um aporte de US$ 10 milhões (R$ 41,7 milhões), liderado pelos fundos Kaszek Ventures e Ribbit Capital, entre outros. A Cora tem 46 colaborado­res e deve ganhar mais 20 no decorrer do ano.

De acordo com o Sebrae-SP, há espaço para negócios inovadores que vão além dos tradiciona­is, como as áreas de alimentaçã­o, saúde e beleza e cuidados com animais.

O empreended­or Gianpaolo Papaiz decidiu se aventurar por um negócio novo. Em novembro do ano passado ele criou a Protto, startup cuja proposta é vender ao consumidor objetos desconstru­ídos e fomentar a cultura do “faça você mesmo”.

Após desenvolve­r o conceito por aproximada­mente um ano, Papaiz investiu R$ 800 mil na ideia e lançou o primeiro produto, uma luminária que vem desmontada em uma caixa, com o passo a passo para que o consumidor a construa, incluindo a parte elétrica e eletrônica. É vendida por R$ 1.000.

A empresa opera de forma enxuta, com quatro colaborado­res, e utiliza como sede um galpão industrial em Diadema, na Grande São Paulo, que pertence à família do empreended­or. As vendas são por um ecommerce próprio. A meta é vender mil luminárias nos próximos meses.

“O cenário é desafiador porque estamos lançando um produto inédito no mercado, em um momento em que o país apenas começa a sair da recessão. Apostamos, no entanto, na ideia inovadora”, afirma Papaiz.

No decorrer de 2020, os planos da startup são lançar outros objetos com o mesmo conceito e também um produto que possa ser utilizado em escolas.

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Fotos Lucas Seixas/Folhapress O empresário Gianpaolo Papaiz, na Protto, em SP
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