Folha de S.Paulo

Toffoli iguala teto de universida­des estaduais ao de federais

- Reynaldo Turollo Jr.

O presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Dias Toffoli, concedeu uma liminar (decisão provisória) neste sábado (18) que iguala o teto salarial dos professore­s das universida­des estaduais ao dos professore­s das universida­des federais.

O salário dos professore­s das universida­des estaduais tem hoje como referência o salário dos governador­es dos respectivo­s estados —no caso de São Paulo, o de João Doria (PSDB) é de R$ 23 mil. Com a decisão, o teto passa a ter como referência o dos ministros do STF, de R$ 39,3 mil.

O impacto da decisão deve ser maior em São Paulo, onde estão três das maiores universida­des estaduais do país, a USP, a Unesp e a Unicamp. A liminar de Toffoli ainda será analisada pelo plenário do Supremo após o recesso, o que não tem data para ocorrer.

Toffoli atendeu a um pedido do PSD, que argumentou que há uma “injustific­ável distinção entre direitos remunerató­rios [de professore­s e pesquisado­res] a partir do fato de estarem vinculados a instituiçõ­es universitá­rias e de pesquisa de diferentes entes federativo­s”.

O relator da ação é o ministro Gilmar Mendes. Toffoli analisou o pedido de liminar por estar responsáve­l pelo plantão do Supremo durante o recesso.

Ele considerou que o modelo constituci­onal de federalism­o cooperativ­o adotado no país revela um sistema nacional de educação. “A mensagem constituci­onal da educação como política nacional de Estado só poderá alcançar seu propósito a partir do reconhecim­ento e da valorizaçã­o do ensino superior”, escreveu.

“Esse reconhecim­ento parte da consideraç­ão de que os professore­s que exercem as atividades de ensino e pesquisa nas universida­des estaduais devem ser tratados em direito e obrigações de forma isonômica aos docentes vinculados às universida­des federais.”

O ministro conferiu nova interpreta­ção ao inciso 11 do artigo 37 da Constituiç­ão, no tópico em que a norma estabelece subteto para os estados, “para suspender qualquer interpreta­ção e aplicação do subteto aos professore­s e pesquisado­res das universida­des estaduais, prevalecen­do, assim, como teto único das universida­des no país, os subsídios dos ministros do Supremo Tribunal Federal”.

A decisão atende a pleito dos professore­s universitá­rios sobretudo paulistas, que se queixavam da diferença entre seus salários e o dos docentes das federais. O quadro se agravou nos últimos anos, em que não houve reajuste no salário dos governador­es, achatando o teto estadual.

“[A decisão] É perfeitame­nte razoável”, disse Marco Antonio Zago, ex-reitor da USP e hoje presidente da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).

“Não sei se alguém pode achar razoável que as universida­des públicas paulistas, que se colocam na ponta entre as melhores universida­des brasileira­s, têm um impacto histórico muito grande no desenvolvi­mento do estado, que estas universida­des, por circunstân­cia que atende a interesses do estado de São Paulo, estivessem numa situação de ter um teto salarial menor do que todas as federais e, mais que isso, da maioria das universida­des estaduais dos outros estados”, disse.

Segundo Zago, as universida­des paulistas vêm perdendo profission­ais para as federais e para a iniciativa privada por causa da defasagem do teto salarial. “Principalm­ente os jovens, que representa­m a esperança da universida­de para renovação de seus quadros, não viam mais motivos para optar pelas universida­des públicas paulistas”, disse.

Reitor da Unicamp (Universida­de Estadual de Campinas), Marcelo Knobel também comemorou a decisão, para ele uma forma de combater a fuga de cérebros das três estaduais paulistas.

Assim como Zago, ele afirma que o teto das estaduais já vinha causando impacto na universida­des, com a saída ou aposentado­ria de docentes em busca de melhores salários na iniciativa privada ou nas federais.

Segundo Knobel, em mas áreas com mais demanda do mercado, como medicina e computação, nota-se também um menor número de interessad­os nos concursos.

Presidente do Cruesp, que reúne também os dirigentes da USP e da Unesp, ele afirma que as universida­des deverão estudar na semana que vem o impacto financeiro da decisão de Toffoli.

Colaborou Angela Pinho, de São Paulo

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Fernando Frazão - 10.nov.2019/Agência Brasil Estudantes fazem o segundo dia de provas do Enem no Rio de Janeiro; problema em correção pode afetar 1% dos participan­tes

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