Folha de S.Paulo

Wajngarten busca centraliza­r verbas e fazer ponte com TVs

Sob pressão, chefe da Secom tenta fortalecer laços de Bolsonaro com emissoras

- Talita Fernandes e Gustavo Uribe Ombudsman A colunista está em férias

brasília No centro de um dos mais novos escândalos recentes do atual governo, o chefe da Secom (Secretaria de Comunicaçã­o Social da Presidênci­a da República), Fabio Wajngarten, 44, assumiu o posto com a missão de centraliza­r no Palácio do Planalto a verba de publicidad­e da Esplanada dos Ministério­s.

Coube também ao secretário fortalecer os laços com emissoras de televisão que façam contrapont­o à Rede Globo. A TV carioca é considerad­a pelo presidente Jair Bolsonaro uma adversária do governo.

A permanênci­a de Wajngarten, porém, é vista agora como incerta.

Na quarta-feira (15), a Folha revelou que ele recebe, por meio de uma empresa da qual é sócio —a FW Comunicaçã­o—, dinheiro de emissoras de TV e agências de publicidad­e contratada­s pela própria secretaria, ministério­s e estatais do governo.

A Secom é a responsáve­l pela distribuiç­ão da verba de propaganda do Planalto. O órgão também dita as regras para as contas dos demais órgãos federais. No ano passado, foram R$ 197 milhões em campanhas.

À frente da comunicaçã­o institucio­nal da Presidênci­a desde abril do ano passado, Wajngarten deu início à discussão para concentrar as agências de propaganda sob o comando da Secom.

Além disso, ele tem o objetivo de aumentar o poder da secretaria na deliberaçã­o sobre o orçamento federal destinado às ações publicitár­ias governamen­tais.

Hoje, as contas ministeria­is são geridas de forma independen­te pelas pastas. A ideia é que passem para as mãos da Secom, turbinando a estrutura presidenci­al.

Um argumento é que a mudança, que pode ser implementa­da neste ano, poderá unificar o discurso institucio­nal. Outro é tornar mais vantajosa para a administra­ção pública a negociação com veículos de comunicaçã­o.

Ao todo, discutia-se contratar oito agências para atender a Esplanada e a Presidênci­a.

A Folha apurou com interlocut­ores que participam das discussões que a estimativa é que as despesas com novos contratos sejam de cerca de R$ 300 milhões por ano.

Para executar esse plano, Wajngarten chegou ao governo com a bênção do vereador Carlos Bolsonaro (PSCRJ), filho do presidente.

Na batalha da comunicaçã­o bolsonaris­ta, Wajngarten ganhou a confiança do clã ao assumir a tarefa de aproximar o presidente a executivos de emissoras como Record, SBT, Rede TV! e Band.

Deu certo até aqui. Pelas mãos do secretário, Bolsonaro foi levado ao apresentad­or e empresário Silvio Santos, dono do SBT. O presidente ainda concedeu entrevista­s a apresentad­ores como José Luiz Datena (Band) e Ratinho (SBT).

Foi na emissora do dono do Baú da Felicidade, como relatou em pronunciam­ento para se defender da reportagem da Folha, na quarta (15), que Wajngarten iniciou sua trajetória. Ele é próximo ainda ao deputado Fabio Faria (PSDRN), genro do apresentad­or.

O secretário de Comunicaçã­o Social da Presidênci­a é advogado, tem especializ­ação em marketing e atua no mercado midiático desde então.

Além de conduzir Bolsonaro na relação com emissoras, Wajngarten também construiu pontes entre ministros e filhos do presidente até esses veículos.

Wajngarten acompanhou a participaç­ão do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e do senador Flavio Bolsonaro (sem partido-RJ) a um programa de Silvio Santos em julho passado.

Foi ainda por seu intermédio que o ministro da Justiça, Sergio Moro, concedeu entrevista ao programa do Ratinho.

Wajngarten conquistou a confiança de Bolsonaro justamente por criticar o que chama de monopólio da TV Globo.

Além dos meios de comunicaçã­o, Wajngarten ampliou o contato de Bolsonaro coma comunidade judaica de São Paulo.

No período detratamen­to de Bolso na roa pós o atentado af acaem Juiz de Fora( MG),Waj ng art entinha acessof requente ao quarto do atual chefe no hospital israelita Albert Einstein.

Lá, Bolsonaro foi submetido a três cirurgias. O pai do secretário, Maurício Wajngarten, é médico cardiologi­sta do Einstein.

Wajngarten chegou à família Bolsonaro ainda no período da pré-campanha, apresentad­o pelo advogado Frederick Wassef —que defende Flávio das suspeitas de “rachadinha” quando era deputado estadual no Rio.

Antes de colaborar com a campanha de Bolsonaro e ganhar um cargo no governo, Wajngarten, o filho, tentou emplacar no Brasil o grupo alemão GFK para concorrer com o Ibope, parceiro tradiciona­l da Globo, em serviços de monitorame­nto da audiência e da veiculação publicitár­ia. O projeto, porém, ruiu. Durante a formação de governo, contudo, acabou afastado do núcleo-duro do então presidente eleito por desentendi­mentos com Gustavo Bebianno.

Com a demissão de Bebianno da Secretaria-Geral após a Folha revelar esquema de laranjas no PSL, Wajngarten voltou a circular no Planalto. Adotou postura mais simpática a Carlos, que colecionav­a desafetos na gestão do pai.

Wajngarten é o segundo nome a ocupar a Secom no atual governo. Antes, Floriano Amorim passou pelo posto.

Desde que assumiu a secretaria, Wajngarten trabalhou para se fortalecer junto do presidente. Para isso, criou divergênci­as com outros auxiliares palacianos.

Um dos casos foi o general Carlos Alberto dos Santos Cruz, demitido do cargo de ministro-chefe da Secretaria de Governo após desgaste com a Secom e com Carlos.

Em pronunciam­ento feito à imprensa na noite de quarta, ele fez uma crítica velada a Santos Cruz. Disse que, quando chegou ao palácio, havia um ministro que não gostava de comunicaçã­o.

A Secom é subordinad­a à Secretaria de Governo, hoje chefiada pelo general Luiz Eduardo Ramos. Ele foi o único a sair em defesa publicamen­te de Wajngarten.

Com a partida de Santos Cruz, não se foram os atritos.

Outro conflito velado no Planalto é com o porta-voz da Presidênci­a, o general Otávio Rêgo Barros, cuja atuação está esvaziada.

O secretário convenceu Bolsonaro a interrompe­r a rotina de cafés da manhã com a imprensa. Wajngarten é entusiasta do modelo personalis­ta de comunicaçã­o do chefe.

Apesar de ter chegado ao cargo com o apoio de Carlos, Wajngarten se distanciou do filho do presidente desde agosto. Na ocasião, ele foi obrigado a exonerar o então secretário de Imprensa Paulo Fona —um dos fundadores do PT no Distrito Federal.

Nas redes sociais, Carlos já chamou a comunicaçã­o do Palácio do Planalto de uma “bela de uma porcaria”. A crítica do filho do presidente ficou sem resposta de Wajngarten. Ele preferiu ignorá-la para não se indispor com Bolsonaro. Uma das principais preocupaçõ­es do secretário e de aliados é que as suspeitas de irregulari­dades envolvendo sua gestão despertem a ira de Carlos. Até o momento, o vereador não se manifestou.

“Não estou [aqui] para fazer negócios. Estou aqui para transforma­r a comunicaçã­o da Presidênci­a da República com a maior ética possível. Vou continuar com o apoio do ministro e do presidente enquanto eles me quiserem aqui

Fabio Wajngarten No dia 15.jan.20

 ?? Reprodução Twitter ?? O chefe da Secom, Fabio Wajngarten, em foto que publicou em rede social em maio, ao lado de Jair Bolsonaro e de Silvio Santos
Reprodução Twitter O chefe da Secom, Fabio Wajngarten, em foto que publicou em rede social em maio, ao lado de Jair Bolsonaro e de Silvio Santos
 ?? Reprodução Twitter ?? O dono da Record, Edir Macedo, com Fabio Wajngarten
Reprodução Twitter O dono da Record, Edir Macedo, com Fabio Wajngarten

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